NOTÍCIA
"Whiplash - Em busca da perfeição" retrata um promissor baterista nas mãos de um professor implacável
Cenas de Whiplash: exame radical das relações entre professores e alunos |
Para obter o melhor rendimento de um estudante, vale tudo? Qualquer método se tornaria legítimo se o objetivo for levá-lo até o seu limite e, uma vez chegando ali, forçá-lo a seguir um pouco mais adiante? Cabe ao professor tomar a decisão de “esticar a corda”? Esses dilemas ganham uma ilustração perturbadora em Whiplash – Em busca da perfeição (EUA, 2014, 107 min), produção independente que obteve a proeza de receber cinco indicações para o Oscar, inclusive na principal categoria, a de melhor filme do ano.
O personagem controvertido da história – escrita pelo diretor Damien Chazelle, 30 anos, em seu segundo longa-metragem – é o professor Fletcher (J. K. Simmons), temido maestro da banda de jazz de uma prestigiosa escola de música dos EUA. Sua vítima (ou seria preferível dizer “eleito”?) é um jovem estudante e baterista (Miles Teller) que, uma vez convidado a integrar a banda, sofre nas mãos do professor o que seria um caso inquestionável de assédio moral. Mas, apesar de condenável, o método utilizado pelo maestro invoca as melhores intenções – tudo o que ele faz visa, supostamente, ao aperfeiçoamento de seus alunos-músicos.
Duas ou três situações exageradas, que o filme cria para pavimentar a sua tese moral, não invalidam a força de Whiplash como um exame radical das relações entre professores e alunos. Conhecer um pouco da história e das particularidades do jazz contribui para o entendimento de que o temível Fletcher e seu pupilo baterista caminham em terreno minado, o da busca pela atuação “perfeita” em um universo sujeito a idiossincrasias e subjetividades aguçadas – mas nem por isso muito diferente do que ocorre em outras salas de aula.
Produção
Na indústria cinematográfica dos EUA, considera-se independente uma produção feita sem a participação dos grandes estúdios (que, no entanto, podem depois vir a distribuí-la nos cinemas e em vídeo doméstico). Whiplash – Em busca da perfeição custou US$ 3,3 milhões; um de seus concorrentes ao Oscar, o drama de guerra Sniper americano, foi orçado em US$ 58,8 milhões.
Escola
No filme, a trama é ambientada na fictícia Escola de Música Shaffer, em Nova York. O diretor e roteirista Damien Chazelle diz ter se inspirado em sua passagem, durante o ensino médio, pela Princeton High School Studio Band. Nos EUA, são comuns os concursos entre bandas de escolas, como os recriados por Chazelle em sua ficção.
Jazz
O cuidado de Whiplash – Em busca da perfeição com o uso do jazz reflete o conhecimento musical de seu diretor e roteirista, e coloca o filme ao lado de outros bons exemplos de tratamento desse gênero musical no cinema, como Por volta da meia-noite (1986), sobre um saxofonista fictício interpretado por Dexter Gordon, e Bird (1988), sobre a vida e a carreira do músico Charlie Parker.
FILMOTECA
Artes em cena
Para entender melhor o contexto de Whiplash, confira uma seleção de filmes sobre escolas, professores, concursos e companhias de artes:
Rei da alegria (1940)
Dupla lendária na história do cinema musical americano, Judy Garland e Mickey Rooney interpretam um casal de namorados que, depois de premiados em uma competição na escola, disputam o concurso nacional do maestro Paul Whiteman.
Fama (1980)
Grande sucesso de público, o filme acompanha o cotidiano de estudantes da New York City High School for the Performing Arts. Eles sonham fazer carreira no teatro, na dança e na música, em especial. A trama foi atualizada em uma refilmagem de 2009.
Mr. Holland – Adorável professor (1995)
Um dos filmes mais populares na carreira de Richard Dreyfuss, que obteve uma indicação ao Oscar pelo papel de um compositor que, sem ter alcançado seu objetivo de compor uma peça memorável, ensina música em uma escola de ensino médio.
Música do coração (1999)
Inspirado na história verídica da música Roberta Guaspari, professora de violino em uma escola pública do Harlem, um bairro pobre de Nova York. Meryl Streep recebeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz pelo papel inspirador de Guaspari.
De corpo e alma (2003)
Recriação dos ensaios e das apresentações de uma fictícia companhia de dança baseada em Chicago. Seu diretor e um dos fundadores impõe sua personalidade ao dia a dia. Uma das dançarinas lida com o desafio de ser a principal estrela do grupo.
Escola de rock (2003)
Comédia dirigida por Richard Linklater (o mesmo do recente Boyhood – Da infância à juventude), com o humorista Jack Black no papel de um aspirante a astro do rock que arruma emprego como professor substituto e injeta uma dose de ânimo em seus alunos.