NOTÍCIA
Pesquisadores visitam escolas que atendem alunos de baixo nível socioeconômico do ensino médio e conseguem bons resultados de aprendizagem para entender suas bases
Publicado em 16/01/2020
O ensino médio é a etapa mais problemática da educação básica, pois nela desaguam todos os problemas que os alunos vão acumulando ao longo de toda a trajetória escolar. Para citar um dado, somente 34% dos estudantes de escolas públicas concluem o 9° ano do ensino fundamental com aprendizado adequado em português, e em matemática, só 15%, segundo dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2017.
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Porém, há algumas poucas exceções, felizmente. Entre as 5.042 escolas públicas que atendem alunos de baixo nível socioeconômico (inseridos em lares com renda familiar mensal de, no máximo, 1,5 salário mínimo), apenas 101 apresentam bons resultados de aprendizagem – sendo uma delas federal. O Ceará é o estado com mais escolas (55) nesse grupo, seguido por Pernambuco (14). Em São Paulo, apenas duas escolas passaram pelo crivo.
Com o objetivo de investigar quais ações efetivas são realizadas por essas escolas para garantir um bom nível de aprendizagem, Ernesto Martins Faria, fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), coordenou uma pesquisa de campo para extrair práticas aplicáveis a outras redes (veja o perfil das escolas visitadas). Os resultados foram publicados no documento Excelência com Equidade no Ensino Médio, lançado pelo próprio Iede e pela Fundação Lemann, Instituto Unibanco e Itaú BBA.
Entre outros dados revelados, destaca-se o fato de a grande maioria das escolas (82%) com melhores resultados ser de tempo integral, o que traz o desafio de financiamento e replicabilidade. Em compensação, há um conjunto de outras práticas que podem servir de inspiração, como o monitoramento contínuo dos dados de aprendizagem – geralmente registradas em plataformas online de gestão – para acompanhar o desempenho dos alunos e, se necessário, fazer intervenções rápidas.
Em todas as escolas visitadas, pratica-se também uma escuta qualificada dos estudantes com o objetivo de compreender o universo jovem e dar suporte àqueles que necessitam. Os professores também têm uma relação de parceria com os alunos, e isso desperta neles o sentimento de que há pessoas atentas à sua vida, pontuam os pesquisadores.
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O currículo diversificado é outro ponto de destaque. Com uma carga horária de 9,5 horas por dia, os alunos têm a oportunidade de trabalhar outras áreas do conhecimento, incluindo aquelas mais ligados ao desenvolvimento pessoal. E justamente porque têm mais contato com os jovens, as escolas também se destacam pela realização de projetos pedagógicos que conversam com a realidade dos alunos.
Por fim, os pesquisadores verificaram a existência de vínculos fortes com a comunidade, com os pais e com as Secretarias de Educação. Estas ficam devendo em termos de apoio pedagógico e oferta de formação continuada para os professores. Por outro lado, acompanham os dados e estão sempre presentes nas escolas.
Confira a localização e o desempenho dos alunos das instituições visitadas:
Escola Professora Benedita de Morais Guerra
Macaparana (PE)
Localização: urbana
Média nas provas objetivas do Enem: 535,04
Nota na redação do Enem: 644,25
Número de alunos matriculados: 345
Percentual de alunos com aprendizado adequado:
Ideb: 5,6
Escola Professor Antônio José Barboza dos Santos
Timbaúba (PE)
Localização: urbana
Média nas provas objetivas do Enem: 531,88
Nota na redação do Enem: 624,36
Número de alunos matriculados: 589
Percentual de alunos com aprendizado adequado:
Ideb: 5,5
Escola Lysia Pimentel Gomes Sampaio Sales
Sobral (CE)
Localização: urbana
Média nas provas objetivas do Enem: 582,43
Nota na redação do Enem: 716,84
Número de alunos matriculados: 481
Percentual de alunos com aprendizado adequado:
Ideb: 6,9
Escola Dom WalfridoTeixeira Vieira
Sobral (CE)
Localização: urbana
Média nas provas objetivas do Enem: 546,88
Nota na redação do Enem: 661,65
Número de alunos matriculados: 458
Percentual de alunos com aprendizado adequado:
Ideb: 6,2
Colégio Professor Pedro Gomes
Goiânia (GO)
Localização: urbana
Média nas provas objetivas do Enem: 531,27
Nota na redação do Enem: 574,81
Número de alunos matriculados: 481
Percentual de alunos com aprendizado adequado:
Ideb: 5,5
Colégio Juvenal José Pedroso
Goiânia (GO)
Localização: urbana
Média nas provas objetivas do Enem: 525,98
Nota na redação do Enem: 559,43
Número de alunos matriculados: 158
Percentual de alunos com aprendizado adequado:
Ideb: 5,6
Escola Gisela Salloker Fayet
Domingos Martins (ES)
Localização: urbana
Média nas provas objetivas do Enem: 545,53
Nota na redação do Enem: 609,70
Número de alunos matriculados: 90
Percentual de alunos com aprendizado adequado:
Ideb: 5,9
Escola de Referência em Ensino Médio de Salgueiro
Salgueiro (ES)
Localização: urbana
Média nas provas objetivas do Enem: 517,05
Nota na redação do Enem: 593,51
Número de alunos matriculados: 534
Percentual de alunos com aprendizado adequado:
Ideb: 5,3
Escola de Referência em Ensino Médio Aura
Sampaio Parente Muniz
Salgueiro (ES)
Localização: urbana
Média nas provas objetivas do Enem: 519,51
Nota na redação do Enem: 609,18
Número de alunos matriculados: 570
Percentual de alunos com aprendizado adequado:
Ideb: 5,4
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