NOTÍCIA

Edição 233

“O mais difícil é saber dividir o tempo”, afirma diretor de escola

Conheça a rotina de um gestor de escola particular em São Paulo

Publicado em 20/10/2016

por Redacao

6h50, segunda-feira, chegada à escola

O diretor Luis Bronzatto chega ao Colégio Luiza de Marillac – 20 minutos antes do inícios das aulas do período matutino – para mais um dia de trabalho.
Entre as diversas responsabilidades do cargo de gestor, Bronzatto considera que seu maior desafio é dividir o tempo entre atividades pedagógicas e operacionais. O importante para o projeto da escola é que o diretor dedique cada vez mais tempo a acompanhar a rotina escolar.
“O mais comum é que você acabe virando um diretor de gabinete que não vive a relação com os alunos, com os professores e com as famílias”, explica.
Para driblar esse problema, sua meta pessoal é dedicar 70% de seu tempo para viver a escola, estar presente. Atualmente, diz dedicar pouco mais da metade do dia para acompanhamento da parte pedagógica da instituição, ficando o restante para resolução de assuntos ligados a processos administrativos.
Há sete anos na direção do colégio particular, Bronzatto está a frente de uma equipe de dois coordenadores pedagógicos, um coordenador de processos, 30 professores e 375 alunos, da educação infantil ao ensino médio.
Na agenda digital da escola, estão indicados seus compromissos, tarefas e reuniões diárias, que podem ser acompanhados por toda equipe pedagógica. A organização é o segundo requisito mais valorizado pelo gestor, atrás apenas da dedicação em se fazer presente.

11h: acompanhamento das aulas

Embora esse seja um trabalho mais reservado ao coordenador pedagógico, Bronzatto gosta de acompanhar algumas aulas quando pode. Normalmente, isso significa interromper a exposição do professor por alguns minutos para conversar um pouco com a classe. Acompanhar uma aula completa, somente se a turma estiver tendo dificuldade em uma matéria específica.
“Claro que assistir a apenas uma aula não te dá a dimensão total do problema, mas é possível identificar sinais que podem depois ser trabalhados com o professor”, avalia.
Como exemplos, cita o uso de linguagem além das capacidades do aluno, ou situações em que o professor fica muito tempo de costas para a turma, causando dispersão. Essas ações podem passar despercebidas pelo educador, mas devem ser indicadas pela equipe pedagógica.
A presença constante da direção em sala de aula foi um hábito construído com a implementação de um novo modelo de gestão. No início, a novidade não agradou aos educadores, que se sentiam observados e desconfortáveis.  
“Foi preciso convencer os professores de que não era um trabalho de julgamento, mas um mecanismo de supervisão do trabalho e de direcionamento. O importante é não desvalorizar o que foi feito, mas sentar com a equipe e ver o que poderia ser melhor”, completa.

12h: reunião com a coordenadora pedagógica Nair Tugumia

Reunião pedagógica no Colégio Luiza de Marillac, em São Paulo | Foto: Gustavo Morita

Reunião pedagógica no Colégio Luiza de Marillac, em São Paulo | Foto: Gustavo Morita

A rotina semanal inclui ainda reuniões com os coordenadores e professores para discussão do andamento das atividades da escola e planejamento de novos processos. A coordenadora Nair começa expondo um caso de indisciplina envolvendo uma brincadeira com o material de divulgação interno da escola.
Tanto a revista entregue aos alunos quanto toda a parte de marketing da instituição é elaborada por uma assessoria contratada pela direção. A empresa também auxiliou o processo de mudança para uma coordenação mais presente na sala de aula.
“Em alguns eventos que eu frequentava, conheci assessorias que sugeriam propostas diferentes de divisão do pedagógico com o operacional. Sempre vi isso como um grande desafio mas não tinha muitas ferramentas para entender ou sugerir mudanças na realidade do Marillac”, conta Bronzatto, que era coordenador pedagógico na época.
Dois anos após assumir a direção da escola, foi possível iniciar o contato com a assessoria. Entre as sugestões oferecidas, uma das mais benéficas foi o controle de dados. Atualmente o colégio sabe quantas famílias procuram a escola, o que elas desejam e qual a taxa real de matrícula.
Como exemplo das propostas implementadas, foi criado um canal de contato direto com os pais via internet. Para o ano que vem, o objetivo é inaugurar a educação em tempo integral para os alunos da educação infantil, pois, por meio da análise dos dados, percebeu-se uma demanda nessa área.
“Antes, não tínhamos um controle do nosso crescimento, não tínhamos um plano de mídia, um plano de marca ou de divulgação da escola porque não essas preocupações não existiam”, relata Bronzatto.

13h: pátio da escola

Horário de saída dos maiores e entrada dos pequenos. Como faz todas as tardes, o diretor inspeciona a chegada dos alunos do fundamental I com seus pais.
Muita crianças são conhecidas pelo nome. Um “bom dia, diretor” e um abraço é o cumprimento padrão de alguns dos menores mais desinibidos. Após o toque do sinal, uma visita para desejar boa aula aos alunos é feita de sala em sala.
A interação forte com alunos e familiares não é apenas uma característica de simpatia pessoal do gestor. A postura também faz parte do posicionamento pedagógico e da estratégia de marketing do colégio particular.
“É importante que os alunos e suas famílias saibam que existe uma pessoa que vai ouvi-los, independente da situação”, ressalta Bronzatto, ao expôr as prioridades do Marillac.
Quando se trata de instituições privadas, envolver as famílias no universo escolar é parte importante da fidelização dos pais e de seus filhos dentro da disputa de mercado com diversos outros colégios particulares da capital paulistana.
Quando Bronzatto começou na instituição nos anos 90 como educador, o colégio possuía 2.800 alunos e ele era um dos oito professores de educação física. Após um período de recessão aliada à má gestão, a realidade da escola se tornou outra completamente diferente.
“Por causa de grandes investimento em infraestrutura, [a gestão] passou a não ter tantos recursos para focar no pedagógico, no professor, e isso foi fazendo com que perdêssemos a competitividade”, explica o gestor.
Para se recuperar, o colégio se apoiou em uma série de medidas, incluindo o novo posicionamento pedagógico, a análise de dados e a interação com as famílias. Até o momento os resultados são satisfatórios: houve um um crescimento de 12% no número de matrículas entre 2015 e 2016.

17h: hora de ir embora?

O diretor Luis Bronzatto muitas vezes não consegue cumprir sua jornada de 8h de trabalho e permanece mais tempo na escola para acompanhar outras atividades. Para compensar, diz que nunca leva trabalho para casa: o que tem de ser resolvido na escola, será resolvido na escola.
Quando perguntado sobre quais conselhos gostaria de ter ouvido quando se arriscou no caminho da gestão, responde com duas dicas:
1º: Não fique no seu gabinete. Se o gestor se mantém dentro das suas quatro paredes, perde a noção exata da escola. Perde a possibilidade de enxergar que escola é essa, quem são seus alunos, que pessoas fazem parte dessa comunidade.
2º: Organize o seu tempo. Agendas me ajudam muito. No final do dia é interessante fazer uma avaliação pessoal: o que você conseguiu cumprir e o que não. Identificar o que foi feito de bom, o que foi feito de ruim e por quê.”
Já sobre a profissão de educador, é categórico: gestão de escola é um trabalho para professor e ninguém mais. Isso não significa, porém, um afastamento da atividade em sala de aula.
“Eu me sinto mais completo. Se eu voltar a dar aula hoje, vou ter um olhar que poucos têm. Minha atuação como professor vai ser melhor, porque eu tenho a visão de como a minha aula pode ser melhor pra instituição”, diz.

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