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João Jonas Veiga Sobral

É professor de Língua Portuguesa e orientador educacional

Publicado em 04/02/2020

Na orientação: quando perguntar ofende e responder também

Nesta coluna, João Jonas Veiga Sobral aborda mais um diálogo de orientação educacional, mas desta vez, junto à uma professora e aluno

A professora entra na sala do orientador furiosa e acompanhada de um aluno que acaba de ser excluí­do da aula.

— Gostaria de relatar a você um evento desagradável que ocorreu agora na sala de aula e que envolve o Paulo.

— Pois não, Carla. O que houve?


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— Estávamos numa correção de exercícios. Solicitei aos alunos que refizessem uma das questões da prova com base nas orientações que dei. Durante a atividade, chamei atenção de Paulo porque ele conversava, atrapalhando a minha explicação. Ele obedeceu por uns instantes e depois voltou a conversar.

— (Paulo, interrompendo a professora) Não estava conversando na segunda vez.

— Paulo, por favor, deixe Carla terminar o relato. Em seguida, ouço o seu, tudo bem?

— Sim, desculpe-me. Tudo bem.

— Carla, por gentileza, continue.

— Na segunda vez, Paulo estava de costas para o seu grupo conversando e rindo com uma amiga do outro grupo. Pedi a ele e a ela que se retirassem da aula. Mariana, a amiga, não me questionou. Pediu-me desculpa e saiu da sala. Mas o Paulo….

— O que houve? O que disse ou fez?

— Ele virou-se para mim e afirmou que não estava conversando, apenas estava esclarecendo uma dúvida da colega. Estranhei a resposta dele, porque o caderno e o livro estavam fechados. Então, pedi que acompanhasse Mariana e saísse da aula por não estar trabalhando.

— E aí?

— Ele virou-se para mim e afirmou rispidamente que não estava conversando. Olhei para ele e disse que o vi conversar. Perguntei se ele achava que eu era louca. E ele, irritado, respondeu que sim, que eu era louca.

— Paulo, você deu essa resposta à professora?

— Eu não estava conversando…

— Paulo, não lhe perguntei se estava conversando. Perguntei se, como resposta à pergunta feita pela professora, afirmou que ela era louca.

— Sim, desculpe-me. Fiquei incomodado e perdi a cabeça.

— Você deve dirigir o seu pedido de desculpas à Carla.

— Desculpe-me, Carla. Não deveria ter falado o que falei, mas estava mesmo tirando uma dúvida da Mariana.

— Paulo, por favor, aguarde um pouco na sala ao lado, já volto a conversar com você sobre o que fez e disse.

— Tudo bem. Vou aguardar.

— Situação difícil essa, Carla. Veja, você fez uma pergunta a ele que geraria duas respostas: uma afirmativa e outra negativa. Se ele nega que você é louca, afirma que estava conversando. Se ele afirma que você é louca, passa a ser obviamente ofensivo. Nas duas repostas, ele cria um problema para si.  Uma pergunta, desculpe-me, desnecessária.  Creio que você não deveria ter discutido com o aluno e muito menos perguntado sobre sua sanidade. Isso não estava em questão, bastava retirá-lo da sala e pronto.

— Sim, fiquei também irritada com ele. Você está certo.

— Vou sancioná-lo pela retirada da sala de aula e pela relutância em sair. Pedirei novamente que converse com você sobre o que disse e se desculpe na sala de aula. Talvez seja bom que você também dê uma palavrinha com a classe sobre o episódio todo para que as coisas se ajustem. Afinal todos presenciaram o imbróglio.

— Farei isso, pode deixar.

— Pois é, querida, há quem diga que perguntar não ofende. Perguntar ofende, e responder, também. Bom dia, boa aula. Vou resolver a segunda parte do problema. Que venha o Paulo.

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