NOTÍCIA

Academia Líderes de Educação

Autor

Juliana Fontoura

Publicado em 09/10/2025

Maya Eigenmann: é preciso mudar a forma como enxergamos a infância

Neuropedagoga parental e difusora da educação positiva defende combate à visão de que crianças devem ser ‘domesticadas’. E ressalta que escola não tem opção de acolher apenas o aluno, já que não é possível separá-lo do aspecto familiar

Um tema que tem sido objeto de debate nos últimos anos — amplificado pelas redes sociais — é a educação positiva. Maya Eigenmann, neuropedagoga parental e difusora da abordagem, esclarece que não se trata de não estabelecer limites, mas sim de compreender que, para fazer isso, não é preciso ser “estúpido nem grosseiro”. E ela faz um alerta: é necessário mudar a forma como enxergamos as crianças e a infância. Isso porque há uma visão de que as crianças são difíceis e é preciso de dureza e autoritarismo para educá-las. “O primeiro passo é abrir mão dessa visão adultista pejorativa em relação às crianças”, afirma. Essa mudança vale para todos os contextos — e é importante também para aqueles que ocupam espaços escolares.

Maya participou na terça-feira, 7 de outubro, do evento Em tempos turbulentos, como manter a escola firme, promovido pela Academia Líderes de Educação (iniciativa da revista Educação), que reuniu lideranças de escolas em São Paulo (SP). A mediação do painel foi feita por Irene Reis, doutoranda em saúde mental.

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Ao longo da conversa, Maya falou, por exemplo, sobre como há um olhar para as crianças como se elas tivessem de ser ‘domesticadas’ — e que, com essa visão, o que vier do adulto será pejorativo e destrutivo. A especialista defende que, ao compreender que a criança nasce generosa, bondosa, cooperativa e interdependente, é possível ajudá-la a lidar com os desafios e conflitos que ela enfrenta. “Se eu sempre penso o pior dessa criança num conflito, eu sempre vou vir de um lugar bélico, emocionalmente falando. Eu sempre vou tentar restringir, sempre vou tentar destratar. Mas se eu entendo que, na sua natureza, a criança é constituída por bondade, aí eu entro em cena de um lugar completamente diferente.”

Maya Eigenmann

Maya Eigenmann, neuropedagoga parental e difusora da educação positiva, participou do evento ‘Em tempos turbulentos, como manter a escola firme’, promovido pela Academia Líderes de Educação (iniciativa da revista Educação) (Foto: Thiago Carvalho/revista Educação)

Escola e família

A neuropedagoga parental também falou sobre o acolhimento das famílias por parte das escolas. “A escola não tem a opção de acolher só o aluno porque o aluno não vem sozinho, ele vem com o pacote completo, que é a família que ele tem — seja qual for essa família”, afirmou. 

Ela ressaltou, ainda, que os resultados escolares da criança podem ser reflexo do que é vivido em casa. “Não tem como separar o pessoal do profissional nas empresas, assim como não tem como separar o pessoal do familiar de uma criança na escola. As notas da criança podem ser literalmente resultado do que ela vive em casa e do que ela vive em sala de aula. Não é tanto sobre apenas a competência intelectual, é sobre a competência emocional dessa criança. Então, se a escola, nesse momento, ainda não está nesse espaço de acolhimento familiar, ela precisa se atualizar, porque a criança está trazendo a família para dentro da sala de aula. Quer a escola queira, quer não.”

Prevenção e redução de riscos: o cuidado com o emocional do adulto

Outro aspecto abordado por Maya, crucial para que essa educação mais respeitosa possa acontecer, é o cuidado com o emocional do adulto. Da mesma forma que é preciso se alimentar para o corpo funcionar, também é necessário fazer uma “nutrição emocional” — que pode incluir medidas como cultivar amizades seguras, usar menos o celular, estar na natureza e, para quem tem essa possibilidade, fazer terapia. 

“Se eu não cuido das minhas emoções, eu não funciono. A gente pode se enganar, só que aí o burnout vem, as doenças mentais vem, o desgaste emocional vem. E as estatísticas estão berrando isso. Então, é entender que não é uma questão de luxo. Cuidar da parte emocional é uma questão de sobrevivência, é uma questão de vida”, afirmou a especialista.

Com essa nutrição emocional, é possível estar mais ‘regulado’ e prevenir, por exemplo, que o estresse e a raiva interfiram no educar. Quando não há prevenção, resta a redução de danos. “Precisamos entender que, se eu estou com raiva, não é hora de abrir a boca, não é hora de ensinar e não é hora de educar, porque, se não, vou falar besteira”, explicou. Nesse caso, o recomendado é esperar e falar em outro momento, para evitar, justamente, que o adulto acabe por falar de maneira desrespeitosa com a criança, ferindo o(a) filho(a).

Maya Eigenmann é autora dos livros A raiva não educa. A calma educa e Pais feridos, filhos sobreviventes, ambos publicados pela editora Astral Cultural. É sócia e professora da Escola da Educação Positiva e possui mais de 1 milhão de seguidores no Instagram. 

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