NOTÍCIA
Obra traz reflexões sobre o quê e como ensinar matemática na escola
Quais saberes contam como verdadeiros nas aulas de matemática? Quais são desqualificados como saberes matemáticos no currículo escolar? Quem tem a legitimidade para defender isso? É com esses instigantes questionamentos que Etnomatemática em movimento se apresenta ao público e é em torno deles que as autoras Gelsa Knijnik, Fernanda Wanderer, Ieda Maria Giongo e Cláudia Glavan Duarte se detêm nas quase 120 páginas deste livro, destinado aos futuros professores e profissionais da área que buscam uma reflexão sobre o campo da educação matemática.
Esse campo se fundamenta no princípio de que todos podem produzir matemática nas suas mais variadas expressões, ideia que se expande sob a ótica das autoras, integrantes de um grupo de pesquisa que difere de outros tantos por atribuir novos sentidos vinculados às configurações econômicas, sociais, culturais e políticas da contemporaneidade a esse campo de conhecimento – a etnomatemática.
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Essa vertente da educação matemática se desenvolveu na década de 1970 e, desde então, coloca em questão a pretensa universalidade da matemática da escola ao se interessar em examinar as práticas de fora da escola. Também introduziu deslocamentos quanto à relevância de considerar a variável cultura no ensinar e aprender matemática. Nessa perspectiva, a cultura não é compreendida como algo pronto, fixo e homogêneo e nem as práticas matemáticas são entendidas apenas como um conjunto de conhecimentos a serem transmitidos mas que estão constantemente adquirindo novos significados, pois são produtos e produtores de cultura.
Para um melhor entendimento sobre o movimento que a etnomatemática tem operado entre os que transitam nesse campo, as autoras escolheram considerar pesquisas que tiveram a intenção de mostrar como a matemática escolar se constitui em um corpo hierarquizado de conhecimentos, sustentado por pré-requisitos que instituem uma racionalidade específica, além de mostrar como a disciplina não incorpora alguns conhecimentos em seu currículo e demarca fronteiras sobre os que podem ou não ser enfatizados.
As autoras finalizam ao convocar aqueles que atuam no campo da educação matemática a refletirem sobre suas práticas, entendê-las como atravessadas pelas relações de poder e pela disputa por imposições de significados e pensá-las como uma área que não é apenas técnica, asséptica, marcada pela neutralidade, pelo conhecimento desenraizado.
Nádia Maria Jorge Medeiros, doutora em Educação pela Universidade de Brasília (UnB)