ARTIGO
A importância do brincar é destaque deste artigo de Leo Burd, diretor-executivo da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa
Publicado em 24/04/2020
Por Leo Burd*
A pandemia do coronavírus está levando crianças, jovens e seus familiares a conviverem mais. A suspensão das aulas nas escolas e os ajustes de rotina devido ao isolamento social compulsório abriram a oportunidade para o encontro e para a conexão no ambiente residencial. Está aí uma chance de resgatarmos e experimentarmos novas formas de aprender e de conviver em família. Para isso, nada melhor do que brincar!
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Brincar conecta. Brincar ensina. Cada um se conecta consigo e com os demais, e todos aprendem. Por isso, o Programa Aprendizagem Criativa em Casa (aprendizagemcriativaemcasa.org), da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (RBAC), convida famílias e a comunidade escolar a mergulharem em atividades mão na massa para inventarem e compartilharem projetos significativos e colaborativos, de forma livre e divertida, usando materiais, ferramentas e espaços que já integram o seu cotidiano.
Há muitos efeitos de se experimentar e adotar a prática do aprender brincando na escola e em casa. Vou falar de quatro deles aqui:
A primeira razão é que a experiência do brincar desenvolve o pensamento criativo. A criatividade é como um músculo que todos possuem, e a brincadeira é uma das melhores formas de exercitá-lo. Pode-se inventar de tudo nas atividades: narrativas, cenários, histórias, engenhocas, cartazes, músicas.
Para apoiar tanta criatividade, é preciso criar oportunidades e condições para que a criança alimente sua imaginação. Uma solução simples é a criação de um “cantinho mão na massa”, que pode ser um espaço, ou até mesmo uma caixa onde a criança guarda materiais e ferramentas que pode utilizar em seus projetos. Vai ter lápis de cor, papel colorido, recortes de papelão e retalhos de tecido, fita adesiva, até panela e colher… E vai sobrar imaginação! Uma “caixa mão na massa” é um meio para que as ideias se transformem em ações concretas, criando-se algo “no mundo”.
O segundo efeito de aprender brincando é que essa atitude desenvolve empatia e colaboração. As ideias não surgem do nada; elas são inspiradas e tomam forma a partir de nossas interações com as pessoas e o mundo ao nosso redor. Brincar é um processo social em que pedimos ajuda, sugerimos, argumentamos, fazemos juntos, lidamos com ideias diferentes, desabafamos, acatamos. Brincadeiras em família na infância resultam no desenvolvimento de sociabilização e de espírito de equipe, além de ótimas lembranças, na vida adulta, do tempo de criança. Ainda me lembro de quando minha mãe e eu passamos a tarde fazendo criações malucas com copinhos de plástico e garrafas PET. Cada um do seu jeito, ela fez uma flor super bonita, enquanto eu dei um monte de voltas tentando colocar meu robozinho de pé!
O terceiro efeito de brincar em família é criar o hábito de explorar livremente, brincar, com materiais, ferramentas e espaços que temos à nossa disposição, buscando e trazendo soluções não esperadas para problemas simples ou complexos. No brincar, não existe o certo ou o errado. Criar e montar brinquedos novos a partir de antigos — um carrinho que se transforma em submarino, uma tampinha que vira peça de tabuleiro —, inventar personagens, peças de teatro, repentes e poemas, criar um museu de memórias, projetar o mundo dos sonhos. Essa liberdade criativa pavimenta o caminho para o desenvolvimento de habilidades das ciências, tecnologia, engenharia, matemática e artes, tão importantes para a sociedade atual, fazendo da criança alguém que não apenas aplica soluções, mas as constrói em um processo natural de experimentação, tentativa e erro, desenhando e redesenhando durante o processo.
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Por fim, o quarto efeito de aprender brincando é o incentivo ao trabalho com paixão, em projetos que sejam relevantes e significativos para as crianças e as pessoas ao seu redor. Ao mergulharmos em algo que nos interessa, nos conectamos mais profundamente com as pessoas, materiais e temáticas envolvidas. Como consequência, aprendemos melhor e conseguimos aplicar nossos conhecimentos em várias áreas de nossas vidas. Incentivar a aprendizagem e a criatividade é o melhor presente que podemos dar para a nova geração. Isso é algo que devemos e podemos fazer por toda a vida, e nada melhor do que começar desde pequeninos, em casa, de forma divertida, com prazer e em boa companhia.
Vamos brincar?
*Leo Burd e diretor-executivo da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (RBAC) e pesquisador no MIT Media Lab nos EUA.
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