NOTÍCIA
Entenda como funciona o Programa de Escolas Associadas (PEA), que reúne mais de 10 mil escolas distribuídas em 181 países
Publicado em 10/11/2017
Já Ana Lígia Matos, professora da Escola Técnica Estadual Ferreira Viana, também do Rio de Janeiro, indicada pelo Pedro II e recém-aceita na rede, tem a expectativa de que possa beneficiar-se de trocas pedagógicas. Mas demonstrou algum ceticismo. “O contato com um universo mais heterogêneo é interessante. A expectativa é que haja um diálogo, de que carecemos no país. O problema é como fazê-lo, esperamos que o PEA funcione como um instrumento para isso. Nós, por exemplo, já trabalhamos com projetos, temos ação diária nesse sentido”, disse ela.
Mary Cruz, professora de língua portuguesa da Escola Conexão Aquarela (pública), de Macapá, tem perspectiva bem diferente. Para ela, cuja escola está há três anos no PEA, o encontro anual é uma oportunidade singular para mostrar a realidade do projeto local em que sua escola atua, que oferece formação continuada a docentes e apoio material para sete escolas localizadas na Ilha de Marajó, no estado vizinho do Pará.
“A gente quer visibilidade, o projeto precisa sensibilizar mais pessoas. É uma região muito grande em que mora pouca gente. É uma população de ribeirinhos, a coisa mais forte na economia local é tirar o açaí e pescar camarão. O governo de alguma forma tem de dar a escola para esse povo. Nessa regional tem 400 e tantas crianças”, conta Mary.
Três escolas rurais foram fechadas para concentrar mais os estudantes que, consequentemente, têm de se deslocar por mais tempo. As catraias – os barcos de transporte – eram 24, hoje são 18. As crianças gastam duas horas e meia para ir, o mesmo tempo para voltar e quatro horas na escola. Ao chegar, muitos vão ajudar os pais a tirar açaí. Além de formar os professores, o projeto busca apoio para que os alunos tenham o que fazer durante as viagens, para que não desistam.
Se para Mary a visibilidade do projeto é um grande trunfo, para muitas escolas associadas a chancela Unesco e os seus valores são o que fala mais alto. É o caso de Antônio Sérgio Brandão, diretor do quase centenário Colégio Ofélia Fonseca, escola particular do bairro de Higienópolis (São Paulo) que está entre as primeiras associadas. “Fazer parte da associação dá credibilidade à escola, mas o mais importante é a troca de ideias, enriquece muito quem vai aos encontros e viagens internacionais”, diz.
Luciana Carvalho, diretora do Centro de Educação Infantil do Tribunal de Justiça do Tocantins, há quatro anos no PEA, diz que o principal para a instituição são os pilares e diretrizes da Unesco. “Como não fazemos parte de nenhuma outra rede, esse material nos ajuda muito. Há muita coisa de outros países”, diz. Mas ela coloca um senão: faltam meios para que haja mais interação entre as escolas. “O portal está velho, desestimula. Falta uma página no Facebook”, avalia.
Se não está nas redes sociais, o programa abriu às escolas brasileiras a oportunidade para que 10 delas participem de projeto global sobre mudanças climáticas. O tema, aliás, foi objeto da palestra mais concorrida do encontro de Foz do Iguaçu, ministrada por Paulo Artaxo Netto, professor de física da USP e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. O projeto está em curso desde o ano passado, envolve a reflexão com colégios de outros países e enfatiza a circulação de evidências científicas sobre as alterações climáticas, num momento em que a ciência tem sido negada até mesmo pelo país que mais as produz, os Estados Unidos.
Em contrapartida, a tentativa de diálogo do programa com o poder legislativo resultou em frustração. Esperado em Foz do Iguaçu para palestra sobre “A educação para a construção do futuro”, o senador Cristovam Buarque cancelou presença na última hora, não sem antes enviar livretos sobre seu projeto de federalização da educação básica. A justificativa para a ausência foi a crise entre Legislativo e Judiciário, desencadeada por medidas cautelares contra o senador Aécio Neves. Parece que, tanto na atividade parlamentar como na proposta educacional, o senador ateve-se mais ao passado do que ao futuro.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), entidade voltada à paz mundial fundada em 16 de novembro de 1945, ano do término da II Guerra Mundial, sofreu um forte golpe no último dia 12 de outubro. Neste dia, os Estados Unidos e Israel fizeram aviso público de que irão se retirar do órgão mundial, permanecendo apenas até o final de 2018.
No caso dos Estados Unidos, até agora responsáveis por 22% do orçamento total da Unesco, a decisão se deve, oficialmente, a esses custos (muitos pagamentos estão em atraso) e àquilo que foi batizado como posicionamento sistemático contra Israel nos conflitos no Oriente Médio.
A Unesco é a agência das Nações Unidas responsável por ações e campanhas globais nas áreas de educação, cultura, ciências naturais, humanas, sociais e comunicação e informação. Na educação, a função do órgão é ajudar os países a atingir as metas do Programa Educação para Todos, que busca acesso e equidade na oferta.
O posicionamento americano está em sintonia com outras ações do governo Donald Trump, voltando-se para o país e deixando acordos internacionais como o do clima. Trump também não vem se mostrando muito adepto do conhecimento científico.
http://www.revistaeducacao.com.br/ligacao-entre-escolas-do-cone-sul-ainda-e-promessa/