NOTÍCIA

Bett Brasil

Autor

Ana Gabriela Nascimento

Publicado em 30/04/2025

Errar, aprender, recomeçar: ajustes de rota para futuros mais plurais

Escola deve criar espaços seguros para todos expressarem suas dúvidas e crescerem juntos

No contexto educacional brasileiro, marcado por desigualdades históricas e desafios estruturais, uma formação que vá além dos conteúdos curriculares é a base para construção de uma sociedade mais justa e sustentável — fato é que precisamos  caminhar para futuros plurais. O estímulo à autonomia, à capacidade de questionar e à coragem de recomeçar formam cidadãos aptos a encarar os muitos desafios que se apresentam.

Como afirmam especialistas, educar é também preparar para os desvios de rota que inevitavelmente marcam qualquer trajetória pessoal ou profissional.

Para Luana Génot, escritora e CEO do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), essa preparação começa com a consciência de que o desenvolvimento não é linear e que ações individuais podem ganhar força coletiva quando conectadas a uma visão de justiça e inclusão.

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Agenda Bett

Luana Génot e Alberto Carneiro estarão presentes na Bett Brasil 2025*, em 30 de abril, às 11h, para o painel Ajustes de rota: transformando desafios em caminhos para o desenvolvimento humano. Será no Aquário, parte do Congresso da Educação Básica.

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Para ela, situações pessoais podem se tornar catalisadoras de transformação social quando as pessoas encontram seus pares e a se articulam para fazer ecoar as suas demandas. “Uma coisa é eu comprar um livro sobre capacitismo para ensinar minha filha a não ser capacitista. Outra é me engajar para que isso se torne uma pauta dentro da escola, da rede de ensino e até mesmo nas casas legislativas de modo a beneficiar muitas outras crianças”, explica.

Essa visão de engajamento ativo — que parte do cotidiano, mas busca ampliar horizontes — se relaciona com os desafios da educação inclusiva no Brasil. Embora leis como a 10.639/03 prevejam o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas, sua implementação ainda é limitada. Segundo pesquisa do Instituto Alana e Geledés (2022), essa Lei não é cumprida em 71% dos municípios brasileiros, o que evidencia uma lacuna entre o previsto na legislação e a prática pedagógica.

futuros plurais

Luana Génot e Alberto Carneiro estarão no painel da Bett Ajustes de rota: transformando desafios em caminhos para o desenvolvimento humano (fotos: divulgação)

Representatividade para além do discurso

Génot destaca que a representatividade no ambiente escolar é uma das chaves para romper essa distância.

“Não é só ter crianças negras ou com deficiência nos materiais didáticos. É preciso ver esses sujeitos em posições de liderança, como professores, coordenadores, autores. A ausência comunica mais do que qualquer discurso. A criança aprende, com o que vê, quais lugares ela pode ou não ocupar”, argumenta Luana Génot.

Essa ausência de referência impacta diretamente nas escolhas futuras. Crianças que não se veem reconhecidas no conteúdo escolar ou na estrutura da escola tendem a limitar seus próprios sonhos. A baixa incidência de professores com deficiência demonstra essa realidade. Apesar das pessoas com deficiência serem 8,9% da população brasileira, elas ocupam apenas 0,35% das cadeiras de professores segundo o Painel de Indicadores da Educação Especial.

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Mais perguntas, menos certezas

Com longa atuação em orientação vocacional, o psicólogo Alberto Carneiro sugere que ajustes de rota sejam encarados como parte do processo de amadurecimento e não como fracassos.

“Mais importante do que lutar para não errar é investir pesado na capacitação para que possamos lidar com o erro”, afirma Alberto Carneiro.

Ele ressalta a importância da educação que valoriza perguntas e inquietações mais do que respostas fixas, incentivando o estudante a compreender que bons caminhos profissionais e de vida não precisam ser retos e idealizados.

Carneiro também propõe que a escola seja um espaço onde errar não signifique exclusão, mas possibilidade de recomeço. “Os jovens precisam de pessoas que os acompanhem e sejam capazes de oferecer apoio, segurança, nutrição, afeto e direção”, defende o psicólogo.

Segundo Génot, um ambiente escolar seguro para o diálogo e a curiosidade é fundamental para processos de aprendizagem bem-sucedidos. “Criar um espaço onde a criança possa perguntar sem ser ridicularizada é fundamental. O aprendizado acontece ali, no momento em que ela entende que pode errar, rever, aprender e seguir adiante”, afirma a escritora.

Tecnologia não tem respostas prontas

Esse espaço de confiança e escuta é ainda mais essencial quando se trata de transmitir ideais de diversidade e inclusão. Ao contrário do que muitos adultos acreditam, a nova geração não nasce mais informada ou menos preconceituosa devido ao acesso precoce a tecnologias digitais.

Luana Génot acredita que a exposição às telas ou a um volume alto de informações não substitui o papel intencional dos adultos no ensino de valores. “Os processos de criação de valores para as crianças não acontecem de forma automática. A gente precisa intervir naquilo que a gente quer melhorar de forma mais intencional porque a criança reproduz o que vê no seu entorno. Se ela escuta que inclusão é importante, mas nunca vê uma pessoa com deficiência na escola, a lição que fica é outra”, explica.

Carneiro também acredita que os avanços tecnológicos por si só não podem promover as transformações que precisamos como sociedade. “Propostas conteudistas ou malabaristicamente conectadas ao nada mais que ‘tecnológico’ podem até reluzir em um primeiro momento, porém não são dotadas de uma capacidade que promova sustentabilidade. São os valores que devem seguir como verdadeiros luzeiros norteadores de caminho” acredita.

A ideia de ajustar a rota, então, não diz respeito apenas a mudanças de planos individuais. É também sobre recalcular o caminho coletivo da educação brasileira, garantindo que todas as crianças, independentemente de sua origem, raça ou condição, tenham direito a imaginar e construir futuros mais plurais.

Bett Brasil

*A Bett Brasil é um dos maiores eventos de inovação e tecnologia para a educação da América Latina. Em 2025, acontece de 28 de abril a 1º de maio, no Expo Center Norte, SP. E nós, da Educação, estamos fazendo uma cobertura especial. Clique aqui para ficar por dentro de tudo.

Nossa cobertura jornalística tem o apoio das seguintes empresas: Epson, International School e FTD Educação.

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