NOTÍCIA
Iniciativa ágil de profissionais de educação leva perspectivas a moradores do bairro mais vulnerável de uma região que ainda sente os impactos da guerra civil
Por Vanderlei Dias* | Há 21 anos, a província Cuíto, uma das 18 de Angola, sofreu um cerco de nove meses, o qual resultou em dezenas de milhares de mortes e consequências que se estendem até hoje. O impacto e os traumas foram acentuados no bairro Camalaia, na periferia do município de Bié. “A comunidade ainda carece de serviços essenciais de água, energia, saúde, além de uma oferta insuficiente de escolas. Em 2022, vimos que muitas pessoas priorizavam aprender a ler e escrever. Pensamos em uma ação para atender os adultos, mas imediatamente chegaram mais de 400 crianças”, conta Helena Mumbépia, gestora da escola Geração de Samuel e articuladora do projeto Camalaia tem um pai. Ela será uma das painelistas da Bett Brasil 2025.
Helena explica que a localidade foi uma das mais afetadas na guerra civil e a comunidade inclui pessoas que regressaram de refúgio em países próximos. Sustentados por recursos privados, os participantes do projeto instalaram três salas, ocupadas em quatro períodos de aulas. Para responder à demanda das crianças serão ampliadas as instalações e montada uma escola em setembro deste ano.
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Helena lembra ainda que, para viabilizar a alfabetização, era necessário atender crianças em situação de fome ou forte insegurança alimentar. Há cerca de um ano, se complementou oferta de aulas com uma cozinha comunitária. “Ainda servimos ao ar livre, sem um refeitório”, menciona.
A Geração Samuel, na qual Helena é CEO, é uma escola particular, na região central de Bié. A instituição contribui com professores remunerados e outros recursos. “Há também professores voluntários”, diz.
Atualmente, Helena mora no Brasil por razões familiares. Todavia, ela busca aproveitar esse período para intensificar o intercâmbio com educadores e regressar a Angola com novas ideias. “O Brasil tem referências de avanços em uso de tecnologia, formação de professores, além de muitos pontos comuns conosco em história e cultura. Temos povos resilientes, alegres e com muita vontade de aprender”, avalia.
A empatia, contudo, também inclui problemas relacionados à segurança, saúde mental e exclusão da cidadania. “Passei a infância assustada com barulhos de tiroteios e durante a adolescência via a fome extrema”, lembra.
A angolana e gestora de educação Helena Mumbépia é uma das painelistas do Bett Talks, desenvolvimento humano, com a apresentação Empoderamento através da educação: superando barreiras socioeconômicas. Seu painel terá a participação de outras pessoas com atuação de impacto social. Será em 29 de abril, das 10h30 às 11h30, no Painel expositivo, 1º andar.
Helena Mumbépia é diretora-geral da escola Geração de Samuel, em Angola (Foto: reprodução)
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