NOTÍCIA
Formação continuada de qualidade e alinhada às habilidades socioemocionais é fundamental. Confira as considerações de Cléa Ferreira, do Centro de Formação da Vila, e do presidente do Instituto iungo, Paulo Andrade
Quais habilidades um bom educador precisa ter para cativar seus alunos e nutrir uma convivência amigável com os colegas de profissão? “Um bom educador é aquele que consegue assegurar o direito de aprender a todos e a cada um dos seus estudantes, sem deixar ninguém para trás, independentemente de sua condição social, racial, de gênero, física, neurológica”, constata Cléa Ferreira, coordenadora do Centro de Formação da Escola da Vila, em SP.
Cléa afirma que as condições institucionais também são indispensáveis para que o educador possa garantir a aprendizagem. Se entender e atuar como sujeito aprendente são também habilidades que um bom educador precisa ter.
Já para Paulo Andrade, presidente do Instituto iungo, a excelência, a ética, o engajamento e a empatia são dimensões essenciais para caracterizar um bom professor. A afirmação vem de sua pesquisa de doutorado na Faculdade de Educação da USP, que ouviu 286 professoras e professores de todas as regiões geográficas do país e trabalhou com o conceito de bom trabalho, proposto por Howard Gardner, William Damon, Mihaly Csikszentmihalyi e seus grupos de pesquisa. Segundo esse conceito, um bom profissional, independentemente da área em que atua, se desenvolve em três dimensões (excelência, ética e engajamento.)
“A excelência está ligada à qualidade do trabalho do professor. A ética diz da responsabilidade do professor, tanto em relação à profissão docente quanto à promoção do desenvolvimento de todos os estudantes, uma responsabilidade em promover aprendizagem com equidade. O engajamento refere-se ao sentido que o professor atribui ao seu fazer docente e ao sentimento de realização que toma conta dele ao verificar as repercussões do seu trabalho na sua própria vida e na vida das demais pessoas. A empatia, por fim, é a capacidade de sentir o sentimento do outro, de estabelecer um vínculo de cuidado, de compromisso com a vida e o contexto dos alunos”, explica Paulo Andrade.
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‘Atualmente, o que é ser um bom educador?’ é o título do painel desta quarta, 24, na Bett Brasil* 2024. Cléa Ferreira e Paulo Andrade estarão presentes. Será às 16h, no Fórum de Gestores.
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A formação é aspecto-chave do desenvolvimento profissional de um professor e, como nos lembra António Nóvoa, da concretização de toda transformação que se queira realizar no campo da educação, destaca Paulo.
Ele cita o estudo coordenado por Gabriela Moriconi, da Fundação Carlos Chagas, que sinaliza que uma formação continuada eficaz tem duração prolongada (não há consenso de tempo de duração), adota foco no conhecimento pedagógico de conteúdo (aprender sobre como os estudantes aprendem determinado conteúdo), utiliza métodos ativos de aprendizagem, pressupõe participação coletiva (professor aprendendo com professor) e guarda coerência com as diversas políticas educacionais.
Saber articular a teoria e prática, dar ênfase à dimensão crítico-reflexiva, que caracteriza o professor-pesquisador, de modo que ele se veja como sujeito produtor de conhecimento e focar na formação no contexto da escola, de modo que os desafios, dilemas, necessidades, interesses, realidades vividas pela comunidade escolar sejam trabalhados em situações de formação, são outros aspectos importantes na formação continuada.
De acordo com Cléa Ferreira, são múltiplas as habilidades necessárias para atuar dentro da escola e essas vão mudando em função dos contextos e dos atores, porém, saber se adaptar, criar um ambiente acolhedor, inspirar e promover o sentimento de autoconfiança são condições fundamentais para educar.
Depois do professor, o gestor exerce um grande papel de influência nos resultados de aprendizagem dos estudantes. Porém, a formação por si só não resolve. É preciso que esse profissional desenvolva a capacidade de mobilizar os conhecimentos construídos na formação para assim mover a escola na direção do seu propósito fundamental, que é assegurar o direito de aprender a todos e a cada um.
Dito isso, a formação desse profissional deve integrar a teoria e a experiência, contextualizando “o conhecimento de modo que os gestores possam relacionar o que seria um conhecimento abstrato à sua realidade e a outras que ainda não conhecem, mas são mobilizados a conhecer e transformar para centrar seus esforços nas atividades de ensino”, pontua Cléa.
Saber lidar com as tecnologias e administrar a exposição dos alunos à inteligência artificial (IA), por exemplo, são outras habilidades que o gestor precisa dominar. O profissional também precisa ter a capacidade de tornar as diferenças e necessidades como valores que enriquecem as experiências de aprendizagem.
“Ter abertura, diálogo e reciprocidade como base das relações, o que presume que o educador precisa partir do princípio de que todos temos conhecimentos e experiências e que a sala de aula — e todos os demais espaços de aprendizagem da escola — são lugares de encontro desses conhecimentos, experiências e sujeitos que têm história, memória e corpos diversos e ricos de possibilidades”, finaliza Cléa Ferreira.
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Bett Brasil
*A Bett Brasil é o maior evento de educação e tecnologia na América Latina. Em 2024, acontece de 23 a 26 de abril, no Expo Center Norte, SP. E nós, da Educação, estamos fazendo uma cobertura especial. Clique aqui para ficar por dentro de tudo.
Nossa cobertura jornalística tem o apoio das seguintes empresas: Epson, International School, FTD Educação, Cricut e NR.
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