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Colunista

Fernando José de Almeida

Professor de pós-graduação em educação: currículo na PUC-SP e secretário municipal de Educação da cidade de São Paulo (2001-2002)

Publicado em 05/08/2024

Escolas cívico-militares servem para quê?

E qual é mesmo a função da escola ou do colégio?

Uma de inspiração grega que estimulava a pensar livremente sobre os valores da vida e a origem e sentido das coisas e a latina, mais preocupada com a praticidade do que se aprendiz e fazia a junção de toda as ricas culturas dos povos conquistados. 

A depuração histórica da escola na sociedade ocidental moderna articula as duas finalidades. Quer ser prática e ativa, mas tem o compromisso de fazer pensar sobre a existência, sobre o futuro, as relações humanas e formar uma nova geração que conheça o que já foi cultivado pela história do ser humano. Toda a história, as geografias por onde viveu e que construiu, as artes que produziu, o que viveu em guerras que morticinaram tantos e tantos seres inocentes, as ciências que se acumularam nos tempos e que podem mudar a vida humana, para o bem e para o mal. Para distinguir o que é um bem histórico as novas gerações precisam pensar. Dialogar. Alterar-se. Conhecer melhor o outro. As escola-colégio buscam fazer isso.   

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A escola apresenta o que a família não consegue explicar de toda a complexidade do mundo cuja criança vai viver. Mostra-lhe que o mundo que não cabe na sua casa ou na sua cidade — e no modo como ela se expressa. Ela aprende na escola a ler e escrever. E ler e escrever o mundo de forma que todos a compreendam e ela possa compreender o todo do universo. Mostra que o mundo muda. Os dinossauros somem. Um ditador pode ser derrubado pelas leis.

A escola traz-lhes a oportunidade da apropriação do simbólico na escala mundo, como diz Douglas Santos, A palavra (falada e escrita), o número (a geometria, a álgebra), o mapa, as cores, a música, a gestualidade… (a prática esportiva, o teatro, o afeto, as artes, o convívio…).

Aí a profundidade amplia e o currículo escolar traz-lhes a dimensão ética, estética e moral das disciplinas. A escola mostra os males no mundo e como se indignar com eles. Na escola nasce o senso crítico. Crítico das guerras sujas, das violências, das fomes e das conquistas da cultura.

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A terra é plana? Foi criada a pouco mais de 6.000 anos? Ou é quase esférica (um geoide) e possui 4 milhões e 500 mil anos?

Será verdade que o melhor escravo é o negro, pois, ao ser surrado, sangra menos? (Geografia ensinada por Kant)

O “nome das coisas”; a “qualidade das coisas”: processualidade e identidade — substantivos, adjetivos e verbos — a construção frasal e a requalificação do ato de pensar. Tudo isso que a escola ensina tem sentido.

escolas cívico-militares

As agendas militarizantes da dimensão escolar valem — assim como as religiosas — para setores restritos da sociedade que não representam nem realizam a universalidade e o direito de todos (Foto: Shutterstock)

Mas, há outras modalidades de escolas 

As escolas talmúdicas, escolas católicas de formação de seminaristas, escolas de teologia islâmica e outras escolas confessionais religiosas cumprem importante função histórica, mas não se ajustam à função leiga, crítica e universalizante de uma agenda formativa da escola pública estatal de hoje. Os currículos especializados que constituem a alma das escolas religiosas são culturalmente preciosos, mas não como estruturantes de políticas educacionais de sociedades plurais e leigas. 

As agendas militarizantes da dimensão escolar valem assim como as religiosas para setores restritos da sociedade que não representam nem realizam a universalidade e o direito de todos. 

A defesa do território, os métodos de convencimento por armas, as pesquisas bélicas e os instrumentos de controle social necessários e valorizados para o estado de guerra ou contenção social não coadunam com os objetivos do desenvolvimento social universal da formação dos aprendizes. Eles não dariam conta da complexidade e do senso crítico necessários à construção de políticas universais dos currículos escolares. 

Seus nichos de interesse não contemplam o sentido universalizante do pensamento humano. A disciplina, a obediência, o cumprimento de ordens, o rigor não são os fins da educação. Eles são meios que se submetem a um bem maior da organização social e da formação das novas gerações que são o aprender, o conhecer outro, dialogar, o refletir, o respeitar o diferente, o raciocinar, o produzir projetos sociais de paz e convívio entre os seres humanos de todos os tempos e lugares.     

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