NOTÍCIA
Coletânea do Itaú Cultural Play contém 12 documentários, ficções e animações que destacam as lutas de diversos setores da sociedade brasileira na busca pela dignidade e liberdade, entre eles, ‘Carandiru’ e ‘Cabra marcado para morrer’
O streaming gratuito de cinema brasileiro Itaú Cultural Play lança mais uma coleção de filmes com potencial para os professores e professoras usarem para debater com os alunos, ou como base para a preparação de material de ensino. Desta vez, a coletânea se debruça sobre um tema cada vez mais em voga, os direitos humanos.
Cinema e Direitos Humanos traz 12 documentários, ficções e animações, alguns deles clássicos do cinema nacional, que destacam as lutas de diversos setores da sociedade brasileira na busca pela dignidade e liberdade. Os filmes reafirmam a máxima de que todas as pessoas devem ter as mesmas oportunidades, independente de raça, gênero, língua, religião, origem ou qualquer outra condição.
O acesso à Itaú Cultural Play é gratuito para todo o Brasil, disponível em www.itauculturalplay.com.br. Dos 12 filmes, três são estreias na plataforma, como o clássico Carandiru (2003), de Hector Babenco. Baseado no livro de memórias Estação Carandiru (1999), de Drauzio Varella, o longa-metragem mistura realidade e ficção e retrata o período em que Drauzio atuou como médico voluntário no presídio, palco de uma das maiores chacinas policiais da história, em 1992.
No enredo, Drauzio, vivido pelo ator Luiz Carlos Vasconcelos, depara-se com o ambiente hostil do Carandiru, onde os prisioneiros sofrem com a violência, a lotação de celas e outras violações de direitos. Com um elenco de estrelas, entre eles Wagner Moura e Aílton Graça, o filme acumula mais de 20 prêmios e uma indicação à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2003.
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Outra estreia é Era o hotel Cambridge (2016), de Eliane Caffé, que também conquistou importantes prêmios, como os de voto popular no Festival do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ambos em 2016. Um grupo de refugiados recém-chegados no Brasil e trabalhadores sem-teto se unem para ocupar um prédio abandonado no centro de São Paulo. Exibido em vários festivais no Brasil e no exterior, o drama é uma representação sensível da luta pelo direito à moradia.
A Irmandade (2019), de Juscelino Ribeiro, também foca na nova geração. Três jovens, Lu de Sta Cruz e os irmãos Preto Kedé e Aliado usam o rap como forma de expressão e resistência em um período de muita violência nas comunidades onde vivem, em Teresina, capital do Piauí. Por meio da música, o trio conscientiza os moradores sobre a situação local, denunciando o racismo, a violência policial e a parcialidade da mídia.
Um dos filmes essenciais do cinema nacional, Cabra marcado para morrer (1984), do grande documentarista Eduardo Coutinho (1933-2014), que já foi homenageado no projeto Ocupação do Itaú Cultural, entra agora para a coleção Cinema e Direitos Humanos. Trata-se de um documentário sobre João Pedro Teixeira, líder da Liga Camponesa de Sapé, na Paraíba, assassinado em 1962. A produção teve de ser paralisada devido ao golpe militar, em 1964, tendo parte de seu material apreendido. Passados 20 anos, Coutinho retornou ao local para terminar de contar a história do ativista e da luta camponesa do ponto de vista da viúva de João, Elizabeth Teixeira, e dos seus filhos.
Dá continuidade à curadoria a animação O menino e o mundo (2013), de Alê Abreu, que ficou conhecida após ser finalista do Oscar da categoria em 2016, feito inédito no cinema brasileiro. Com trilha sonora do rapper Emicida e do percussionista Naná Vasconcelos —também homenageado em uma Ocupação recente no IC —, o filme mostra a trajetória de um menino em busca do pai, que saiu do campo para ganhar a vida na cidade grande. A trilha sonora, assim como a beleza dos traços e a variedade de técnicas usadas, fez com que a obra de Alê Abreu se tornasse uma das mais celebradas do país.
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Une-se à lista de clássicos Serras da desordem (2006), do cineasta italiano-brasileiro Andrea Tonacci (1944-2016). No filme, Tonacci passeia livremente entre documentário e ficção para contar a história de Karapiru, indígena sobrevivente de um massacre que dizimou sua família em 1977. O homem perambulou pelas serras do centro do Brasil até ser encontrado 10 anos depois e virar alvo da mídia. A produção, que recebeu vários prêmios na época, se debruça de maneira épica sobre uma das piores tragédias da história do país, o sistemático massacre dos povos indígenas. Em 2021, Karapiru faleceu de covid-19.
A outra animação da coletânea é Torre (2017), de Nádia Mangolini. O curta-metragem dá vida aos relatos de quatro irmãos, filhos de Virgílio Gomes da Silva, primeiro desaparecido político da ditadura brasileira. Sua sensibilidade e inventividade lhe renderam mais de 15 prêmios no Brasil e no mundo. Labirinto de papel (2015), da dupla André Araújo e Roberto Giovanetti, também aborda crimes cometidos durante a ditadura. Premiado no Edital Marcas da Memória, do Ministério da Justiça, o documentário mostra a investigação de um grupo de pesquisadores tocantinenses sobre o envolvimento do regime em mortes suspeitas de militantes na então região norte de Goiás, hoje pertencente ao estado de Tocantins.
Tanto o longa-metragem Branco sai, preto fica (2014), quanto o curta-metragem O dia de Jerusa (2013), têm narrativas que exploram questões relacionadas à população negra brasileira. No primeiro, grande vencedor do Festival de Brasília de 2014, o diretor goiano Adirley Queirós apresenta uma ficção científica com crítica social afiada. Tiros em um baile de black music na periferia de Brasília ferem dois homens, que ficam marcados para sempre. Um terceiro vem do futuro para investigar o acontecido e provar que a culpa é do Estado.
Em O dia de Jerusa, uma jovem pesquisadora, em busca de pessoas para responderem um questionário sobre uma marca de sabão, bate na porta de Jerusa, uma senhora que mora em um sobrado antigo. A personagem, vivida pela grande atriz Léa Garcia, transforma o que era para ser uma conversa trivial em uma troca de memórias e sentimentos entre duas gerações de mulheres negras. A direção é de Viviane Ferreira.
Encerram a coletânea Cinema e Direitos Humanos dois longas-metragens sobre a educação brasileira. Em Eleições (2018), a cineasta Alice Riff utiliza recursos próprios das mídias digitais e da linguagem dos influenciadores, que começavam a ganhar destaque na época, para registrar a corrida eleitoral para o grêmio estudantil de uma escola do centro da capital paulista. Nesse contexto, quatro chapas, com ideologias diferentes, dialogam em busca de melhorias no colégio.
Abraço (2020), primeiro longa-metragem do diretor DF Fiuza, acompanha uma greve de professores sergipanos contra o governo do estado em defesa de melhores condições trabalhistas. Inspirado em acontecimentos reais, o drama teve trilha original de André Abujamra e Eron Guarnieri, além da participação de Chico Cesar.
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