ARTIGO
Escritora e ilustradora, Renata Bueno fala sobre a criação de narrativas para os pequenos e defende a importância de colocar sentido naquilo que é lido ou desenvolvido com os alunos
Publicado em 20/10/2020
O desenho para a escritora e ilustradora de livros infantis Renata Bueno é uma ferramenta para entender o mundo. Não à toa, Bueno é formada em arquitetura e é também artista plástica. Mesmo adulta, continuou apreciando livros infantis — uma de suas grandes paixões — e se deliciar com a liberdade da imaginação infantil.
Quando ainda não era escritora, fato que aconteceu com a publicação de Autorretrato (ed. Larousse), em 2009, ela já era ilustradora e hoje, costuma aplicar em suas obras ambos os talentos. “Antes de escrever o texto eu faço os desenhos, quase que um esqueleto porque eu penso muito através dos desenhos”, conta Renata Bueno, cuja inspiração chega à noite. Tanto que o papel para anotar suas ideias repentinas fica ao lado da cama.
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Indagada sobre como dialogar com o imaginário dos pequenos para criar suas próprias histórias, a escritora e vencedora do Prêmio Jabuti 2013 na categoria “didáticos e paradidáticos” pelo livro Poemas Problemas (ed. do Brasil), explica que se volta para si e não pensa que está escrevendo para crianças. “Muitas vezes eu lembro da minha infância”, diz.
A saber, sua mais nova coleção, Aqui e Acolá, lançada este ano pela editora FTD Educação, é composta por quatro livros: O espelho, O varal, A balança e O túnel. Voltados para a educação infantil e fundamental 1, Renata Bueno escreveu os quatro livros e ilustrou A balança.
“Essa coleção tem a ver com experiências que tive com a minha mãe. Eu falo muito, por exemplo, que meus livros são livros brinquedos, livros de experiências. Pegar um espelho, uma balança e brincar. Vou estender o varal e brincar com isso. São livros que provocam a uma brincadeira”, detalha Bueno, que entende esse resgate da infância como uma maneira de reforçar que o ser humano pode estar sempre se divertindo.
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Da mesma forma que o desenho tem um grande impacto na vida de Bueno, os livros infantis também são uma maneira da criança se relacionar com o mundo, bem como despertar nos meninos e meninas a curiosidade do que acontece ao seu redor. Seja com o encontro de um passarinho no varal, seja em uma atividade familiar cujas reações das pessoas frente a um espelho se torna um grande espetáculo. Ou seja, o aprender está em todo o canto, inclusive quando se desperta a imaginação infantil.
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Voltando às brincadeiras, aguçar a imaginação infantil também é um ato de brincar. Uma amiga de Renata Bueno disse uma frase que fez muito sentido para ela: “você nunca deve ler um livro para uma criança o pegando pela primeira vez. Primeiro leia para você e depois para uma criança. Isso faz toda diferença.”
Nesse meio tempo, Bueno experimentou o conselho com seu filho, hoje com 10 anos, e entendeu que quando há ausência de uma leitura prévia, não se cria expectativa. “Agora, se você pega o livro antes e entra na história, quando for ler par uma criança você vai se doar de um jeito diferente e ela vai perceber, com certeza”, defende.
“Se nós formos leitores atentos e sensíveis, quando lermos para o outro conseguiremos transformar o que queremos de uma forma mais verdadeira”, acrescenta Renata Bueno.
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A maioria das obras de Bueno são trabalhadas nas escolas e ela adora quando o professor explora o universo que ela apresenta no livro e disso surgem, por exemplo, recriações, novas descobertas. “Tenho um livro que se chama Misturichos,da Martins fontes, em que há uma brincadeira de bichos feitos a partir de recortes. Já recebi contato de escolas que fizeram o mesmo processo e me enviaram bichos diferentes. Quer dizer, o professor não pediu para, simplesmente, os alunos copiarem as ilustrações do livro”.
Sendo assim, Renata Bueno entende esse processo de explorar o que lhe é oferecido como um estímulo para descobertas. “É chocante essa diferença [entre o professor que recria com o que copia] e saber que a gente pode ter escolas dos dois jeitos. É isso, faz diferença o professor que consegue ler a obra com atenção e cuidado”, afirma.
Há quatro anos morando em Portugal, em resumo, a escritora que não se reconhece como ilustradora e sim como uma artista visual, continua com a mão na massa. Está finalizando um projeto com uma editora francesa, projetando um livro só de colagens e dando os primeiros passos para um curta-metragem com foco em narrativas junto a seu marido.
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