ARTIGO

Olhar pedagógico

Aprendizagem por meio de agências de notícias escolares 

Há 18 anos o programa Imprensa Jovem fomenta a criação de canais de comunicação em escolas municipais de SP

Publicado em 08/08/2023

por Leticia Scudeiro

Imprensa Jovem_2 Foto: divulgação

Com muitos casos de estudantes apresentando dificuldades de aprendizagem, o CEU EMEF Professor Paulo Gonçalo dos Santos, em Balneário São Francisco, SP, criou em 2012 um projeto para que esses alunos tivessem uma nova metodologia de aprendizagem. A proposta da professora Lucimara Gabriel faz parte do programa Imprensa Jovem, da Secretaria Municipal de São Paulo, que oferece às escolas a oportunidade de criar suas próprias agências de notícias e em qualquer formato: rádio, jornal, TV, ou até mesmo redes sociais. 


Leia também

Em documentário, jovens se conectam ao digital e constroem o futuro que desejam

Mauricio de Sousa, o educador transmidiático


Com os estudantes no papel de repórteres para a Agência de Notícias Planeta CEU — nome dado pela escola —, eles ampliaram seus conhecimentos e trabalharam com suas dificuldades por outra perspectiva. “Os alunos deram significado real a tudo que liam, pesquisavam e escreviam”, comenta Lucimara.

“À medida que eles se apropriam de novos conhecimentos e habilidades, tornam-se multiplicadores de saberes. Isso reflete diretamente na melhora e superação da indisciplina, ajuda no desenvolvimento da autonomia e responsabilidade. Quando o estudante veste o colete do Imprensa Jovem é nítida a mudança de postura”, acrescenta.

Segundo a professora Lucimara, a escola não utiliza o termo ‘recuperação’, o espaço voltado para o aluno é nomeado como Imprensa Jovem e Rádio Escolar, como uma forma de incentivá-los e gerar identificação com o grupo da agência de notícias. Isso desperta nos jovens vontade de participar do projeto — que ainda conta com a participação voluntária de estudantes não identificados para a recuperação.

Em 2022, um dos trabalhos foi o desenvolvimento do seminário Mulheres protagonistas do CEU, em parceria com os professores de história e geografia, e o projeto de dança cigana, voltado à valorização das mulheres do colégio que muitas vezes não estão em destaque, como professoras, cozinheiras, profissionais da limpeza e mães.

No CEU EMEF Professor Paulo Gonçalo dos Santos, a iniciativa apoia estudantes com dificuldades de aprendizagem que seriam levados para a recuperação tradicional
Foto: divulgação

Programa Imprensa Jovem 

Esse é apenas um dos projetos desenvolvidos pelo Imprensa Jovem. Criado em 2005 em uma escola da rede pública, ganhou força no ano seguinte, quando passou a fazer parte da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, sob a responsabilidade do Núcleo de Educomunicação. O objetivo é fomentar canais de comunicação da escola com a comunidade. Atualmente, com 18 anos de história, fazem parte do programa quase 300 escolas públicas e, apesar de ainda não ter nenhuma adesão, ele também é aberto para as escolas particulares.

O programa pode ser implementado em todos os níveis da educação básica, com estudantes a partir dos três anos. Está presente em algumas escolas de educação para jovens e adultos (EJA), escolas indígenas e escolas para surdos.

“É um projeto customizável. Toda escola pode começar da maneira que quiser, como quiser e pela mídia adequada. Temos programas de rádio que se tornaram agências de notícias da Imprensa Jovem, projetos de jornal, redes sociais e, inclusive, um projeto de jornal mural”, esclarece Carlos Lima, coordenador do Núcleo de Educomunicação de São Paulo e coordenador do Imprensa Jovem.

Imprensa Jovem

Carlos Lima, coordenador do Núcleo de Educomunicação e idealizador do programa Imprensa Jovem
Foto: divulgação

Cada escola possui uma agência de notícias e projetos individuais e o Núcleo de Educomunicação às vezes realiza trabalhos em conjunto, por exemplo, campanhas contra fake news que englobam mais de uma escola. Além disso, todos os estudantes que fazem parte do programa também recebem acesso a diversos eventos para a realização de matérias e coberturas.


Leia também

Rádio como meio para as habilidades socioemocionais


Formação dos educadores

Como o projeto dá autonomia para as escolas, o Núcleo de Educomunicação oferece para professores e estudantes cursos preparatórios para a implementação do programa e cursos específicos realizados por especialistas contratados da área de educomunicação, como fotografia, direitos autorais, STEAM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática), entre outros.

A implementação do programa é feita com os estudantes e conta com exercícios práticos. Pode participar qualquer professor que já tenha o programa na sua escola, seja para aquele que deseja implementar ou apenas conhecer.

“Tivemos uma experiência de professoras da educação infantil que têm crianças de um a dois anos que não viam viabilidade de participar [uma vez que o projeto tem que ser feito com o aluno]. Então oferecemos a oportunidade de elas trabalharem com as famílias no desenvolvimento de projetos, porque a educação infantil também pode ter uma agência de notícias para poder melhorar sua comunicação”, ressalta Carlos.

Experiência de estudantes

Ayla Júlia Ferreira dos Santos e Winnie Stefany Alves da Silva desenvolveram em 2020, período da pandemia, quando estudavam na EMEF Professora Anna Silveira Pedreira, localizada no Jardim Novo Santo Amaro, um projeto de tutoriais e amparo acadêmico sobre o uso do Google Sala de Aula por meio de vídeos divulgados no YouTube da escola. “Voltamos o projeto à produção midiática e ao engajamento estudantil para a resolução de um problema que acreditávamos afetar apenas nosso entorno, mas muitos feedbacks positivos chegaram de diversas escolas, que adotaram os tutoriais como uma importante ferramenta no acolhimento das dúvidas dos discentes”, contam as jovens.

“O Imprensa Jovem foi um catalisador para o nosso desenvolvimento pessoal, profissional e acadêmico. Atualmente, cursamos o terceiro ano do ensino médio em Desenvolvimento de Sistemas [na ETEC Jardim Ângela] e nosso Trabalho de Conclusão de Curso é a criação de uma rede social digital focada em conectar estudantes às oportunidades de crescimento pessoal, profissional e acadêmico. A essência do Imprensa Jovem reverberou em nossas vidas com tamanha força que nos fez ter vontade de retribuir o que um dia nos foi apresentado, além do conhecimento inestimável adquirido durante toda a atuação no projeto”, reconhecem as jovens Ayla e Winnie.

Escute nosso episódio de podcast:

Autor

Leticia Scudeiro


Leia Olhar pedagógico

informação

Como criar o hábito de estar bem informado

+ Mais Informações
filmes e escola

Filmes retratam a escola como incapaz de lidar com as singularidades

+ Mais Informações
augusto-cury-intoxicacao-digital-

Intoxicação digital e o papel da escola, segundo Augusto Cury

+ Mais Informações
neurociências

Neurociências: o perigo das receitas prontas na aprendizagem

+ Mais Informações

Mapa do Site