NOTÍCIA

Edição 232

Grande Encontro Educação discute desafios da gestão

Evento promovido pela revista Educação reúne mais de 400 gestores e traz debates sobre temas como excelência, acessibilidade e mundo digital

Publicado em 15/09/2016

por Redação revista Educação

Fotografia: Gustavo Morita

Fotografia: Gustavo Morita

Se a instituição escolar já entrou no século 21 tendo de questionar seriamente seu lugar na sociedade contemporânea após o fenômeno da internet e as sucessivas mudanças comportamentais de jovens e adultos, os desafios parecem ainda mais complexos com o advento das redes sociais e a crise político-econômica que tomou conta do Brasil.
Foi com o propósito de buscar algumas respostas para os gestores das escolas privadas em meio a esse cenário – ou, ao menos, de formular as perguntas que façam refletir sobre os pontos nevrálgicos – que a revista Educação organizou os seminários da segunda edição do Grande Encontro da Educação. Com seis painéis temáticos, o evento teve lugar no dia 10 de agosto, no Expo Center Norte, em São Paulo, reunindo mais de 400 gestores e 14 expositores com estandes no local.
Segundo Edimilson Cardial, pre­sidente da Segmento, editora responsável pela revista Educação, o evento reforça o caminho perseguido atualmente pela publicação, de tentar diversificar ao máximo a oferta de conteúdos para o seu público, de maneira a ajudá-lo a enfrentar as grandes questões no universo educacional. “Queremos, como já estamos fazendo, ir muito além do conteúdo editorial, que se mantém altamente relevante. Mas o mundo de hoje está mais rápido e variado, precisamos de novas respostas. O único jeito de oferecê-las é aproximarmo-nos cada vez mais de nosso público”, enfatizou.
Os painéis trouxeram temas indicados por gestores das escolas privadas como prioritários nos diversos Encontros da Educação, realizados mensalmente na Casa da Educação, instituição parceira da Segmento. Foram eles: gestão para a escola de alto desempenho; segurança (com foco no ambiente virtual e suas consequências); tecnologia na era da pós-conectividade; bilinguismo; indisciplina e acessibilidade.
O que faz o alto desempenho
O painel inicial, sobre a gestão de escolas para o alto desempenho, foi um dos que mais agradaram ao público, com conteúdos destrinchados pelo consultor educacional André Guadalupe, da AOG Consultoria Educacional Artesanal, comentários de Daniel Bresser, da Escola Móbile e mediação de Eugênio Cordaro, da Corus Consultores.
Baseado em pesquisa com diversas escolas, Guadalupe listou quatro pilares para o alto desempenho educacional, a saber: sonho e propósito; gestão de pessoas; objetivos claros e cultura da inovação.
“Muitas escolas não sabem aonde querem chegar, ou, às vezes, o gestor tem um sonho, mas não o compartilha com a equipe”, resumiu Guadalupe quanto à questão da necessidade de ter um propósito organizacional claro, que pode e deve ser apropriado por toda a equipe escolar. Ou seja, além da definição, que às vezes requer um processo de aferição conjunta ao menos entre aqueles que dirigem a instituição, esse propósito não pode prescindir também de uma boa comunicação interna, de modo que todos atuem baseados no mesmo norte.
No quesito gestão de pessoas, o consultor ressaltou o fato de que, muitas vezes, os gestores ficam em dúvida quanto aos investimentos que as pessoas demandam. “Ouço muito que o risco de treinar pessoas é investir e depois elas irem embora. Mas há também o risco de não investir e elas ficarem.” Ou seja, é preciso que se faça uma boa seleção, analisando o grau de identificação do candidato em relação à escola, e depois oferecer treinamento, dar feedbacks de forma estruturada, além de ter cada cargo e respectivas funções descritas em pormenor. “Ninguém chega pronto. Professores, em especial, precisam ser formados ao longo da carreira, eles são o grande diferencial de uma escola”, enfatiza.
Se a clareza dos objetivos está diretamente ligada aos propósitos, o tempo gasto com cada tarefa no dia a dia deve ser compatível com esses objetivos. Nesse quesito, a pesquisa mostrada por Guadalupe revela um dos principais problemas da gestão escolar, talvez extensivo a várias outras organizações: a grande maioria dos gestores gasta a maior parte do tempo em tarefas operacionais (91%), ou apagando incêndios (82%), enquanto apenas 21% dedicam tempo expressivo ao planejamento de médio prazo e menos ainda (19%) ao estratégico.
Fonte: AOG Consultoria Educacional \ Cenário de Gestão Estratégica Educação Básica Privada \ Alma, Mente e Corpo \ Junho de 2015

Fonte: AOG Consultoria Educacional | Junho de 2015

É um indicador de um problema crônico das escolas: falta de processos claros e definidos, o que acarreta exagerada dependência das pessoas responsáveis pelas funções, resultando em problemas operacionais em sua ausência.
Ao comentar a apresentação, Daniel Bresser ressaltou a questão do propósito: “É preciso ter clareza de aonde se quer chegar, de qual aluno se quer formar. Esse é o maior desafio da escola”. No tocante aos processos, exemplificou como a adoção de um sistema de informação tipo ERP ajuda a racionalizar as ações, gerando tempo para gestão estratégica.
A relação excelência versus custos preocupou a plateia, que quis saber o que fazer nos tempos de crise. Cordaro aconselhou: individualizar, sob análise rigorosa, a concessão de descontos, e não deixar de aumentar preços caso os custos assim o exijam. Protelar pode significar problemas futuros.
Web, ameaças e oportunidades
Os dois painéis seguintes abordaram, sob diferentes óticas, o ambiente digital. Primeiro, pela da segurança; depois, pela assunção de que o mundo digital é uma realidade na qual as novas gerações já nascem imersas.
Na questão da gestão da segurança, a advogada Ivanice Teixeira de Lima, voltada a questões como ciberbullying e direito de imagem, mostrou, em sessão mediada pelo consultor educacional Henrique Tichauer, da EXP Inteligência Educacional, os riscos a que a escola está exposta se não deixar claras suas regras e, sobretudo, se não formulá-las previamente.
“Não pensamos de forma preventiva, é uma questão cultural do país. É preciso que haja planejamento estratégico para reduzir riscos, para que não haja prejuízo à imagem da escola, à honra. Em casos mais complexos, a escola pode ser acusada de estar envolvida na incitação ao suicídio”, alerta, exemplificando com um problema que tem assustado educadores, muitas vezes decorrente do ciberbullying.
Ivanice lembra que tudo aquilo que circula no wi-fi da escola é de responsabilidade dela. E que, pela legislação, pessoas com menos de 13 anos não podem ter conta em redes sociais. Consequentemente, a escola não pode patrocinar nem assumir contatos com alunos antes dessa idade via redes.
Na linha da prevenção, ela aconselha que as escolas revejam contratos de matrícula e regulamento interno, instituindo um código de conduta de comportamento digital. “Muitas vezes, esses documentos são de 10, 20 anos atrás, nunca foram revistos. É preciso atualizá-los, o mundo mudou muito de lá para cá.”
Eliana Santos, diretora-geral do Colégio Global, presente ao evento, reforçou o que ouviu no painel. Para ela, o ciberbulliyng é difícil até mesmo de identificar. “Quando tomamos conhecimento, podemos trabalhar. Mas às vezes só ficamos sabendo quando o aluno já saiu da escola. Há dano para a vítima e para o agressor, pois perdemos uma oportunidade educativa.” E acrescentou: “Não sabia dessa questão da responsabilidade sobre a rede. Somos um pouco vidraça”.
Já Ricardo Santos, gerente de Educação para a América Latina da Cisco Systems, apresentou estudo realizado em cinco continentes sobre o que tem funcionado nas escolas que estão buscando imersão no mundo digital. Partindo da premissa de que, mais do que dar conectividade à escola, é preciso tornar os processos digitais, defendeu que é preciso construir práticas digitais ancoradas no projeto pedagógico das escolas.
E deu três recomendações centrais, baseadas na pesquisa, para que as escolas se atualizem: que ampliem o acesso às fontes dos saberes, que busquem utilizar a tecnologia da informação e construam oportunidades para transformar os planos de aulas. Tudo isso sempre treinando e desenvolvendo os professores, figuras centrais do processo.
Valdenice Minatel, coordenadora de tecnologia do Colégio Dante Alighieri, também participante da mesa, alertou que, para pensar a tecnologia na educação, é preciso alguém que entenda de educação. E reportou a bem-sucedida experiên­cia de seu colégio ao formar um comitê gestor da internet, do qual os alunos fazem parte e compartilham decisões sobre usos e práticas digitais. No comitê, entre várias outras coisas, discute-se muito cidadania e cidadania digital.
A morte da aula
O estilo teatral do palestrante Celso Antunes mobilizou o público acerca da questão da indisciplina e dos desafios que ela traz à escola. Numa longa narrativa sobre a professora que teve de acompanhar nos tempos de estagiá­rio quando se formava professor, Antunes defendeu que é o modelo de aula – “antiquado, perverso, com o professor discursando para os alunos” – o grande responsável pela insatisfação e consequente indisciplina dos estudantes.
Para superar esse modelo, propõe dois grandes fundamentos: que não exista uma maneira só de dar aulas e que os alunos sejam transformados em protagonistas.
Antes de Antunes, Fátima e Vanessa Tenório discorreram sobre o biliguismo e o que caracteriza efetivamente uma escola bilíngue, que passa pela adoção da segunda língua para a aprendizagem de outros conteúdos e não apenas pelo aprendizado linguístico. Defenderam que isso inclui uma carga mínima de sete a dez horas semanais no segundo idioma e classes de, no máximo, 15 alunos.
Na sessão final, um tema que tem tirado o sono de muitos dos donos de escola: a nova Lei de Acessibilidade, assinada em julho de 2015 pela então presidente Dilma Rousseff. Para comentá-la, foi convidada Sylvia Figueiredo, diretora do Colégio Lourenço Castanho e membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo.
Reforçando o espírito das recomendações hoje vigentes na educação brasileira de que a melhor solução para as crianças com deficiência e para seus pares é que elas entrem o quanto antes na escola, pois assim tem início mais cedo o convívio que ajuda na mútua compreensão, ela analisou alguns aspectos da lei. Em especial, aqueles que mais têm assustado os gestores privados.
Como contexto, mostrou que a lei é bastante ampla e complexa, com apenas dois de seus artigos diretamente voltados à educação, o 27o e o 28o. Mas discorreu também sobre outros artigos, como o 2o, que define quem são as pessoas consideradas com deficiência, aquelas que têm “impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial”. No entendimento da educadora, não estão incluídos aí os portadores de autismo e esquizofrenia, por exemplo, para os quais se teria de prover uma estrutura muito específica.
Também ressaltou, em relação ao artigo 3o, que as adaptações físicas previstas são aquelas consideradas “razoáveis”, “que não acarretem ônus desproporcional e indevido”. Disse, ainda, que em muitas situações o atendente pessoal previsto pela lei, caso não necessite de técnicas ou procedimentos identificados com profissões legalmente estabelecidas, não é de responsabilidade da escola.
A interpretação, pode-se imaginar, não é consensual. Só mesmo com as primeiras disputas sendo objeto de decisão judicial é que haverá mais segurança jurídica a respeito. Mas quanto antes se criarem caminhos para a inclusão, nos âmbitos público e privado, melhor.

Autor

Redação revista Educação


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