NOTÍCIA
PEA abrange 11,7 mil escolas comprometidas em estimular e desenvolver alunos conscientes e preparados para um planeta plural
Publicado em 10/01/2020
Cooperação é uma das chaves para um mundo saudável, tanto é que cada vez mais se fala em estimular no estudante a empatia e atividades em grupo. É nesse espírito de união que a Rede do Programa de Escolas Associadas (Rede PEA) à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) atua desde 1953.
Presente hoje em 183 países de todos os continentes, somando 11,7 mil escolas, o Brasil é a segunda maior rede, com 569 escolas públicas e particulares — incluindo três localizadas em aldeias indígenas e duas em presídios — conectadas com o objetivo de desenvolver cidadãos globais e preocupados com o desenvolvimento sustentável do planeta.
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As escolas associadas se empenham em promover a Agenda 2030, o pensamento crítico, a aprendizagem através do diálogo, respeito mútuo e solidariedade, além dos demais pilares da Unesco, como a construção de uma cultura de paz, e, assim, preparar os alunos para uma participação ativa na sociedade. Ao se conectarem à Rede, podem juntas desenvolver abordagens, métodos e materiais educacionais inovadores.
A coordenadora de educação da Unesco no Brasil, Maria Rebeca Otero, critica que a escolarização na sociedade ainda é muito focada no conteúdo e no conhecimento cognitivo e ressalta a importância de desenvolver conceitos educacionais presentes no documento da organização coordenado por Jacques Delors, Educação: um tesouro a descobrir.
“Nós pensamos nos quatro pilares: saber ser, que desenvolve as virtudes; o saber fazer, voltado às habilidades para fazer coisas; o saber aprender, ligado à criação de técnicas e conhecimento para aprofundar a aprendizagem mesmo após o período escolar; e o saber conviver, que é o respeito ao outro, o trabalho conjunto que usamos no mundo do trabalho e convivência social”, explica.
Para uma escola receber o selo Unesco, é avaliado o projeto pedagógico. O certificado é emitido em Paris, sede do Programa. A preocupação não é ter o maior número de escolas associadas, mas apoiá-las em suas dificuldades e estimulá-las a difundir os valores pregados pela Organização das Nações Unidas.
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“Temos uma preocupação em atender todos os níveis e realidades, da escola privada à pública”, afirma Myriam Tricate, coordenadora nacional da Rede PEA no Brasil desde 2007. “Quero alunos participativos e preparados para o mundo como um todo: defendendo seus ideais e enxergando o outro”, conta.
Anualmente, membros do Programa (coordenadores regionais e gestores representantes das escolas associadas) se reúnem em um encontro para aperfeiçoar parcerias e aprofundar seus conhecimentos educacionais. O último evento ocorreu em setembro de 2019, na cidade histórica de Ouro Preto (MG). Reuniu 900 pessoas, incluindo a coordenadora internacional da Rede, Sabine Detzel, que veio de Paris para o evento.
Sabine revela que as dificuldades educacionais enfrentadas no Brasil como a falta de políticas públicas também são comuns em outros países. “Os desafios são os mesmos: falta de recursos e dificuldades de mudar as coisas. Às vezes demora anos para realizar uma formação docente, mudar o conteúdo e os métodos pedagógicos”, explica.
Já a desigualdade social brasileira e a exclusão das comunidades tradicionais, na visão de Sabine, são obstáculos que o país precisa enfrentar. Ela defende que precisamos aprender a excluir menos. “Uma peculiaridade da Rede no Brasil que me parece muito boa é a parceria entre escolas públicas e privadas. Compartilhar recursos, experiências e fortalecer encontros entre alunos que muitas vezes são de diferentes mundos e podem aprender juntos são uma ótima saída para essa exclusão”, aconselha.
“Um povo sem cultura é um povo sem identidade, sem orientação”, complementa o coordenador nacional da Rede PEA Angola, Manuel Domingos Diogo, que também esteve presente no encontro em Ouro Preto.
“Para mim, escolas inovadoras são as que têm a capacidade de influenciar o seu meio circundante, influenciar outras escolas a seguirem os mesmos caminhos, mesmos padrões, de forma a desenvolver o sistema de educação – e não só a própria comunidade e o meio no qual está inserida”, esclarece o angolano. No país africano, o programa da Unesco teve início em 1998, com quatro escolas. Hoje são 45. Manuel explica que em Angola um dos objetivos da Rede é apoiar o governo em políticas educacionais.
Com média 8.2 no Ideb 2017 (principal indicador de qualidade da educação do país) colocando-a como a mais bem avaliada dentre as escolas públicas de Teresina (PI), a Escola Municipal Casa Meio Norte é associada ao PEA desde 2017.
Representada pela diretora Osana Santos Morais e pela diretora pedagógica Rutineia Vieira Lima, ambas enfatizam que trabalhar em uma instituição educacional localizada dentro de uma periferia e ser reconhecida pela Unesco aumenta a autoestima dos educadores e dos alunos. “É dizer que escola pública é capaz de ensinar, sobretudo com qualidade, não importa o lugar, recanto e canto do Brasil”, ressalta Rutineia.
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Já o Colégio Estadual Indígena Coroa Vermelha, que fica em Santa Cruz Cabrália, Bahia, na aldeia dos pataxó, desenvolve atividades de sustentabilidade e de fortalecimento e reconhecimento da cultura ancestral de seu povo desde 2010. Tais atividades renderam ao colégio a entrada no PEA, em 2018.
O diretor da instituição, Railson Pataxó, conta que, atualmente, a escola indígena diferenciada é uma maneira de firmar à sociedade a visão étnica de um povo, além de manter viva a cultura e saber de sua comunidade.
”Ao longo do tempo, a educação foi uma forma de dominação. Hoje, a educação escolar indígena passa por um caminho que, além de nos inserir na sociedade, é uma forma de a gente colocar o nosso olhar”, afirma. O professor pataxó Jussimar Guedes acrescenta que a entrada no Programa fez o estado da Bahia notar a Coroa Vermelha. “Antes éramos invisíveis; hoje, ter um espaço de fala é muito importante”, desabafa.
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