Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo
Publicado em 09/10/2021
A busca ativa tem um papel essencial à educação que é apoiar no enfrentamento da evasão e exclusão escolar tanto na esfera pública como na privada. Ela pode ocorrer de muitas maneiras e envolver algumas ações que discorremos neste artigo
Dados alarmantes da pesquisa do Instituto Datafolha, realizada entre novembro e dezembro de 2020, demostra que cerca de 2 milhões de estudantes da educação básica abandonaram a escola. A taxa de abandono foi de 4,6% no ensino fundamental e 10,8% no ensino médio. Em 2019, o índice foi de 1,2% e 4,8%, respectivamente, de acordo com dados oficiais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Ainda de acordo com a pesquisa, 11,4% dos(as) estudantes do ensino fundamental que abandonaram a escola não pretendiam retornar. No ensino médio, a taxa dobra (25,8%). Assim, os motivos apontados pelos estudantes para o abandono escolar na pesquisa, foram: problemas financeiros, dificuldades com o ensino remoto ou mesmo falta de aulas.
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Aliás, em muitos municípios brasileiros, uma forma de tecer a busca ativa foi a visita domiciliar dos profissionais da educação à casa do estudante, traçando diagnóstico e um diálogo com os familiares para identificar as causas e dificuldades de acompanhamento na unidade escolar. Uma atitude simples, mas eficaz, que possibilitou uma série de ações a estes estudantes.
Outra forma, foi o envio de mensagens através de SMS (serviço de mensagens curtas) e/ou WhatsApp (mensagens instantâneas), que buscava saber sobre os estudantes e suas condições de estudo e sua ausência nas aulas remotas, assim como forma de mitigar a situação e o possível abandono.
Com o retorno presencial e a crise econômica ocasionada pela covid-19, é necessário identificar as ações para evitar a evasão escolar. Como vimos na pesquisa, muitos dos estudantes, em especial os de ensino médio estão abandonando a escola para auxiliar os familiares e é neste momento que a busca ativa, se torna tão importante a educação. Uma série de medidas podem ser tomadas para auxiliar na busca ativa, confira algumas.
A busca ativa ocorre de diversas maneiras – por meio de diálogos, roda de conversa, diagnósticos, interação com as famílias, entre outros. O professor precisa criar uma cultura em suas aulas que permita que esses momentos estejam presentes, o que pode ocorrer em um acolhimento, com músicas, trechos de filmes, leituras de textos, um momento para que os estudantes possam conversar, trocas experiências e compartilhar anseios e angústias e até desenvolver projetos integradores. Outra maneira é a abordagem de metodologias ativas e suas modalidades que traz personalização ao ensino.
Outra possibilidade é por meio da formação de grupos estudos entre os discentes, para que assumam o papel de protagonistas do processo de ensino e aprendizagem, auxiliando seus pares em grupos, preparando-os, assim, para o papel de mediador do conhecimento adquirido e que possam ser os responsáveis pela busca ativa em sua própria unidade escolar.
Para muitos professores, esse é um “trabalho de formiguinha”, mas com resultados excepcionais, porque aproxima a escola da família, articulando possibilidades para encontrar e monitorar crianças e jovens que estejam em risco de evasão e ou fora da escola, contribuindo para o seu retorno as salas de aulas.
A escola precisa ser ativa e para isso, considerar o conselho de escola, conselho da APM (Associações de Pais e Mestres), grêmios estudantis e apresentar a estes colegiados a necessidade pedagógica e discussão de casos de abandonos – como medidas para mitigar o abandono escolar.
Do mesmo modo, em algumas unidades escolares é possível conhecer projetos que estão pautados no PPP (Projeto Político Pedagógico) das unidades escolares e que são guiados pelos estudantes, através dos grêmios juvenis e trabalhos direcionados com foco na evasão e exclusão escolar. Sendo assim, esses colegiados têm um papel essencial de ofertar melhores condições à educação e aos estudantes, sensibilizando da importância do processo de ensino e aprendizagem na vida de cada um.
A gestão escolar também possui um papel importante neste processo, desde a promover formações continuadas com os docentes, a conversas em horários coletivos com os professores e a identificação de casos em situação de evasão e não participação das aulas sempre com intuito de acolher famílias, crianças e jovens.
Junto aos docentes é preciso criar estratégias e alimentar dados baseados nas aulas, visitas domiciliares, criar alertas e realizar conversas com familiares e estudantes, gerenciar formulários impressos e ou digitais para que professores possam preencher e identificar possíveis casos que merecem atenção especial.
A tecnologia precisa ser encarada como uma propulsora ao processo educativo e uma aliada para auxiliar neste processo, com reuniões hibridas e que envolva os colegiados, apresentando dados gerados, com organização de demandas, criações de grupos de mensagens instantâneas com familiares e estudantes para facilitar o acompanhamento, além de criações de plantões online com feedbacks.
A Busca Ativa Escolar é uma plataforma gratuita lançada pelo Unifef para ajudar municípios e estados a combater a exclusão escolar. A plataforma pode ser acessada de qualquer dispositivo e permite a impressão de formulários para agentes e técnicos sem acesso a dispositivos móveis
Os incentivos podem ocorrer de diversas maneiras, desde a aulas interativas e personalizadas, a programas realizados em parceiras para mitigar possíveis casos, que contem com uma cadeia de apoio à educação, como assistência social, saúde, segurança, esporte, cultura, lazer, Conselho Tutelar, Vara da Infância e o Conselho Municipal/Estadual de Educação.
Este é um momento necessário que requer atenção e a participação dos diversos atores para reverter a exclusão e o abandono escolar, com olhar intersetorial para promoção de ações articuladas sobre questões que envolvem não só estudantes e a escola, mas a família e os problemas sociais.
Até a próxima.
Débora Garofalo é a primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo