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Instituto Ayrton Senna

Artigos escritos por pesquisadores do laboratório de ciências para educação do Instituto Ayrton Senna (eduLab21)

Publicado em 21/01/2025

Lidando com frustrações: um olhar sensível para resultados de avaliações educacionais

Frustração diante de resultados desfavoráveis nessas provas também ressoa no professor e na escola; estratégias ajudam a compreender esse contexto e apoiar o estudante

Por Ana Crispim*, Ana Zuanazzi** e Lilian Dantas*** | Série – Saindo do senso comum – capítulo 3 | Você já acompanhou relatos em redes sociais sobre aprovação nas universidades? Já se deparou com falas como: “É o segundo ano que tento e não consigo passar. Estou cansado, parece que o que faço não é suficiente, estou perdendo tempo tentando.”? Geralmente, em períodos de divulgação de resultados de avaliações que influenciam trajetórias acadêmicas ou profissionais, o volume desses conteúdos em redes sociais aumentam e repercutem em ambientes educacionais. Esses momentos contribuem para a vivência de diferentes emoções no estudante, sua família e educadores.

Quando as expectativas de resultado não são atendidas, é comum que surjam sentimentos de frustração e dúvidas sobre o futuro. A ideia de que a dedicação aos estudos e à preparação para a avaliação foi um tempo perdido compromete a percepção de que muito foi aprendido e desconsidera os diversos contextos vivenciados pelos estudantes.  

Para as famílias, esse momento também simboliza uma conquista, seja pelo objetivo alcançado pelo estudante, seja pelo acesso a uma oportunidade que anteriormente era inacessível. Reconhecer essas diferentes realidades, especialmente em contextos socioeconômicos mais vulneráveis, é essencial. Isso porque estudos têm sugerido que jovens mais vulneráveis frequentemente enfrentam desafios adicionais, como limitações financeiras, menor acesso a redes de contatos e menos oportunidades para desenvolver suas habilidades e explorar seus interesses (OCDE, 2024).

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Esses desafios atravessam, de forma estrutural, suas possibilidades de desenvolvimento, podem influenciar seu desempenho acadêmico e, consequentemente, o acesso a incentivos de estudo e preparo para o futuro profissional como bolsas de estudo, acesso a cursos para entrada no ensino superior ou programas de treinamento. 

A frustração diante de resultados desfavoráveis nas avaliações educacionais também ressoa no professor e na escola. Educadores, enquanto agentes de mudança, também carregam expectativas e questionamentos nesses momentos. A notícia boa é que existem estratégias que ajudam a melhor compreender esse contexto e apoiar o estudante nesse momento delicado. Vamos refletir sobre como lidar com esse tema na escola?

avaliações educacionais

Quando algo não ocorre como o esperado, como pode ser o caso de avaliações educacionais, é fundamental compreender como o jovem percebe isso no seu futuro e todas as vulnerabilidades desse cenário (Foto: Shutterstock)

Como os professores podem trabalhar esse tema em sala de aula? 

Assim como o estudante, é comum que exista um senso de responsabilidade do professor com os resultados dos estudantes nas avaliações. Refletir que os resultados estudantis dependem de múltiplos fatores ajuda a contextualizar as expectativas e sentimentos e pode ajudar a lidar com momentos de autocrítica exagerada.  

Também é importante manter o foco em ações que promovam o aprendizado e a motivação para aprender e estudar, como revisitar práticas pedagógicas, ou introduzir novas práticas e estratégias de ensino. Complementa-se a isso possibilidades de estratégias como dialogar sobre dificuldades, oferecer suporte emocional, reconhecer o esforço e progressos individuais evitando comparações externas, ofertar incentivos que ajudem a valorizar conquistas e indicar pontos de aprimoramento, promover a autonomia do estudante por meio de dinâmicas de aprendizagem e conectar os conteúdos de sala de aula com experiências de vida. 

É importante lembrar que, apesar de acontecerem majoritariamente em sala de aula, essas ações podem, e devem, fazer parte de um conjunto de ações alinhadas com todas as estratégias da gestão escolar para lidar com esse tema. Dessa forma, constrói-se um diálogo contínuo e estruturado com todos os atores educacionais e com soluções que são complementares entre si. 

Como a gestão escolar pode atuar com esse tema de forma estratégica? 

Os resultados das avaliações também geram impactos na escola. Entre diversos desafios que os gestores lidam ao acessar os resultados das avaliações educacionais, como entender a fundo seus indicadores e informações, eles também precisam gerenciar pressões e preocupações das famílias e da comunidade escolar. 

No nível da gestão, esses impactos demandam repensar ações em diferentes frentes, de forma que as ações institucionais sejam consistentes, sistematizadas e condizentes entre si.

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Na prática, isso se traduz em ações que devem ser realizadas ao longo do ano, de forma estruturada e contínua, para que estudantes e educadores possam desenvolver habilidades e repertório para lidar com desafios. Exemplos disso são a promoção de campanhas transversais sobre temas como estratégias para remediar lacunas de aprendizado, para promover o acompanhamento das famílias nas ações escolares e para conscientizar sobre a importância do desenvolvimento de competências que apoiam o processo de ensino e aprendizagem, como as competências socioemocionais.  

Oportunizar espaços de troca de experiências e formações também instrumentalizam professores para o acolhimento dos estudantes antes e depois dos resultados de avaliações e contribuem para a construção de um clima escolar mais amistoso e acolhedor.  

Quando algo não ocorre como o esperado, como pode ser o caso de avaliações educacionais, é fundamental compreender como o jovem percebe isso no seu futuro e todas as vulnerabilidades desse cenário. Nas escolas, é importante celebrar conquistas de forma equitativa, reconhecendo as diferentes trajetórias de cada estudante.  

Valorizar o caminho percorrido ajuda a criar um ambiente acolhedor e engajador, onde todos se sentem motivados a continuar avançando no seu próprio ritmo. Junto disso, fortalecer a autoconfiança do jovem, acolher sentimentos e frustrações, e oferecer suporte para reajustar a rota, são ações necessárias. Afinal, decisões sobre o futuro requerem sensibilidade e cuidado, e todo jovem, independentemente da sua realidade atual, tem direito a acessar oportunidades e ferramentas que o ajudem a planejar, sonhar e alcançar todo seu potencial.  

Para saber mais 

Atividades práticas da iniciativa Volta ao Novo para o desenvolvimento socioemocional nas escolas, lançado em 2020: https://institutoayrtonsenna.org.br/o-que-fazemos/disseminacao-escala/volta-ao-novo/ 

Relatório feito pela OCDE sobre desafios e barreiras de oportunidades encontradas por jovens de determinados grupos durante sua trajetória escolar: https://www.oecd.org/en/publications/challenging-social-inequality-through-career-guidance_619667e2-en.html 

E-book Motivação para aprender: as atuais contribuições da ciência https://institutoayrtonsenna.org.br/app/uploads/2022/11/IAS-e-book-motivacao-para-aprender-vol-1-1.pdf 

*Ana Crispim é gerente de pesquisa do Laboratório de Ciências para Educação (eduLab21) do Instituto. Psicóloga, mestre em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em psicologia, com ênfase em psicometria pelo programa de pós-graduação em psicologia da University of Kent, Reino Unido, com pós-doutorado em modelagem estatística para ciências do comportamento na Universidade de São Paulo.      

**Ana Zuanazzi é gerente de pesquisa do Laboratório de Ciências para Educação (eduLab21) do Instituto. Psicóloga, doutora em psicologia com ênfase em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco, mestre em psicologia pela Universidade de São Paulo, especialista em neuropsicologia pelo Centro de Diagnóstico Neurológico.   

***Lilian Dantas é estagiária de pesquisa no Laboratório de Ciências para Educação (eduLab21) do Instituto Ayrton Senna. Bacharel em Ciências e Humanidades pela Universidade Federal do ABC, atualmente é estudante dos cursos de Psicologia na Universidade Municipal de São Caetano do Sul e Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC.

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