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Autor

Sérgio Rizzo

Publicado em 08/10/2012

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O baú colorido do “maluco beleza” Lançado nos cinemas em março, Raul – O início, o fim e o meio (Brasil, 2012, 124 min) atraiu quase 200 mil espectadores. Pode não parecer muito em um país de mais de 190 milhões de habitantes, mas é […]

O baú colorido do “maluco beleza”

Lançado nos cinemas em março, Raul – O início, o fim e o meio (Brasil, 2012, 124 min) atraiu quase 200 mil espectadores. Pode não parecer muito em um país de mais de 190 milhões de habitantes, mas é um número expressivo para documentários, que circulam em um circuito muito menor do que os longas-metragens de ficção. Agora disponível em DVD, o filme tende a ampliar de maneira significativa o seu público, alcançando moradores dos milhares de municípios brasileiros que não dispõem de salas de cinema.

Dirigido pelo fotógrafo Walter Carvalho, Raul nasceu de um impressionante volume de pesquisas, com dezenas de depoimentos e diversas imagens raras. Para organizar esse vasto material, a montagem não segue a linearidade cronológica de documentários biográficos convencionais, optando por explorar o personagem de acordo com temas. Um dos principais blocos, por exemplo, investiga as relações pessoais e profissionais entre Raul Seixas e o escritor Paulo Coelho, que foram parceiros de trabalho nos anos 1970.

Raul consagrou-se como um roqueiro singular e algumas de suas canções, como Maluco beleza, Metamorfose ambulante, O dia em que a Terra parou e Sociedade alternativa, continuam a ter um grande apelo contestador. Não por acaso, boa parte do público que assistiu ao filme nos cinemas não tinha nascido ou ainda era criança quando o compositor e intérprete morreu precocemente, em 1989, aos 44 anos. Para eles, o documentário não representa apenas um mero retrato de artista: a janela aberta por Carvalho, usando Raul como fio condutor, contempla aspectos importantes da história e da cultura popular do Brasil desde os anos 1950.

Arquitetura da opressão

Depois de estrear na direção de longa-metragem com Trabalhar cansa (2011), codirigido por Marco Dutra e exibido na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, a cineasta Juliana Rojas retornou neste ano ao principal evento de cinema do mundo com o curta O duplo, que está percorrendo agora o circuito de festivais brasileiros. No filme, uma professora (Sabrina Greve, de Uma vida em segredo) é perturbada, na escola onde trabalha, pela aparição de um “Doppelganger” (ser fantástico que assume a forma de uma pessoa).

Qual foi o ponto de partida para O duplo?
Escrevi o roteiro há cerca de um ano. Um amigo me apresentou ao mito do “Doppelganger” e descobrimos um relato, em um livro de espiritismo, sobre uma professora que, no século XIX, lecionava em uma escola de meninas. O Duplo dela começou a ser visto nos arredores da escola, até que ela foi demitida por isso. Mais tarde, descobriram que ela já havia sido dispensada de 12 escolas pelo mesmo motivo. A ideia de uma professora, que é uma figura social representativa, estar envolvida em algo tão perturbador me pareceu muito interessante. Não só pelo teor fantástico, mas também com o objetivo de utilizar os elementos do gênero para falar dessa mulher e do ambiente em que se passa o filme.

Você levou algo da sua experiência escolar para a ambientação e os personagens?
Sim. Estudei em um ex-internato, um colégio religioso onde as freiras não davam aulas, mas estavam sempre presentes pelos corredores. Para um colégio religoso, era um local razoavelmente liberal. Mas, na minha memória afetiva desse lugar, é muito forte a sensação de uma certa tensão, que vem não apenas da presença de uma moral religiosa, mas também de uma opressão da arquitetura do local.

Nas exibições, você ouviu comentários de espectadores relacionados ao fato de a protagonista ser professora e o filme se ambientar em uma escola?
O curta ainda foi pouco exibido e tivemos poucos debates sobre ele. As pessoas comentam muito sobre a questão da arquitetura da escola, e de como ela é retratada formalmente no filme, contribuindo para a construção de um clima tenso e, de certa forma, opressor. Acho que, em algum momento, alguém fez a observação (que vem do trabalho do filósofo francês Michel Foucault) de que a arquitetura de uma escola é semelhante à de uma prisão.


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