ARTIGO
"Se as crianças conseguirem se desenvolver bem, você tem no futuro menos homicídios e mais matrículas no ensino superior”
Publicado em 26/05/2023
A primeira infância é a fase primordial da formação do ser humano e segundo Naércio Menezes, economista e diretor do Centro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância (CPAPI) do Insper, também é o caminho para combater a desigualdade. “Logo depois do nascimento, ou mesmo na gestação, já começam a aparecer essas diferenças [da classe social e da desigualdade]. Então o objetivo [principal do porquê precisamos] investir na primeira infância é tentar evitar que essas diferenças que são de certa maneira inevitáveis, não sejam tão grandes a ponto de inviabilizar o desenvolvimento das crianças mais pobres”, contou Naércio durante o segundo encontro do evento ‘Primeira infância primeiro: desafios e oportunidades de colaboração’, nesta quinta-feira, 25.
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Durante o evento, promovido pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que foi sediado em São Paulo, Naércio apresentou uma pesquisa o qual mostra que em torno de 2% dos jovens maiores de 18 anos cujas mães são analfabetas conseguem entrar na faculdade. Já para aqueles cuja mãe tem formação no ensino superior a média chega a quase 50% dos jovens. Os dados apresentados mostram nível grande de desigualdade na educação. Mas Naércio reforçou que ao se trabalhar o desenvolvimento da criança dando atenção à fase da primeira infância, as chances de combater essas desigualdades se tornam maiores.
“Investimentos na primeira infância são os que dão o maior retorno para a sociedade. Se as crianças conseguirem se desenvolver bem, você tem no futuro mais geração de empregos, menos homicídios e mais matrículas no ensino superior, mas é necessário parcerias entre estados e municípios para formular políticas intersetoriais, que fortaleçam a primeira infância”, concluiu Naércio.
Fernando Abrucio, cientista político, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), participou do evento ressaltando a importância da governança das políticas públicas para a primeira infância. “É preciso pensar em política de primeira infância no entorno do município, da comunidade e da família. Os efeitos agregados e coletivos são tão importantes quanto os individuais”.
“Se você faz uma política de primeira infância, toda a comunidade é beneficiada. Os estudos mostram que não só pessoas que tiveram políticas de primeira infância conseguiram um resultado melhor na vida adulta, mas aqueles que tiveram contato com essas pessoas tiveram melhor resultado”, complementou Fernando.
O estado pode colaborar com os municípios, criar cooperações intermunicipais, além de ter o papel de disseminar as boas práticas e experiências entre as regiões. Segundo Fernando, essas parcerias podem dar cada vez mais autonomia aos municípios na criação de políticas públicas e projetos voltados à primeira infância.
“O objetivo final, no caso da política da primeira infância, é chegar às famílias mais vulneráveis. Esse é o ponto. Se vocês [representantes dos estados e municípios] chegarem com um sistema colaborativo, irão construir uma sociedade que vai poder olhar para o futuro de outra forma. As famílias vão olhar e falar: nossos filhos e netos viverão melhor do que vivemos”.
O evento contou com a participação de representantes dos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Paraná que apresentaram os projetos e ações voltados à primeira infância em sua região.
*O evento foi transmitido ao vivo pelo canal do YouTube da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal: https://www.youtube.com/watch?v=6Qw_XVlqPQU
* *Para mais informações sobre o projeto ‘Primeira infância primeiro: desafios e oportunidades de colaboração’: Clique aqui.
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