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Damaris Silva

Mestre em letras e consultora de gestão de projetos educacionais para redes públicas e privadas de ensino

Publicado em 13/10/2021

Quanto conhecimento se perde por conta de um vírus?

A perda de capital humano de vidas que se foram e que tinham como objetivo contribuir com a educação - já tão machucada – brasileira

covid-vidas-perdidas Foto: Envato Elements

Diversos estudos vêm sendo realizados acerca das sequelas da pandemia na educação, outros sobre esse efeito na economia. Recentemente, o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV) analisou esse impacto sobre o capital humano no Brasil. Para isso, os pesquisadores Claudio Considera e Juliana Trece organizaram dados voltados ao rendimento mensal das pessoas que se foram, acrescidos do quanto elas poderiam produzir e gerar para a economia, dado o recorte etário e a projeção de anos em que teriam rendimento até o seu falecimento.

Um dos resultados obtidos mostra um impacto de R$ 8,4 bilhões no ano, considerando pessoas entre 20 e 69 anos. A estimativa nos dá pistas da tragédia a qual estamos vivenciando, sob a perspectiva econômica. Entretanto, para além desses valores, o estudo aponta para o capital humano perdido junto com a covid-19. O economista Claudio Considera esclarece que todas essas vidas perdidas tinham certas habilidades e saberes que, adquiridos ao longo da vida, poderiam ser utilizados e transmitidos, deste modo, perde-se também conhecimentos acumulados que poderiam gerar renda para si, para seus dependentes e para o país.


Leia: Professores: saúde mental fragilizada e a desvalorização como regra


Educação, covid  e as perdas

Apesar de a pesquisa não trazer um recorte das profissões abarcadas nas mortes pela covid, sabemos que muitas delas eram de educadores, e sob esse olhar, o capital humano perdido junto com a vida de um professor impacta toda a comunidade escolar. Essas vidas ainda poderiam produzir rendimentos, mas, sobretudo, ensino, aprendizagem, relações, afeto. Há, portanto, uma perda muito simbólica para a educação: foi-se um contingente de capital humano do qual necessitamos enormemente.

Nesta coluna de outubro, em homenagem aos profes­sores, cito Alberto Roberto Costa, uma história gigante que aos 43 anos, foi subtraída na pandemia. Docente na rede pública do Distrito Federal, Alberto teve sua trajetória marcada pela luta pela justiça social e contra o racismo. Sua dissertação de mestrado virou livro, A escolarização do corpus negro: Processos de docilização e resistências nas teorias e práticas pedagógicas no contexto de ensino-aprendizagem de artes cênicas.

Viés de resistência

A obra de Alberto investiga a inserção do corpus negro no currículo de artes do ensino fundamental do DF, numa análise que, acrescida de sua experiência docente, evoca o enfrentamento ao racismo e reforça as questões afro-brasileiras na sala de aula sob o viés da resistência. Em sua conclusão, Alberto afirma: “(…) tentei romper os enfileiramentos e propor outra dinâmica para as aulas. Tentei reencantar a escola pela força e magia da estética afro”.

Deixo aqui uma homenagem ao professor Alberto e a todos os educadores que se foram. Em memória às lembranças das aprendizagens que ficaram como um conforto à imensurável dor das perdas e a esperança de que o reencanto acometa a todos nós, em busca de dias melhores.

Damaris Silva é mestre em letras e especialista em gestão escolar.

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