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Débora Garofalo

Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo

Publicado em 13/05/2024

BNCC da Computação: estratégias e diretrizes para adaptar suas aulas

Confira orientações para implantar a nova lei tendo como base a interdisciplinaridade e a preservação das interações humanas

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz diretrizes importantes sobre a utilização da tecnologia como uma das 10 competências de ensino e objeto de conhecimento a serem trabalhadas ao longo da educação básica, além de outros temas relevantes como a inclusão digital e seu uso crítico, ético e reflexivo.

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Recentemente, foi lançado o seu complemento, a BNCC da Computação, como é conhecida a normatização desenvolvida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), que orienta a implementação da Base, homologada em 2022. Esse documento estabelece normas relativas ao ensino de computação ao longo da escolarização no nosso país, com mudanças significativas para o processo de ensino e aprendizagem, normas que precisamos colocar em prática e fazer chegar às salas de aula.

Conhecer e compreender essas diretrizes e estratégias de uso é essencial para que os educadores adaptem suas aulas de forma eficaz e alinhada às novas necessidades dos estudantes e demandas educacionais. 

Um exemplo prático é o desenvolvimento do pensamento computacional, que envolve habilidades como resolução de problemas, raciocínio lógico e criatividade, sendo fundamental para a formação dos estudantes no contexto da sociedade digital e para a compreensão de como funciona um dado por detrás da informação. Outro exemplo relevante é a integração do ensino da programação e da robótica, com as demais áreas do conhecimento, exercitando a resolução colaborativa de problemas. 

BNCC da computação

Para adotar a BNCC da Computação de forma eficaz, é importante seguir algumas estratégias e diretrizes (Foto: Shutterstock)

Por dentro do documento

O parecer CNE/CEB 2/2022, homologado pelo Ministério da Educação (MEC), apresenta a resolução que estabelece diretrizes que definem o ensino de computação ao longo da educação básica, trazendo normas e um maior detalhamento no desenvolvimento de habilidades e competências pautadas nos eixos do mundo digital, da cultura digital e do pensamento computacional. 

A partir disso, iniciativas de formação dos educadores, de adequação curricular, elaboração e disponibilização de recursos didáticos devem ser criadas e dialogadas como políticas públicas nas redes de ensino e junto às unidades escolares, o que gera a necessidade de adaptação de aulas, currículos, estratégias e práticas pedagógicas e avaliações segundo a BNCC da Computação.

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Como se adaptar à BNCC da Computação

Para adotar a BNCC da Computação de forma eficaz, é importante seguir algumas estratégias e diretrizes. Aqui estão algumas orientações para realizar essa implementação:

  1. Tenha atenção a cada etapa da educação básica 

A BNCC da Computação traz diferentes orientações que variam de acordo com cada etapa da educação básica. Por exemplo, na etapa da educação infantil, a computação deve ocorrer de maneira lúdica. Já no ensino fundamental, deve ser trabalhada como uma maneira de explicar nosso mundo atual, estimular uma visão crítica e uma compreensão dos impactos na sociedade e no meio ambiente. No ensino médio, ela deve ser compreendida como uma ferramenta para o desenvolvimento de projetos e para que os estudantes tomem ações e resolvam problemas colaborativamente, usando a programação e a robótica. 

  1. Desmistifique o pensamento computacional

É preciso acabar com os mitos em torno do pensamento computacional. É comum que o associemos a dispositivos e à linguagem de programação. No entanto, ele abrange a mentalidade computacional que se relaciona ao pensamento crítico e permite a resolução de problemas, dialogando com o pensamento matemático. Os professores podem adotar algumas estratégias e abordagens. 

Veja algumas dicas para desmistificar e avançar nessa temática: 

  • Contextualize o conceito: explique o pensamento computacional de forma simples e contextualizada, utilizando exemplos do cotidiano dos estudantes, como sua rotina de estudo, a programação de uma viagem, uma charada, os passos de um jogo, entre outros. Mostre como o raciocínio lógico, a decomposição de problemas e a abstração estão presentes nessas situações. 
  • Promova a experimentação: encoraje os estudantes a experimentarem e explorarem o pensamento computacional por meio de atividades práticas e desafiadoras. Incentive a resolução de problemas complexos, a criação de algoritmos e a programação de computadores de forma gradual e progressiva, com softwares como o scratch que é livre, educacional, gratuito e que funciona na modalidade offline. 
  • Estimule a criatividade: mostre aos estudantes que o pensamento computacional não se limita apenas à lógica e à matemática, mas também envolve a criatividade e a inovação. Incentive a criação de soluções originais e a aplicação do pensamento computacional em projetos criativos e artísticos, usando do senso estético.
  • Faça conexões interdisciplinares: demonstre como o pensamento computacional pode ser aplicado a diferentes áreas do conhecimento, como Ciências, Matemática, Artes e até mesmo em atividades do cotidiano. Mostre aos estudantes a relevância e a versatilidade do pensamento computacional em diversos contextos.
  • Utilize recursos e ferramentas educacionais: integre ferramentas e recursos educacionais que facilitem a compreensão e a prática do pensamento computacional, como jogos, aplicativos, softwares de programação e kits de robótica associados a materiais de baixos recursos e recicláveis. Promova atividades interativas e colaborativas que estimulem a aprendizagem do pensamento computacional de forma dinâmica e envolvente.
  1. Trabalhe os pilares do pensamento computacional

O pensamento computacional está pautado em quatro pilares fundamentais e pode ser desenvolvido a partir do trabalho de habilidades e competências:

  • A decomposição, por exemplo, está relacionada à habilidade de dividir um problema complexo em partes menores e mais gerenciáveis para facilitar sua resolução;
  • reconhecimento de padrões, por sua vez, envolve a identificação de semelhanças e aspectos compartilhados entre diferentes questões, o que pode agilizar o processo de resolução;
  • A abstração funciona como um filtro, auxiliando na classificação de dados e informações essenciais para a solução de desafios;
  • Finalmente, o pilar do algoritmo refere-se à criação de instruções sequenciais para resolver um problema específico ou executar uma atividade determinada. 

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  1. Pratique a interdisciplinaridade

O conceito de interdisciplinaridade perpassa por toda a BNCC e orienta o seu complemento, em que se faz necessário integrar teoria e prática associando computação a outras áreas e projetos para tornar a experiência mais significativa para os estudantes e o conhecimento mais aplicável.

Um exemplo disso, na prática, é a criação de um projeto que envolva a produção de um jogo educativo sobre um tema específico, como a preservação do meio ambiente. Nesse projeto, os estudantes das disciplinas de ciências, geografia e tecnologias podem trabalhar juntos para pesquisar e entender os impactos ambientais, desenvolver o conteúdo do jogo e programar a sua versão digital.

Ademais, podem contribuir com informações sobre os ecossistemas, as espécies em extinção e as consequências da poluição, enquanto os estudantes de geografia podem fornecer dados sobre a distribuição geográfica dos recursos naturais e as mudanças climáticas. Já os estudantes das aulas de tecnologia podem aplicar seus conhecimentos de programação para desenvolver o jogo, criando desafios e atividades que estimulem a sensibilização ambiental.

Nesse contexto, a interdisciplinaridade permite que os estudantes integrem diferentes áreas do conhecimento, desenvolvendo habilidades cognitivas, sociais e emocionais de forma contextualizada e significativa. Ainda, o projeto estimula a criatividade, a colaboração e a resolução de problemas, promovendo uma aprendizagem mais ampla e enriquecedora que atende aos objetivos da BNCC da Computação.

  1. Combine a BNCC da Computação e as metodologias ativas

Para realizar essa combinação, é importante adotar práticas pedagógicas que incentivem a participação ativa dos estudantes no processo de aprendizagem. Uma maneira de fazer isso é por meio de projetos interdisciplinares que abordem temas relacionados à tecnologia da informação e comunicação, permitindo que os estudantes desenvolvam habilidades práticas e críticas enquanto trabalham em equipe para resolver problemas reais.

Além disso, a utilização de recursos tecnológicos e ferramentas digitais pode enriquecer as atividades de aprendizagem, proporcionando aos discentes a oportunidade de explorar diferentes possibilidades e ampliar seus conhecimentos de forma autônoma. Os professores também podem adotar estratégias como a sala de aula invertida, o aprendizado baseado em projetos e a gamificação, que estimulam a colaboração, a criatividade e a resolução de problemas.

Avaliação formativa

Outra forma de integração ocorre por meio da avaliação formativa, que permite acompanhar o desenvolvimento dos estudantes de maneira contínua e personalizada, identificando suas dificuldades e oferecendo suporte individualizado. Ao promover uma aprendizagem mais significativa e contextualizada, essa abordagem contribui para o desenvolvimento das competências e habilidades previstas na BNCC, preparando os estudantes para atuarem de forma crítica e responsável no mundo digital.

Adotar a BNCC da Computação na sala de aula é ofertar aos estudantes ferramentas para decodificar e hackear o mundo digital em que vivemos, capacitando-os a serem agentes de transformação e inovação em uma sociedade cada vez mais tecnológica em que precisamos preservar as interações humanas.

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