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Autor

Amanda Cieglinski

Publicado em 10/08/2012

Educar para o digital

O filósofo Pierre Lévy defende que os professores precisam vencer resistências em relação às novas tecnologias, mas rechaça a necessidade de cursos para esse fim

Como será a escola do futuro? Para além das de lousas digitais e tablets substituindo livros e cadernos, a principal revolução deverá ser nos processos de aprendizagem e na construção do conhecimento. Essas são as ideias defendidas pelo filósofo Pierre Lévy, uma das maiores autoridades em tecnologia da informação e comunicação e seus impactos nas relações sociais. Professor da Universidade de Ottawa, no Canadá, Levy esteve no Brasil em junho para participar do V Congresso Internacional da Rede Católica de Educação, em Brasília. 

Para Lévy, as principais revoluções ocorridas na humanidade decorreram de transformações nos processos de comunicação – desde a invenção da escrita, passando pela criação da imprensa até a internet. Esses adventos mudaram todas as formas de relação e organização das sociedades e, consequentemente, a forma de ensinar. “Sempre que aumentamos a capacidade cognitiva e de comunicação da humanidade, estabelecemos a base de uma nova civilização. As coisas que antes eram impossíveis agora se tornam possiveis”, explicou.

No contexo atual, Lévy defende que a “nova civilização” precisará de trabalhadores capazes de transformar a informação em conhecimento. E esse deve ser o papel da escola, partindo do princípio da aprendizagem colaborativa aberta em que alunos e professores trabalham juntos em um processo contínuo.

“A escola do futuro deverá preparar as crianças para essa nova civilização na qual o trabalho principal será de colaboração criativa dentro da memória mundial: a transformação da informação em conhecimento e do conhecimento pessoal em informação disponível para os outros. Uma vez que tenhamos compreendido o tipo de cultura para a qual estamos nos dirigindo, há alguns saberes que devem ser desenvolvidos pela escola’, defendeu.

Diante de uma plateia de dois mil professores, Levy foi taxativo: não podemos ensinar o que não sabemos. Ele ressaltou que os professores precisam vencer resistências em relação ao uso das novas tecnologias na educação, principalmente das redes sociais. Mas rechaça a ideia de cursos para que os professores aprendam a trabalhar com essas ferramentas.

“É só uma questão de entrar nessa cultura e de implementar o conhecimento pedagógico utilizando essas ferramentas”, disse.

No mar de informações da internet, Lévy aponta que a principal tarefa será ensinar aos alunos como se portar nesse ambiente. “Essa noção de atenção e cuidado na rede é muito importante para que eles adquiram noção de responsabilidade pessoal em relação à memória coletiva”, afirmou.

Para quem avalia que as redes sociais deixam os alunos dispersos, têm muito conteúdo inútil e atrapalham o processo de ensino, ele defende: “Não são as mídias sociais que terão impacto negativo nos alunos, são as pessoas que postam coisas negativas. É como se você dissesse que a linguagem tem um impacto negativo porque as pessoas mentem”, comparou.


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