NOTÍCIA

Por Instituto Alfa e Beto

Autor

Laura Rachid

Publicado em 05/12/2025

Como um município no Piauí está prestes a universalizar a alfabetização na idade certa

Referência nacional, Bom Jesus tem 100% de suas escolas em tempo integral. Entre as causas para os bons resultados está a atuação de uma gestão moderna-multidisciplinar, que inclui a adoção de métodos de aprendizagem comprovados cientificamente, como o fônico

Educação pública de qualidade é sim realidade no Brasil. Tanto que Bom Jesus, no Piauí, está perto de universalizar a alfabetização na educação básica, uma vez que 98,95% de suas crianças ao final do 2º ano do ensino fundamental estão alfabetizadas, segundo Indicador Criança Alfabetizada/MEC deste ano — número superior ao do estado e até mesmo do país (59,2%). No último Ideb, principal indicador de avaliação, os anos iniciais do município atingiram 7.3, enquanto a média brasileira é 6. Já nos anos finais, tidos como os mais desafiadores, a nota foi 6.8, sendo a média do país 4.6. 

Com 28.799 habitantes, o município fica a cerca de 630 quilômetros de Teresina. Bons resultados em matemática e língua portuguesa também fazem parte da realidade das escolas bom-jesuenses. E ainda é de se comemorar que pelo menos duas escolas rurais alcançaram nos anos iniciais 9.5, segundo o Ideb.

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“A partir de 2015, Bom Jesus começa a colocar esforço em uma gestão educacional mais profissional, técnica, pedagógica e estratégica”, pontua a secretária Oldênia Guerra. Na imagem, alunos do município (Foto: reprodução/Instituto Alfa e Beto)

Compromisso

Programas bem-executados, como o de alfabetização, comprovam que quando a pedagogia e a gestão conseguem se juntar de maneira consistente e contínua, resultam na melhoria educacional de todos os alunos. Essa é a avaliação para os bons frutos de Bom Jesus segundo Mario Ghio, referência em liderança escolar estratégica e presidente do Instituto Alfa e Beto.

Sobre os resultados acima da média, a secretária municipal de Educação de Bom Jesus, a professora Oldênia Guerra, que gerencia 5.437 alunos, diz: “Estamos em crescimento desde 2015. Houve queda no período pandêmico, obviamente, porque era esperado, mas fizemos um trabalho muito forte de recomposição pós-pandemia, de forma que já recuperamos e até ultrapassamos nossos objetivos. Nos anos finais, por exemplo, em 2019, estávamos com o Ideb de 6.2”. 

Visando a elevação da aprendizagem dos estudantes, as condições de trabalho docente também foram melhoradas nas escolas do município, como salário e avaliação de desempenho para gratificações. Porteiros e todos os profissionais das escolas também são acolhidos, garante Oldênia Guerra.

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Secretária de Educação de Bom Jesus, Oldênia Guerra é referência enquanto gestora contemporânea (Foto: arquivo pessoal)

Municípios distantes interessados no ‘segredo’

Além do destaque em avaliações de larga escala, outro fruto é que todas as escolas do município, a partir do maternal 2, são ofertadas em tempo integral. Segundo a secretária, há crianças que entram às 7h e só vão embora às 18h. 

Oldênia conta que os resultados, como o de quase universalizar a alfabetização, têm chamado a atenção: durante o ano, é comum receber visitas de secretarias de Educação do Piauí e até de fora do estado, mais especificamente do Maranhão. Tanto que quarta-feira, 3 de dezembro, o município sediou o evento Inspira Bom Jesus: ciência aplicada, resultados comprovados, que reuniu cerca de 400 pessoas e ao menos 39 municípios. 

O evento foi uma parceria da Secretaria de Educação com o Instituto Alfa e Beto, entidade que desde 2015 apoia Bom Jesus por meio de materiais didáticos, formações docentes e até avaliações de aprendizagem.

Metodologias corretas e resultados mensurados

“Até 2014, Bom Jesus repetia a mesma fórmula utilizada na maioria dos municípios brasileiros e o seu resultado, como esperado, não era diferente dos demais. Infelizmente, quando se trata de alfabetização, o Brasil ainda está apegado a métodos sem validação científica e que ignoram as evidências no que diz respeito a como o nosso cérebro se comporta durante o processo de alfabetização”, avalia o psicólogo Walfrido Neto, coordenador de avaliações e pedagógico no Instituto Alfa e Beto.  

Métodos de ensino e de aprendizagem baseados na ciência e gestão assertiva são aspectos cruciais, segundo Walfrido, para bons resultados educacionais. “Primeiramente, [junto à secretaria] estabelecemos como meta em Bom Jesus ter todas as crianças alfabetizadas ao final do 1º ano — a evidência cientifica nos dá segurança para afirmar que isso é perfeitamente viável. O segundo passo foi a adoção de um modelo de ensino estruturado, composto por diversos elementos, como: formação inicial para todos os profissionais da rede (professores, supervisores e gestores) com a finalidade de que todos possam entender qual o seu papel no processo”, acrescenta. 

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Quando todos passaram a saber o que devia ser feito, passou-se para a implementação e gestão do programa. Nesta fase, o processo é gerenciado de perto, conta Walfrido, mediante a apuração constante de indicadores de desempenho (testes, que podem ser personalizados) e de processo (ritmo e frequência dos alunos) — a discussão a respeito desses dados e das ações para melhorá-los passou a ser parte fundamental da rotina de todos os envolvidos. 

“Não tem segredo, educação de qualidade se faz com ciência e gestão”, reforça Walfrido Neto (*saiba mais sobre as metodologias de aprendizagem adotadas no final da matéria).

“Essa dupla, metodologia correta com a gestão correta e contínua, melhora o resultado em qualquer situação. Agora, não adianta de um lado ter a gestão e do outro uma metodologia incorreta, uma estratégia pedagógica que não funciona. Vemos muito disso em outras cidades que insistem em utilizar metodologias que comprovadamente não geram resultado. E, diante disso, os gestores não mudam a estratégia, não adotam metodologias que são cientificamente mais eficientes e que permitiriam a todos os alunos a efetivação do aprender. Contudo, Bom Jesus faz isso com absoluto rigor e consistência”, considera Mario Ghio. 

Mario Ghio, presidente do Instituto Alfa e Beto: Pedagogia e gestão, juntas e consistentes, geram bons resultados educacionais (Foto: divulgação)

Parceria de crescimento

A secretária de Educação de Bom Jesus garante que a parceria com o Instituto Alfa e Beta tem feito grande diferença nos resultados alcançados pelo município. “Primeiro, porque o instituto nos instrumentaliza com materiais pedagógicos, livros didáticos, livros de literatura; além de testes adequados a cada mês e bimestre. Todo esse material atende a demanda de nosso currículo”, explica. 

Além disso, o instituto também atua na gestão pedagógica da rede. “De nada adianta um bom material se não o implementarmos da maneira certa e sem preparar os docentes para tais materiais. Ou seja, nessa parceria temos formação contínua e plataforma digital de acompanhamento de dados em que fazemos análises: avaliamos todas as séries, da pré-escola aos anos finais, e não somente as séries exigidas em avaliações como o Saeb. É por isso que o nosso resultado é constante, porque não trabalhamos com foco em determinadas turmas. Focamos em todas”, acrescenta a secretária Oldênia Guerra. 

Brasil ainda está apegado a métodos sem validação científica para a alfabetização, alerta Walfrido Neto, coordenador no Instituto Alfa e Beto (Foto: divulgação)

Gestão escolar contemporânea deve ser técnica, pedagógica e estratégica 

O que Sobral, no Ceará, reconhecido internacionalmente como modelo de educação pública municipal brasileiro, tem em comum com Bom Jesus é o compromisso com a continuidade das políticas públicas — estratégia básica, mas ainda difícil de se concretizar pelos Brasis. 

“Esse resultado é fruto de um trabalho minucioso, de muito gerenciamento, de muita supervisão, motivação e incentivo com os profissionais, acompanhamento constante, materiais que realmente funcionam, adoção do método fônico, que é o que tem maior eficácia para alfabetizar”, cita Oldênia Guerra, que é secretária de Educação desde 2021 e exemplo de uma boa gestão. 

As mudanças na sociedade, oriundas, por exemplo, da entrada das novas tecnologias digitais e das transformações do próprio comportamento humano, têm feito profissionais dos mais variados setores se mexerem. Mais especificamente na educação, a gestão contemporânea começa a compreender que deve atuar de forma ampla e assertiva. 

“A partir de 2015, Bom Jesus começa a colocar esforço em uma gestão educacional mais profissional, técnica, pedagógica e estratégica. Antes não havia preocupação com essa profissionalização da educação, com essa gestão mais estratégica. Pela minha formação, entendo que a educação é um processo de continuidade. O que vem dando resultado, mantemos. Já o que precisa ser corrigido, ajustamos”, pontua a secretária Oldênia Guerra.

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Atuar com evidências

Mario Ghio complementa que a gestão deve estar atenta se as decisões e estratégias adotas possuem comprovação científica. Por exemplo, na alfabetização dos alunos é preciso que esse profissional saiba quais os fundamentos e evidências para a escolha da metodologia A ou B.

“Um gestor moderno é, por definição, multidisciplinar. Ele também tem de ser capaz de acompanhar dados, relatórios que indiquem se a operação da sua secretaria, da sua escola, da sua região, está acontecendo a contento, para, assim, identificar rapidamente quais são os desvios e propor ações corretivas. Ou seja, é uma gestão de projetos. Uma gestão por resultados”, orienta Mario Ghio.

O presidente do Alfa e Beto também lembra da importância das secretarias não deixaram verbas extras para trás, como as oriundas do Fundeb, que se fortaleceu para ser uma espécie de parâmetro de qualidade e equidade. 

“O gestor moderno precisa estar atento a todas as oportunidades de financiamento extra que existem no mundo educacional brasileiro. Desde que o Fundeb virou uma emenda constitucional, há dispositivos de qualidade que, quando atingidos, o governo federal passa às prefeituras um valor superior, um prêmio de qualidade por aluno. Gestores atentos a essas oportunidades buscarão essa qualidade, farão correções necessárias para chegar a esses indicadores. Portanto, conseguirão também um valor por aluno melhor para o próximo ano, quando ele poderá de novo fazer novos investimentos, novas inovações. Então, um gestor educacional moderno é capaz de juntar a pedagogia com a gestão de projetos — e usar a tecnologia para fazer a gestão de todo esse ecossistema que está sob sua liderança para, essencialmente, tomar decisões baseadas em dados e fatos”, finaliza Mario Ghio.

*Confira práticas pedagógicas com base na ciência aplicadas pelo Instituto Alfa e Beto segundo Walfrido Neto: 

O Instituto Alfa e Beto fundamenta suas práticas em bases científicas consolidadas que vêm sendo amplamente difundidas nas últimas duas décadas. Entre as principais estão:

  • Ciência cognitiva da leitura: é o foco central do currículo do instituto para entender como o cérebro aprende a ler, favorecendo a decodificação, fluência e compreensão. 
  • Método fônico e o ensino estruturado/direto (structured literacy): priorizam consciência fonológica/fonêmica, princípio alfabético, decodificação e fluência como alicerces da alfabetização. O método oferece uma solução centrada no modo como o cérebro aprende a ler. A proposta organiza a alfabetização em uma sequência explícita e cumulativa de habilidades: consciência fonológica e fonêmica, relação grafema–fonema, decodificação, leitura fluente e compreensão. 

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