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Autor

Redação revista Educação

Publicado em 30/12/2025

A importância de uma Base Curricular de Iniciação Científica Júnior

Programa Cientista Aprendiz, desenvolvido no Colégio Dante Alighieri (SP) desde 2006, é exemplo consolidado de como aproximar estudantes da prática científica

Por Valdenice Minatel e Percia Barbosa do Colégio Dante Alighieri* | A sociedade atual enfrenta desafios complexos que exigem compreensão científica e capacidade de tomada de decisão crítica. A pandemia de Covid-19, a emergência climática, o avanço da inteligência artificial, as crises de saúde mental e a proliferação de fake news e deep fakes expõem fragilidades e tornam urgente a formação de indivíduos aptos a interpretar e agir sobre essas questões.

Neste cenário, a Alfabetização Científica (AC), presente há décadas no currículo brasileiro, assume um papel central. A AC é a capacidade do indivíduo de compreender a ciência em seus diferentes aspectos — linguagem, métodos de investigação e impactos sociais e cotidianos. Isso implica reconhecer a ciência como plural, não neutra, e construída dentro de contextos históricos e culturais específicos. 

A escola é um dos principais espaços para o desenvolvimento da AC. Além da educação formal, os espaços de educação não formal, como as atividades de Iniciação Científica Júnior (ICJ), têm ganhado destaque, especialmente impulsionadas por políticas de divulgação científica.

A ICJ é reconhecida por promover importantes benefícios aos participantes:

  • Dimensão cognitiva: favorece a compreensão da ciência e seus métodos, permitindo aos alunos vivenciar etapas da prática científica (definição de objetivos, coleta, análise e interpretação de dados), além de aprimorar a comunicação;
  • Dimensão emocional: contribui para o fortalecimento da autoconfiança, autonomia, senso de responsabilidade, disciplina, pensamento crítico e socialização.

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A ICJ pode, também, ampliar a capacidade de tomada de decisão e contribuir para escolhas acadêmicas e profissionais mais conscientes.

O programa Cientista Aprendiz (CA), desenvolvido no Colégio Dante Alighieri (SP) desde 2006, é um exemplo consolidado de ICJ que aproxima estudantes da prática científica e contribui para a AC. O programa reúne cerca de 300 alunos do 4º ano do ensino fundamental à 3ª série do ensino médio, que conduzem mais de 170 pesquisas autorais anualmente, orientados por professores mestres e doutores.

Em quase duas décadas, o CA influenciou positivamente as trajetórias de mais de 1.000 alunos, com muitos seguindo carreiras em Saúde, Psicologia, Tecnologia e Matemática, motivados por suas pesquisas no programa. Iniciativas como o CA fortalecem a agência dos estudantes, formando cidadãos críticos e engajados.

Apesar do potencial e do crescimento da ICJ, há uma escassez de referenciais curriculares específicos para essa modalidade. A ausência de orientações claras e com intencionalidade pedagógica pode levar professores a conduzirem a ICJ baseados apenas em suas crenças pessoais, nem sempre alinhadas às finalidades contemporâneas da AC, limitando o potencial formativo.

iniciação científica

É urgente consolidar políticas afirmativas que assegurem condições reais para a implementação da ICJ em todos os ambientes educativos (Foto: Shutterstock)

Base Curricular do Cientista Aprendiz

Diante disso, o programa Cientista Aprendiz recentemente divulgou a Base Curricular do Cientista Aprendiz, um documento fundamentado em referenciais contemporâneos da AC e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 

O documento estabelece cinco competências gerais (Comunicação, Produção Científica, Organização, Engajamento Científico-Social e Rigor Analítico) que norteiam a formação dos estudantes na ICJ. Este referencial flexível tem o potencial de ampliar o debate e servir de contribuição para outras instituições e professores.

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A formação docente desempenha um papel crucial. As licenciaturas brasileiras precisam preparar os futuros professores para atuar na ICJ, garantindo o alinhamento das intencionalidades pedagógicas às concepções contemporâneas de Alfabetização Científica. A formação inicial e continuada deve contemplar os conhecimentos específicos necessários à orientação de projetos de pesquisa na educação básica.

É urgente consolidar políticas afirmativas que assegurem condições reais para a implementação da ICJ em todos os ambientes educativos. Assim, será possível fortalecer a ICJ como uma prática potente, capaz de ampliar a participação dos estudantes na cultura científica e construir uma educação mais crítica, democrática e transformadora.

*Valdenice Minatel é graduada em Pedagogia pela Unicamp, mestre e doutora em Educação pela PUC-SP na área de tecnologias educacionais. Editora da revista InCiência, publicação do Colégio Dante Alighieri voltada à iniciação científica júnior. É diretora institucional e de tecnologia do Colégio Dante Alighieri.

Percia Barbosa é graduada em Ciências Biológicas pela UFMG com mestrado em Ensino de Ciências e doutorado em Ciências (Botânica), ambos pela USP. É coordenadora assistente do Cientista Aprendiz do Colégio Dante Alighieri.

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