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Arte e Cultura

Poemas tônicos

Palíndromos e limeriques para arejar as ideias e aguçar a percepção

Publicado em 12/01/2015

por Marina Kuzuyabu

A escritora Noemi Jaffe tem uma observação muito interessante sobre os palíndromos, que, como se sabe, são aqueles versos que podem ser lidos, indiferentemente, da esquerda para a direita, e vice-versa, sem perder o significado. Sua graça reside justamente nesse aspecto lúdico e é por isso que agradam tanto, principalmente às crianças. Segundo a autora do emocionante O que os cegos estão sonhando (Editora 34), esse estilo poético tem o poder de resguardar ou resgatar em nós aquele olhar inaugural para o mundo e para as palavras que têm as crianças mais novas. É como se a leitura de poesias funcionasse como um antídoto capaz de reverter a tendência de nos habituarmos às coisas e deixar de reparar nelas.
Socorram-me em Marrocos, onde foi publicado o comentário da escritora, é uma boa dose para rejuvenescer as ideias e a imaginação. A obra é produção do artista gráfico Andrés Sandoval, que fez uma ótima seleção de palíndromos – garimpando-os do repertório de artistas como Marina Wisnik, Sofia Mariutti, Paulo Werneck e Laerte – e os ilustrou, dando origem a uma obra intrincada, onde texto e imagem aparecem como um único elemento acabado.
Versos como “Adorada Terra, arretada, roda” e “Soluço-me sem óculos” seriam por si objetos de encantamento, mas fundidos nas ilustrações de Sandoval ganham uma nova dimensão e nos despertam o desejo de retornar a eles. O eterno retorno é, aliás, uma das ideias centrais dos palíndromos, como aponta Noemi. No total, há 12 deles para adultos e crianças lerem, relerem e apreciarem as ilustrações.
E já que estamos falando sobre poemas, Passariques do meu quintal também vale a indicação. O livro é dedicado aos limeriques, poemas que, de modo geral, têm versos de cinco linhas. As duas primeiras rimam com a última, e a terceira e a quarta rimam entre si. Nesta obra, assinada por Blandina Franco e ilustrada por José Carlos Lollo, os limeriques falam sobre passarinhos que um menino vê da janela enquanto faz a lição de casa.
O livro ainda presta um tributo à grande mestra do limerique no Brasil, Tatiana Belinky (falecida em 2013), publicando quatro produções inéditas suas feitas sob encomenda para acompanhar os poemas de Blandina.
Outras leituras
O lenço branco, de Virel Boldis (Pequena Zahar, 32 págs., R$ 36)
Uma sensível história de retorno às origens e à casa paterna. Depois de dois anos vivendo na cidade, o jovem camponês decide voltar para a aldeia de sua família. Mas ele não pretende entrar na “casa de tijolos azuis como o céu” sem que sua mãe lhe dê antes um sinal de que é bem-vindo e que está perdoado pelo abandono.
Bumba-meu-boi, de Stela Barbieri e Fernando Vilela (WMF Martins Fontes, 52 págs., R$ 58)
Pesquisadores do folclore indicam que a história do bumba-meu-boi é narrada desde o século 18. Por ter sido transmitida oralmente até os nossos dias, não faltam versões para o auto. Na história deste livro, inspirada na versão maranhense, o boi tem o “courinho todo preto, salpicado de colorido”, e encanta a todos na festa de São João.
Eu, de Paulo Tatit e Walther Moreira Santos (Melhoramentos, 48 págs., R$ 46)
A história da geração de uma família – e da relação dela com a vida de uma criança – contada com muita poesia por Paulo Tatit, do Palavra Cantada. Além de belas rimas, o livro também traz ótimas ilustrações feitas com areia colorida e ainda acompanha um CD com duas faixas.

Autor

Marina Kuzuyabu


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