NOTÍCIA
A formação para conhecerem as práticas e políticas educacionais do país possibilitou o contato com escolas inspiradoras
Publicado em 26/07/2023
Educadoras brasileiras da rede pública tiveram a oportunidade de conhecer as práticas educacionais do Chile: participaram de oficinas temáticas na Universidade de Diego Portales (UDP), em Santiago, conheceram escolas públicas e particulares e entenderam os sistemas educacionais chilenos.
A imersão ocorreu entre 4 e 10 de julho e fez parte do curso Liderança Educacional, do Centro de Formação da Vila, ministrado pela professora Ruth Arce, da Universidade de Diego Portales. Proporcionada pela ONG Conectando Saberes, participaram da formação 10 coordenadoras regionais da organização.
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Segundo a coordenadora regional do Centro-Oeste, Ana Élen Moitinho, do núcleo de Brasília, Distrito Federal, “o sistema pedagógico chileno se beneficia de parcerias entre instituições educacionais e movimentos como o Elige Educar [movimento chileno que realiza campanhas e pesquisas para a valorização social da profissão docente]. No Brasil, podemos buscar parcerias semelhantes, unindo esforços entre escolas, universidades, organizações da sociedade civil e movimentos que promovam a valorização da profissão docente e a melhoria da educação”.
Ao contrário do Brasil, em que a educação pública é financiada pelos governos por meio de recursos públicos, no Chile existe um sistema de financiamento misto, com uma parte significativa dos recursos vindo do setor privado e das famílias, que possibilitam um investimento maior em políticas públicas que valorizam a profissão docente e tentam combater as desigualdades.
“O sistema busca atender às necessidades de todos os alunos independentemente de suas habilidades, origens ou condições socioeconômicas. São adotadas estratégias e recursos pedagógicos que permitem a adaptação do ensino para garantir que todos os alunos tenham acesso a uma educação de qualidade. Isso inclui a implementação de programas de educação especial, a promoção de ambientes inclusivos e a capacitação de professores para lidar com a diversidade de alunos”, explica Ana.
Juliana Santiago, coordenadora da região Sudeste, do núcleo de Lavras, em Minas Gerais, também destaca que o avanço de políticas públicas no Chile procura abraçar a diversidade. “A escola pública que visitei situada na região metropolitana de Santiago, por receber muitos alunos em situação de vulnerabilidade social, recebe verbas adicionais. A gestora, por sua vez, pode destinar parte do recurso para a contratação de profissionais extras. Por exemplo, eles têm uma enfermeira, uma assistente social e uma psicóloga. Uma situação bem distinta da nossa realidade”, relata.
Além disso, os estudantes de baixa renda também conseguem estudar em escolas particulares por meio de vouchers, que são como bolsa de estudos, e possuem um incentivo para estudar o ensino superior, que pode ser visto como um dos métodos de valorizar a profissão docente. Contudo, aqui no Brasil esse modelo de voucher é visto de maneira controversa.
A educação no Chile procura oferecer mais opções de formação como a Carreira Docente, uma formação integral e especializada dos professores que tem uma etapa de indução para os novos professores, proporcionando um período de acompanhamento e suporte durante os primeiros anos de atuação profissional. Os chilenos também trabalham com uma extensão prática nas salas de aula.
“Essa abordagem permite que os estudantes experimentem e apliquem as teorias aprendidas em um contexto real, adquirindo habilidades práticas e desenvolvendo uma compreensão mais profunda da dinâmica educacional”, detalha Ana.
Escute nosso episódio de podcast:
A coordenadora regional do Sul, Daniele Pereira Machado, do núcleo de Castro, no Paraná, reforça que o Chile tem políticas públicas focadas na valorização docente e no acompanhamento do trabalho, atuando com qualidade na mentoria para qualificar os educadores.
“Foi muito citada a carreira do professor comparada com a de um médico, em que os professores precisam da vivência e experiência, na prática, para conduzir aulas potentes para os alunos. Ficou visível que essa valorização na carreira traz ao professor um compromisso diário de qualidade”, conta Daniele.
Com um trabalho voltado para mentoria em sala de aula, prática que observou durante a imersão, Daniele pretende potencializar em sua rede o exercício de ter um olhar mais criterioso e que apoie a aprendizagem constante, para que os jovens tenham um retorno mais significativo da aprendizagem.
Já Audaci Maria, coordenadora da região Nordeste, do núcleo de Recife, em Pernambuco, pretende incentivar na sua rede a importância do investimento na formação docente. “Trago para a minha realidade brasileira a vontade de colocar no debate cotidiano do meu trabalho a importância do investimento na formação inicial e continuada dos professores com fundamentação científica robusta e que considere as necessidades que os professores identificam no cotidiano de trabalho. Outro aprendizado que trago é que podemos também apoiar a criação de outros grupos/movimentos que apoiam o trabalho da educação pública brasileira. Esses grupos podem fortalecer o debate e, por exemplo, fazer parcerias com universidades brasileiras para apoiar a formação inicial dos futuros professores”, aponta.
Dalila Maitê Rosa Sena, coordenadora da região Norte, do núcleo de Ji-Paraná, em Rondônia, teve a oportunidade de visitar a Escola Karol Cardenal de Cracóvia. Ela observou que os estudantes têm uma participação mais ativa nas decisões, sendo corresponsáveis pela organização da instituição, deixando o professor como mediador do conhecimento.
“A organização da escola é feita utilizando o método político no sentido de que cada sala de aula é como se fosse uma cidade, tendo um prefeito eleito pelos estudantes e todas as crianças possuem cargos, promovem votações, escrevem, aprovam projetos. Elas são responsáveis pela parte da organização da sala de aula, pelas relações com as famílias. O diretor deixou bem claro que os conteúdos curriculares como matemática, português, acontecem também, só que eles prezam os valores da escola: autonomia, respeito, diálogo, participação e o desenvolvimento da liderança dos estudantes”, explica Dalila.
A Conectando Saberes é uma ONG que procura trazer o professor para o centro das discussões sobre educação básica no Brasil. Composta por mais de 600 docentes, divididos em 73 núcleos, espalhados pelas cinco regiões do Brasil, a organização promove encontros e trocas entre os núcleos.