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Débora Garofalo

Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo

Publicado em 21/12/2022

Por uma educação humanizadora

Como ressignificar a escola? Débora Garofalo elenca caminhos e, assim, aproximar a escola de uma educação humanizadora

A escola tem um vínculo profundo com a sociedade e deve ir além do conhecimento, uma vez que tem a oportunidade de contribuir efetivamente para a melhora da sociedade, atuando para o desenvolvimento e competências socioemocionais do indivíduo.  

Esse é um assunto que parece óbvio, mas que requer atenção. Não adianta pregarmos humanismo e submeter o estudante em quantidades imensas de avaliações e trabalhos por bimestre e/ou trimestre para avaliar o seu conhecimento, não dando o devido tempo para que possa receber o conteúdo e fazer uso dele em sua vida cotidiana.


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É necessário buscarmos indicadores que nos auxiliem a fazer uma leitura adequada do que a escola está proporcionando às crianças e jovens, alinhando as necessidades deles e para que exerçam protagonismo, sustentabilidade, relações, diferenças culturais e equitativas.

A escola precisa se ressignificar de fato e exercer valores humanizadores, dotar os estudantes para ações que despertem a criatividade, o senso crítico, cuidar e zelar da saúde mental, olhar para a tecnologia como ferramenta, mas também como objeto de conhecimento que pode contribuir para uma mudança cultural e com comportamentos referenciais.

Estudos recentes realizados pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo mostra que a cada quatro crianças, uma apresentou ansiedade e depressão durante a pandemia com níveis clínicos, ou seja, com necessidade de intervenção de especialistas. Com o retorno ao presencial a quantidade de avaliações e trabalhos na aprendizagem se multiplicaram para recuperar e recompor o ensino, que tem gerado ansiedades nos estudantes e em professores, sendo necessário rever a prática pedagógica.  

E como ressignificar a escola? A seguir elencamos possibilidades para que isso possa ocorrer.

 

Sensibilização e acolhimento

A escola precisa ser acolhedora e para isso deve sensibilizar os seus atores e comunidade ao entorno, trazer e debater temas transversais, discutir sobre estudos de casos da própria comunidade, deixar os órgãos participativos realmente atuarem, criar grupos de mediação de conflitos, dar legitimidade aos seus grêmios, tecer programas extracurriculares, apresentar e avaliar o currículo de maneira diferenciada. 

Deixar a comunidade escolar debater e analisar argumentos e valores de ética a partir de uma relação dialógica, agindo com sensibilidade e consciência para ressignificar suas práticas pedagógicas, mas também rever sua postura no que tange o desenvolvimento integral do estudante.


Leia: 5 coisas que você precisa saber sobre a BNCC da Computação (coluna Débora Garofalo)


Humanização

Ao longo da nossa história, a escola moderna chegou de maneira tardia. Até a Primeira República, a escola era privilégio de poucas pessoas, tivemos uma expansão de escola, mas pautada na mediação do trabalho. Nesse sentido, humanização é o equilíbrio entre o conhecimento, mas desenvolvimento de projeto de vida dos estudantes. A escola precisa ser o lugar em que os estudantes brinquem e aprendam de maneira significativa a trabalhar com valores em exercício do seu desenvolvimento integral, exercendo inclusão e equidade.  

Temos vários documentos que reforçam isso, como o Plano Nacional de Educação (PNE) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em uma perspectiva que a escola possa produzir um espaço para a construção do ser humano autônomo, criativo, respeitoso e feliz. Precisamos exercitar no chão da escola esses documentos.

Educação tecnológica

A educação tecnológica não pode ser reduzida apenas ao manejo de equipamentos e ferramentas. A escola tem o papel de produzir critérios para que os estudantes não sejam consumidores, mas produtores de tecnologia e que a use para o seu desenvolvimento humano, por isso, o seu uso dentro das unidades escolares precisa ser dimensionado com o objetivo do desenvolvimento integral dos estudantes.

A palavra ‘tecnologia’ vem da tékhnē, em grego, e logía, que é pensamento. Significa saber fazer e pensar. Entretanto, as escolas têm usado tecnologia como técnica e não têm conseguido interpretar a segunda parte da palavra, que é a logía, que vem de lógos, pensamento, reflexão. Precisamos oportunizar o uso da tecnologia como ferramenta propulsora ao processo de ensino e aprendizagem e conhecimento como forma eficaz de ressignificar o ensino.

A educação humanizadora é um vínculo profundo que a escola precisa fazer com a sociedade no que tange o desenvolvimento integral do ser humano, precisamos exercitar documentos na prática como a BNCC e nos livrarmos de velhos paradigmas do passado para que possamos avançar e olhar a escola como forma para a cidadania e a humanização.

Escute nosso episódio de podcast:


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