NOTÍCIA
Encantamento com a máquina e falta de tempo e recursos afastam professores dos benefícios de aprendizado por meio da prototipagem
Publicado em 15/09/2016
Existem obstáculos, no entanto, anteriores a este. Em seu mestrado, Aguiar aponta que os professores em geral concordam que a melhoria do ensino passa pelas atividades experimentais, porém raramente as realizam devido a vários motivos, como a falta de infraestrutura, recursos e tempo de planejamento. “Para superar alguns desses problemas, os professores improvisam aulas práticas e demonstrações com materiais do dia a dia, mas, muitas vezes, eles se desestimulam por causa de resultados alcançados parcialmente”, escreve. Carla, Neusa e Roque listam em sua pesquisa também “o tempo curricular, a insegurança em ministrar essas aulas e a falta de controle sobre um número grande de estudantes dentro de um espaço desafiador como o laboratório e a falta de formação inicial adequada para essas situações que envolvem o ensino experimental” como motivos para deixar atividades como a prototipagem de lado.
Essa questão não diz respeito apenas aos professores, mas às instituições. César Fava, consultor de tecnologia para instituições de ensino, coordena o Seminário de Tecnologia do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), que reúne os principais assuntos da educação para os gestores das instituições. A partir dessa experiência e do contato com diretores de escolas que oferecem ensino médio, ele acredita que a maior parte das instituições não está preparada para implementar a prototipagem em toda a sua potencialidade. “Como coloco esses conceitos dentro da minha instituição? Como eu preparo essa instituição? Eu tenho o amparo do meu corpo docente para fazer a entrega qualitativa desse recurso?”, ele questiona. “As instituições estão fazendo investimentos, têm dado muita atenção a esse ponto, mas ainda não é algo consolidado.”
Em relação à falta de tempo de planejamento e execução das atividades de prototipagem, já que os turnos são limitados e existe um currículo básico a ser cumprido, especialistas têm sugerido soluções. De fato, as aulas que envolvem prototipagem não podem ser feitas às pressas: o processo envolve diversas etapas que exigem tempo de assimilação, como defendeu Almeida. Além disso, ao prever o erro como parte da atividade, é necessário que haja tempo para corrigir a rota e testar novamente (e mais outras vezes, se preciso). Aguiar aponta que professores podem usar propostas e modelos prontos na internet e compartilhar os resultados para que mais educadores tenham acesso ao trabalho, por exemplo, o que economiza bastante tempo de planejamento. Outra solução, apontada por Blikstein, envolve mudanças mais estruturais: ele defende a importância de saber do que abrir mão de ensinar, considerando o limite de tempo e de currículo. “O que estamos preparados para deixar de lado e quais novas coisas queremos ensinar?”