NOTÍCIA
Encontro com lideranças globais aconteceu em Fortaleza, CE, entre 29 e 30 de outubro e teve o Brasil na posição de presidência
Publicado em 31/10/2024
O Ministério da Educação (MEC) do Brasil presidiu este ano o Grupo de Trabalho (GT) do G20 da Educação, cuja última etapa aconteceu em Fortaleza, CE, em 29 e 30 de outubro, durante a Semana Ceará: Centro Global da Educação. Já entre 1º e 2 de novembro acontece a Reunião Global da Educação, organizada pela Unesco e que também recebe lideranças de vários cantos do mundo na capital cearense.
A revista Educação foi convidada pelo Ministério da Educação e pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para cobrir os dois eventos.
O GT do G20 da Educação é composto por ministros da Educação e delegados dos países-membros. Terça, 29, ocorreu a reunião técnica com os delegados e ontem, 30, os ministros fecharam um documento com três tópicos de sugestões para a cúpula que ocorrerá em novembro com os chefes de Estado dos países-membros acatarem: valorização docente; plataformas educacionais; e engajamento escola e comunidade (*leia ao final da matéria os três tópicos).
Contudo, para qualquer um desses tópicos ganharem força nos países, é preciso viabilidade financeira.
“Apesar das diferenças entre países, há convergência de priorizar a educação e da importância de um financiamento que garanta equidade e qualidade”, disse Camilo Santana, ministro da Educação, que preside o GT do G20.
Só que o documento final não fala em financiamento, possivelmente, porque os representantes dos países-membros não chegaram a um consenso.
O G20 da Educação não teve declaração assinada pelos ministros dos países-membros, como costuma acontecer, apenas a entrega de um documento.
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“É preciso monitorar, avaliar, ter ações coordenadas e tomar decisões baseadas em resultados. Mas isso não exime o mundo do fato de que a educação está subfinanciada… O G20 reúne países com capacidade de liderar grandes transformações. Para o Brasil, a transformação social começa na educação. Por isso, defendemos que ela seja o centro de impacto social por um futuro mais justo e sustentável. E creio que demos alguns passos no desenvolvimento social hoje”, destacou Camilo Santana no encerramento do evento.
As demandas finais não possuem poder de delegação para que os países cumpram o que foi discutido, mas servem de base para as nações implantarem o que acharem necessário. Nesse processo de ação, Francisco também entende que o Brasil precisa olhar para os mecanismos de financiamento na educação, uma vez que, sem eles, viabilizar propostas como as abordadas no encontro se torna difícil.
“No G20, cada ano a ideia é escalar uma montanha. Primeiro se define a pauta, nisso, a presidência propõe caminho, mas não determina e leva em conta pedido de outros países. A cúpula, com os chefes de Estado, é a última parte. A presidência seguinte será da África do Sul”, conta Francisco Figueiredo de Souza, assessor especial para Assuntos Internacionais do Ministério da Educação e que comandou o primeiro dia.
Além do G20 da Educação, nesta mesma semana acontecem encontros em outras cidades brasileiras com membros das maiores economias do mundo para discutirem saúde; finanças e saúde; e redução de riscos de desastres.
A discussão central da terça, 29, entre os delegados de países como Alemanha, Angola, China, França, Singapura, Turquia, Canadá, Estados Unidos e África do Sul, foi sobre o quanto que o engajamento escola e comunidade é capaz de melhorar e mudar indicadores de aprendizagem na escola, isso quando se compreende que a escola é uma agente do bairro.
“O engajamento escola e comunidade entende que a escola não é equipamento isolado da comunidade, não termina no muro. É uma aprendizagem que dialoga com o contexto local, com ações que só fazem sentido localmente. Não tem modelo global. Cada escola vai ter que entender como fazer. O Brasil tem bons exemplos de engajamento escola e comunidade, mas como presidente do GT, o país não apresentou sua realidade, contudo, está coletando exemplos de fora”, explica Francisco Figueiredo de Souza.
O G20 foi criado em 1999, por conta da crise econômica financeira do momento. Em 2008 nascem os grupos de outras áreas e em 2018 lançam o GT da Educação. “O GT da Educação é uma maneira de destacar para dentro do debate econômico e financeiro a importância da educação e que ela deve estar dentro desses debates, inclusive, para receber recursos”, destaca Francisco Souza.
Ao longo do ano, o G20 da Educação selecionou três tópicos de discussão que foram abordados durante o ano por meio de reuniões online e três encontros presenciais, um em Brasília, outro no Rio de Janeiro e o último agora em Fortaleza. A valorização dos profissionais da educação foi destaque em Brasília, o qual o ministro da Educação Camilo Santana pediu para que fosse o primeiro tópico da discussão do GT. Já no RJ, a discussão ficou em torno das plataformas digitais e, durante as conversas, inteligência artificial (IA) ganhou espaço — segundo Francisco Figueiredo de Souza, do MEC, os países se mostraram preocupados com a IA na educação e entendem que precisam de regulamentação clara.
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Já a proibição de celular na escola, debatida em diferentes países, teve espaço em conversas bilaterais (com alguns países). Questionado se os países estão discutindo violência escolar, o assessor especial para Assuntos Internacionais disse que terça, 29, um vídeo de uma escola italiana apresentou que após vivenciarem situações difíceis, criaram práticas de engajamento nas comunidades.
A Organização dos Estados Ibero-Americanos atuou na organização do G20 da Educação, bem como na preparação de pautas e cooperação técnica.
O Grupo enfatiza a importância de uma educação universal inclusiva, equitativa e de qualidade para construir um mundo justo e um planeta sustentável, assim como o papel essencial dos profissionais da educação para alcançar esse objetivo. Iniciativas que promovam recrutamento, retenção, melhores condições de trabalho e desenvolvimento profissional contínuo, incluindo oportunidades de mobilidade e intercâmbio, são vitais para enfrentar a preocupante escassez de educadores observada em muitos países do G20 e além. Respeitando as diversas estruturas dos sistemas educacionais, o Grupo convoca todos os envolvidos a continuar trabalhando para valorizar e garantir a inclusão na profissão docente.
O Grupo valoriza a variedade de plataformas e conteúdos digitais centrados nos alunos e multidisciplinares sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) já existentes nos países do G20. Educadores e alunos precisam estar envolvidos no desenvolvimento de recursos digitais, que podem complementar o ensino presencial. A experiência do usuário tornou-se um elemento-chave para medir o sucesso nessa área, incluindo a extensão em que o conteúdo de qualidade é acessível e adaptável a diferentes contextos de conectividade. O Grupo também observa que a alfabetização digital e midiática se tornaram temas essenciais para os sistemas educacionais, ao lado do pensamento crítico, aprendizado socioemocional, cidadania digital e outros temas importantes. Além disso, o Grupo enfatiza que as aplicações de Inteligência Artificial na educação devem se basear em conteúdo educacional de qualidade garantida. Para isso, as soluções digitais precisam ser desenvolvidas com forte ênfase em padrões éticos, diversidade, equidade e inclusão, reconhecendo a importância de superar a divisão digital.
O Grupo destaca o potencial das práticas de engajamento entre escola e comunidade como catalisadores de uma educação universal inclusiva, equitativa e de qualidade, além de um desenvolvimento sustentável. Fortalecer a conexão entre escolas e comunidades promove um aprendizado prático e significativo, impactando positivamente os resultados educacionais. A exposição virtual organizada este ano permitiu ao Grupo identificar uma gama de práticas inspiradoras em todo o mundo. Os exemplos apresentados podem servir de inspiração para países e instituições sobre como escolas e comunidades podem se envolver mutuamente, respeitando as diversas necessidades e contextos.
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