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Débora Garofalo

Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo

Publicado em 12/07/2022

Ao invés de guerra ideológica, precisamos dar luz e priorizar a educação

É preciso priorizar a educação e promover políticas públicas que resolvam problemas e apoiem efetivamente o processo de ensino e aprendizagem

schoolgirl-having-a-good-time-with-the-teacher Foto: Envato Elements

A pandemia trouxe graves consequências em muitos campos que envolvem a população, seja na economia, na saúde, ou no âmbito social. No campo da educação, por sua vez, temos profundos déficits de aprendizagens, com previsões não muito promissoras para a recuperação deste processo a longo prazo, não apenas no campo cognitivo, mas, também, no campo emocional. 

Neste momento, estados e municípios se esforçam na realização da busca ativa, assim como a recuperação da aprendizagem, programas sociais, formação docente, em que são necessárias tanto a inclusão de novas metodologias ativas, quanto o uso de tecnologias educacionais.  


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Antes mesmo da pandemia, já era vista uma profunda desigualdade educacional. Estudos realizados pela Fundação Getulio Vargas apontam que 55% das crianças do 3º ano dos anos iniciais não se alfabetizaram. Outro estudo importante feito pela Varkey Foundation com 35 países, coloca o Brasil no ranking quando o assunto é a desvalorização docente, um fator extremamente alarmante. Já o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), mostra que o Brasil aparece como o segundo país mais desigual entre os 79 países participantes do exame. Inclusive, este ano terá uma nova edição, que medirá competências e habilidades socioemocionais híbridas como a criatividade e o pensamento crítico. 

Além disso, um estudo amostral voltado ao cenário da pandemia e realizado pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF) envolvendo estudantes do 5º e o 9º anos do ensino fundamental e a 3ª série do ensino médio, no início do ano letivo 2021, junto à Secretaria Estadual da Educação (Seduc-SP), demonstrou que crianças e jovens regrediram em seus estudos, com as maiores diferenças de escalas no âmbito do ensino de matemática. 

Um pouco deste modelo que vivenciamos atualmente é uma herança direta do modelo educacional do início do século 20, com uma modelagem tecnicista e expositiva que não corresponde e nem atende as necessidades e interesses contemporâneos. 

Ainda caminhamos para uma educação holística e temos marcas de uma educação analógica que não prioriza a interpretação, a reflexão, e a valorização docente, diante de um mundo totalmente digital em que os estudantes têm acesso a inúmeras informações. Nossas escolas estão inseridas neste contexto, que foi agravado pelo cenário da pandemia e pela ausência de recursos e infraestrutura a educação brasileira. 

No entanto, nem tudo são estagnações, tivemos avanços importantes, como a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que definiu um norte para a educação brasileira e instituiu o trabalho a partir de habilidades, com uso das tecnologias como competência de ensino e o desenvolvimento das habilidades socioemocionais. Temos avançado nos anos iniciais e finais comprovadamente nas últimas cinco edições do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e no ensino médio, em 2019, em que tivemos um pequeno salto, que pode ser considerado uma vitória na educação, merecendo ser reconhecido e celebrado, mas que pode ser perdido pela pandemia e merece nossa atenção.

Ainda temos muitos desafios a serem superados, tendo em vista que apenas 9,1% dos estudantes estão concluindo o ensino médio com conhecimentos desejáveis em língua portuguesa e matemática. 

Com relação à infraestrutura, ela é insuficiente, já que 49% das escolas brasileiras não possuem saneamento básico, conforme dados do Censo 2018, demonstrando a ausência de quadras poliesportivas, conectividade, espaços de fomento a inovação e ciências, entre outros elementos que beneficiam o processo de ensino e aprendizagem. 

É nítida a crise de aprendizagem e das desigualdades educacionais, que foram agravadas com uma crise no Ministério da Educação, noticiadas inúmeras vezes nos últimos tempos. Não houve avanços no campo das políticas públicas, havendo ainda o recuo nas verbas das ciências e, consequentemente, com mais cortes à educação – com a redução do ICMS de gasolina e diesel, energia e internet, anunciados pelo governo federal nos estados do território brasileiro, com isso, alguns governadores demostram preocupação com a arrecadação que podem impactar em verbas na educação para que essa conta feche, o que contribui para o abismo da educação, rejeição do conhecimento e exclusão de estudantes a uma educação com qualidade e equidade.   

É necessário dar luz e priorizar a educação ao invés de fazer guerra ideológica com ela, e promover políticas públicas que resolvam problemas e apoiem efetivamente o processo de ensino e aprendizagem já que as causam são sabidas, sendo necessárias combatê-las, com uma transformação profunda da educação olhando para as urgências de aprendizagem no Brasil.

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