NOTÍCIA
Inspirada na Escola da Ponte, instituição particular no Pará investe em projeto em que alunos podem organizar estudos — com o professor como facilitador
Um dia letivo em que o aluno tem autonomia para organizar os próprios estudos, da ordem das aulas à definição de trabalhar sozinho ou em dupla, e até mesmo se prefere ficar ao ar livre — desde que cumprindo o roteiro estabelecido, disponível num painel que conta com as indicações para cada turma. Assim são as ‘aulas flex’, um projeto que acontece há cerca de três anos na Escola Evolução, em Parauapebas, Pará. Aplicado do 6º ao 9º ano, começou de forma experimental, passou a ser realizado uma vez por bimestre e, hoje, acontece uma vez por mês. A ideia é que, com o tempo, se torne cada vez mais frequente.
As ‘aulas flex’ se inserem dentro de uma proposta maior da instituição: a de apostar em metodologias ativas. Além disso, partem do interesse da diretora e dona da escola, Francisca Edite Figueiredo, pelas ideias aplicadas na Escola da Ponte — que, criada por José Pacheco (colunista da revista Educação), se caracteriza justamente pela autonomia dos estudantes e por se distanciar do modelo tradicional, sem salas de aula ou divisão por séries. “Eu me interessei por conhecer como a gente poderia trazer isso para a nossa realidade do dia a dia”, afirma a gestora, que tem formação em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará e se define como uma “entusiasta da educação”.
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A diretora explica que, na proposta das ‘aulas flex’, o importante é que o aluno cumpra a rotina estabelecida, mas cada um pode organizar o dia da forma que preferir. O estudante pode, por exemplo, começar pela aula que seria a última no horário tradicional. Além disso, no modelo, o professor atua como facilitador. “O professor está ali para dar uma orientação, para tirar as dúvidas. E o aluno vai ter também o suporte digital de que ele precisa — com tablets que a escola oferece”, explica. O docente pode, ainda, inserir a proposta de que, em um momento do dia, o aluno assista a um vídeo na biblioteca, por exemplo.

Nas ‘aulas flex’, alunos ganham mais autonomia para organizar estudos (Foto: divulgação/Escola Evolução)
Como resultado, segundo a diretora, o estudante ganha mais autonomia e responsabilidade sobre o próprio conhecimento. Além disso, o projeto se alia à proposta da escola (que atende da educação infantil ao 9º ano) de apostar no protagonismo do aluno — algo que, segundo Edite, está presente na instituição desde a sua fundação, há 32 anos. Contudo, no pós-pandemia, houve uma intensificação da aposta em metodologias ativas, algo que teve como fator impulsionador justamente o período pandêmico e a necessidade de buscar novas alternativas de ensino.
Nesse contexto, pouco após a pandemia de Covid-19, a escola promoveu com os professores um estudo do livro Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação (Penso ed.), que tem Fernando Trevisani entre os organizadores. Fernando foi até à escola para dar formação para os docentes. “A partir desse livro, nós fizemos todo um estudo de grupo e começamos a direcionar melhor tanto o nosso planejamento quanto a nossa prática. E, então, a gente começou a utilizar as metodologias ativas na escola com referências mais bibliográficas”, conta a diretora Francisca.
Além das ‘aulas flex’, há também a presença de outras metodologias ativas, como a sala de aula invertida, o laboratório rotacional, a rotação por estação e a rotação individual — as quatro mais utilizadas pelos professores. Contudo, grupos produtivos e aquário também são usados. Os resultados, segundo a diretora, são notados até mesmo para os mais novos. “Hoje, até os meninos da educação infantil já se tornam mais organizados e mais autônomos”, garante.
Segundo ela, a utilização desses modelos também facilita a inclusão. “Quando o professor organiza uma aula com as metodologias ativas, ele tem a possibilidade de dar suporte individual e mais atenção aos grupos que mais precisam dele”, analisa.

Metodologias ativas permitem que docente tenha mais tempo para orientar quem mais precisa dele, avalia a diretora (Foto: divulgação/Escola Evolução)
De acordo com a gestora, no início, houve resistência dos professores com relação às novas metodologias. “A gente teve muita resistência porque, como é um campo um pouco desconhecido dos professores, eles tinham muita insegurança se a metodologia ia funcionar ou não, se os alunos iam render ou não”, explica. Contudo, os professores perceberam os resultados e as possibilidades da utilização das metodologias ativas. E, além disso, a escola investe muito em formação docente, para prepará-los para a utilização desses modelos. Há diferentes formações e treinamentos, que englobam também outros temas, além do oferecimento de feedbacks da coordenação.
Contudo, ainda há a presença de aulas tradicionais. Porém, além das metodologias ativas, já há algum tempo que a instituição também não trabalha mais com salas de aula com cadeiras enfileiradas — exceto em períodos de aplicação de avaliação individual.

Francisca Edite Figueiredo é diretora e dona da Escola Evolução, em Parauapebas, Pará (Foto: Renato Rezende)
Para a diretora, ainda que seja difícil falar sobre o futuro da educação, sobretudo por vivermos num mundo de transformações cada vez mais velozes, há um ponto que ela considera uma certeza: que o modelo tradicional não será capaz de atender o aluno desses novos tempos.
“As escolas têm de desenvolver novas metodologias e buscar novos formatos, porque se você for verificar, hoje, todo o mundo já está atualizado. Há novas formas de fazer compras, de viajar, de se relacionar com as pessoas. Tudo mudou. Por que a escola precisa ser a mesma do século passado? Cadeiras enfileiradas, o professor na frente da sala de aula ministrando conteúdos, os alunos anotando. O professor, às vezes, fazendo de conta que está ensinando, e o aluno fazendo de conta que está aprendendo”, reflete a diretora Francisca Edite Figueiredo.
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