NOTÍCIA
O que o pensador austríaco diria sobre a Educação a Distância (EAD)
Publicado em 30/04/2012
O que Sigmund Freud pensaria sobre o uso da tecnologia na educação? A partir desta edição, Educação convidará especialistas dedicados ao estudo do legado de pensadores como Freud para investigar o que eles pensariam sobre temas atuais. A ideia é fazer uma transposição da obra de autores que propõem contribuições significativas ao meio educacional para o mundo contemporâneo – como se os próprios estivessem “conversando” com o leitor. Quem inaugura a seção é Cláudia Prioste, psicóloga, psicanalista, doutoranda pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp), com estágio na Université Paris VIII e professora convidada da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), que analisa como Freud se posicionaria a respeito do uso da tecnologia e da educação a distância em educação.
Qual seria a opinião de Freud sobre a aplicação da tecnologia em educação?
Seguindo as pistas de seus escritos que falam sobre o progresso científico, arrisco algumas hipóteses. Em O futuro de uma ilusão (1927), ele deixa claro que a mente humana não permanece a mesma diante dos avanços da ciência, e que algumas funções psíquicas emergem ou se alteram em decorrência de tais transformações. Para Freud, era impossível saber se ao vivermos em uma sociedade tecnologicamente avançada seríamos mais felizes do que nossos antepassados. Além do que, considerava que a pulsão de morte – Tânatos -, vicejante em todas as pessoas, seria verdadeiro empecilho à civilização e se manifestaria também nas criações da ciência. A tecnologia poderia conter, nela própria, os germes de forças aniquiladoras. Apesar disso, Freud não deixou de exaltar os efeitos de melhoria na relação do homem com o espaço e com o tempo. Destacou as criações do telefone, do telescópio, do microscópio, da máquina fotográfica, e observou: “através de cada instrumento, o homem recria seus próprios órgãos, motores ou sensoriais, ou amplia os limites de seu funcionamento”.
Para Freud, a educação só pode existir por meio dos vínculos afetivos presenciais |
E com relação ao uso do ensino a distância para a Educação Básica?
A educação como possibilidade de sublimação das pulsões perverso-polimorfas é um ponto chave para compreendermos a visão de Freud sobre a educação. Explico: as pulsões – voyeuristas, exibicionistas, sádicas e masoquistas – estariam presentes nas crianças desde a mais tenra idade e, com a intervenção dos adultos, poderiam ser contidas por diques anímicos e convertidas em curiosidade intelectual. Assim, a tarefa da educação seria conduzir essa “energia ao longo de trilhas seguras”. Essa condução, a priori, somente poderia ser feita por meio de vínculos afetivos presenciais. O grande risco que se corre na atualidade é a “educação” estar sendo realizada pela mídia, que ao invés de promover tais diques, estimularia a liberação pulsional em direção aos objetos de consumo, promovendo uma identificação com os ídolos criados pela indústria cultural. Portanto, podemos dizer que a Educação a Distância (EAD) será possível, como complemento de uma educação presencial, somente se as bases subjetivas e simbólicas já estiverem solidificadas na criança, para que ela não fique à deriva de suas próprias pulsões perversas.