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Estudos dão maior visibilidade à importância do combate à pobreza na solução dos problemas educacionais e de saúde na população mundial
Publicado em 21/12/2019
O Prêmio Nobel de Economia de 2019 foi concedido a três pessoas. A única mulher é Esther Duflo, que foi premiada ao lado de Michael Kremer e Abhijt Banerjee. Economista francesa, ela é professora do renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, e aos 46 anos, é a mais jovem e a segunda mulher a ganhar o prêmio em sua área.
O título de seu livro mais famoso, traduzido para 17 línguas – na versão brasileira, A economia dos pobres: repensar de modo radical a luta contra a pobreza global –, reflete o fio condutor de sua extensa produção, associada ao estudo da pobreza e de políticas públicas concebidas para mitigá-la. Sua obra, que transita pelas finanças, saúde, governança e educação, a credenciou a ganhar inúmeros prêmios relevantes, trajetória padrão de qualquer laureado com o prêmio Nobel. Suas pesquisas em educação e saúde foram realizadas em diversos países, como Gana, Indonésia, Índia, Marrocos e Quênia.
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Em muitos desses estudos, efeitos de intervenções foram avaliados de maneira criteriosa utilizando ferramentas até então pouco utilizadas na ciência econômica, os ensaios randomizados controlados (RCT, na sigla em inglês). De maneira semelhante ao que é feito há muitas décadas nas ciências biológicas e da saúde, uma determinada intervenção é aplicada a um grupo de pessoas e os resultados são comparados aos obtidos por um grupo semelhante de pessoas que não foram submetidas à intervenção.
Por exemplo, em 2017, Duflo e colaboradores das universidades de Stanford e Harvard publicaram artigo com resultados de uma intervenção realizada em Gana. Em 2008, 682 estudantes que estavam concluindo o equivalente ao ensino fundamental no Brasil foram sorteados entre 2.064 alunos para receber uma bolsa de estudos. Em 2016, foram avaliados os impactos na trajetória escolar desses estudantes.
Aqueles que receberam bolsa aumentaram em 55% a chance de concluírem o ensino médio em relação aos que não receberam. Os alunos bolsistas também obtiveram melhor desempenho em avaliações de língua materna e matemática, além de apresentarem comportamentos mais adequados de prevenção à saúde. Os autores identificaram também que os efeitos foram mais pronunciados nas meninas quando comparadas aos meninos.
Estudos dessa natureza – nos quais situações controladas e rigorosas de pequena escala são concebidas para fornecer subsídios para aplicações em larga escala – recebem muitas críticas, pois não seria possível controlar todos os fatores envolvidos. Por outro lado, é fundamental que políticas públicas se apoiem em evidências e estudos controlados como os realizados por Duflo. Esses trabalhos, assim como estudos com técnicas econométricas semelhantes, como a chamada Difference in Differences, podem otimizar investimentos públicos nas áreas de saúde e educação.
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