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Políticas Públicas

Identidade: escola do campo

Embora situada em distrito urbano, os gestores da escola Eugênio Trovatti optaram por classificá-la como "do campo" respeitando o perfil sociocultural de seus alunos, que vêm de assentamentos, colônias agrícolas e sítios vizinhos

Publicado em 16/07/2014

por Redacao

Identidade: escola do campo

Divulgação
Brincadeira entre os alunos da EMEF do Campo Eugênio Trovatti

O Decreto Nº 7.352, de 4 de novembro de 2010, que dispõe sobre a política de educação do campo, enfatiza que a escola do campo é aquela situada em área rural ou aquela situada em área urbana que atende predominantemente populações do campo. “São os sujeitos que constituem a identidade das escolas do campo”, afirma a psicóloga Fernanda Leal, pesquisadora e professora da Unidade Acadêmica de Educação da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba. Muitos estabelecimentos situados em distritos ou na periferia dos municípios brasileiros têm identidade rural por conta dos alunos que recebe, mas infelizmente isso não se reflete na proposta pedagógica.

O caso da EMEF Eugênio Trovatti, porém, é positivo e exemplar. Situada no distrito Bueno de Andrada, em Araraquara, desde 2010 é considerada oficialmente uma escola do campo graças ao empenho da diretora Cristiane Fontes de Oliveira e da supervisora de ensino Sueli Caires. “Qualquer pessoa que conhecesse os princípios da educação do campo constataria que era uma escola do campo. Mas não havia respaldo legal. Com o decreto presidencial, define-se o que é escola do campo: independentemente da localização, o que importa é se atende estudantes que residem na zona rural e tenham ligação com a vida no campo. Aqui havia dificuldade de definir se era perímetro urbano ou rural e ficava por conta da percepção do gestor mesmo. Na própria Secretaria da Educação havia dúvidas”, conta Cristiane. Os estudantes vêm do assentamento Horto de Bueno, de sítios e colônias agrícolas da região.

A EMEF Eugênio Trovatti é uma das três escolas do campo do município de Araraquara – as outras duas são a EMEF Prof. Hermínio Pagotto, localizada no assentamento Bela Vista do Chibarro, e a EMEF Profa. Maria de Lourdes da Silva Prado, do assentamento Monte Alegre. Os três estabelecimentos atendem um total de 425 alunos, distribuídos na educação infantil e no ensino fundamental.

Desde 2011, todas as escolas de Araraquara, incluindo as do campo, são usadas as apostilas do Sistema Sesi de Ensino. “No começo foi difícil, encaramos como desafio. Mas conseguimos conciliar com as propostas da educação do campo. O Júlio [Ribeiro, coordenador pedagógico da escola] mostrou ao corpo docente que o material didático é só um suporte, não é o que vai determinar toda a prática do professor”, diz Cristiane. “Acreditamos que, independentemente do material, a gente consegue fazer valer nosso projeto pedagógico.”

Respeito à diversidade
As escolas do campo têm autonomia para elaborar seu próprio projeto pedagógico – e a orientação é que não só valorizem o contexto cultural no qual estão inseridos seus estudantes, como também incluam os saberes rurais e as tradições locais nos conteúdos ensinados.

“Tivemos um momento de ‘toda a criança na escola’, no qual se defendia o acesso à educação. Na época, a exclusão ainda era muito grande, muitas crianças não completavam nem o ensino fundamental. Em seguida, passamos à etapa de pleitear não só o acesso mas também a qualidade do ensino”, comenta o historiador e pedagogo Júlio Ribeiro, coordenador pedagógico da EMEF Eugênio Trovatti. “Estamos agora numa terceira geração de direitos: o respeito à diversidade. Que o aluno compreenda o mundo a partir da realidade em que está inserido: campo, quilombo, periferia, meio urbano… Trata-se de um aprofundamento na questão da qualidade social da educação.”

E Júlio Ribeiro complementa: “A educação campesina em Bueno de Andrada tem suas características em relação à educação nos assentamentos Bela Vista ou Monte Alegre. E aqui é diferente também da educação de um acampamento do MST. Esse elemento fica truncado em muitas políticas públicas, que parecem considerar todas as comunidades iguais; daí o mesmo livro, mesmo sistema… Precisamos avançar e identificar o que é diferente em cada escola, em cada modalidade de ensino.”

Segundo a supervisora Sueli Caires, a Secretaria de Educação de Araraquara busca integrar as três escolas do campo por meio de eventos. “Promovemos atividades comuns ao longo do ano letivo, e essas atividades coletivas fortalecem a ligação entre os alunos. Fazemos o “dia do brincar no campo”, festa junina, exposições de trabalhos realizados pelos alunos…”, diz ela.

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Redacao


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