NOTÍCIA
Em painel realizado na Bett Brasil, em São Paulo, especialistas destacam importância de saber quando e como utilizar IA e outras tecnologias, cuidando também do desenvolvimento da inteligência natural
A inteligência artificial tem ganhado cada vez mais espaço no debate educacional. Com isso, surgem também dúvidas sobre a melhor forma de utilizá-la a favor da aprendizagem e quais os limites de seu uso. Em roda de conversa realizada nesta segunda-feira, 28, durante o evento Bett Brasil*, em São Paulo, especialistas destacaram a importância de não rejeitar a tecnologia, mas de saber usá-la com equilíbrio e criticidade — ou seja, saber quando e como utilizá-la.
A educadora e neuropsicóloga Lígia Pacheco, uma das integrantes da mesa, destacou a importância do desenvolvimento cerebral e de habilidades socioemocionais, que precisam das relações humanas. Ela destacou que “usar a inteligência artificial generativa é fantástico”, mas ponderou que é preciso cuidar da inteligência natural. “Cérebro que se usa é cérebro que se tem. Se não usou, a gente perde mesmo”, afirmou. “Se eu paro de usar o cérebro, ele vai perder estrutura e funções.”
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Lígia também lembrou que, no caso das crianças, a questão exige ainda mais atenção, já que elas estão em processo de desenvolvimento — e precisam de experiências concretas, pois, do contrário, estrutura e funções não serão formadas devidamente.
A neuropsicóloga também defendeu que, na educação infantil, não deve haver uso de telas. E ressaltou que há tempo para tudo, ou seja, que haverá o momento para o contato com a tecnologia. “[Deve-se] Trabalhar a inteligência artificial alinhada ao desenvolvimento cerebral para que a gente não cause prejuízos e danos. Lembrando que tudo tem seu tempo.”
Da esq. para a dir.: Victor Terra, Lígia Pacheco e Tanci Simões (Foto: Juliana Fontoura/revista Educação)
Já Tanci Simões, mestra e doutoranda em ciências da computação e professora do CESAR School, pontuou que, embora haja muitas tecnologias disponíveis, é preciso ter discernimento para saber quando usá-las. Além disso, destacou que o educador não vai dar conta de todas as ferramentas que são lançadas.
“Um ponto interessante que se precisa ter em mente é que você pode usar a inteligência artificial, mas você precisa? Porque hoje a gente tem sido seduzido pela ideia de incorporar a tecnologia em todos os processos da nossa vida, fazendo sentido ou não”, avaliou.
Para a especialista, temos perdido a capacidade de refletir em quais situações faz sentido a apropriação de recursos tecnológicos — sejam inteligência artificial generativa ou não. “A gente tem um desejo muito profundo de se apropriar de tecnologias educacionais digitais e incorporar dentro do nosso ambiente escolar ou dentro da nossa trajetória profissional sem a devida criticidade”, afirmou.
A roda de conversa foi mediada por Victor Terra, repórter e analista de educação na Agência Lupa.
*A Bett Brasil é um dos maiores eventos de inovação e tecnologia para a educação da América Latina. Em 2025, acontece de 28 de abril a 1º de maio, no Expo Center Norte, SP. E nós, da Educação, estamos fazendo uma cobertura especial. Clique aqui para ficar por dentro de tudo.
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