NOTÍCIA
Por Raquel Alves: Se tem uma coisa que a natureza nos ensina é que podemos escolher as sementes que desejamos plantar. Contudo, uma vez semeadas, não tem mais jeito. Vamos colher exatamente o que semeamos. Durante a pandemia, em 2020, eu e meu marido decidimos […]
Por Raquel Alves: Se tem uma coisa que a natureza nos ensina é que podemos escolher as sementes que desejamos plantar. Contudo, uma vez semeadas, não tem mais jeito. Vamos colher exatamente o que semeamos.
Durante a pandemia, em 2020, eu e meu marido decidimos fazer uma horta em casa e começamos a escolher o que plantar: tomate italiano, couve, rabanete, rúcula, alho, abóbora cabotiá, melão, alho-poró. Alguns itens nos surpreenderam. Os rabanetes cresceram rapidamente e ficaram enormes, a rúcula mostrou muita vontade de viver e o alho-poró encheria os olhos de qualquer feirante. Isso sem contar com o açafrão perfumado que se desenvolvia embaixo da terra sem ser notado.
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Já o tomate e a abóbora não se animaram tanto… Semeamos tomates graúdos assim como as cabotiá, e colhemos miniaturas que pareciam gozar da nossa cara, massacrando nossas expectativas. Por fim o alho e o melão nem deram sinal de vida. Concluímos que nosso erro foi pensar apenas nas sementes e na água, acreditando que isso bastaria. Desconsideramos completamente a qualidade do solo, e o melão e os tomates nos advertiram sobre isso.
Se fizermos uma analogia, perceberemos que o aprendizado formal em salas de aula se estrutura de forma parecida com a semeadura da minha horta: as sementes são os saberes a serem aprendidos, a água os professores que guiam, reforçam e repetem diariamente os conteúdos que precisam ser ensinados e aprendidos, junto com apostilas e livros. Mas aí entra uma grande questão: se o solo não estiver fértil, as sementes germinarão? Os alunos terão desempenho esperado?
Acredito que antes de garantir boa qualidade de água e de sementes, precisamos averiguar a qualidade do solo. E para isso é preciso atenção com duas coisas: o prazer de pensar e o prazer de sentir.
Na educação, o fator humano não deve ser substituído pelas ciências da educação. Não adianta termos as melhores apostilas, os melhores profissionais e pouca sensibilidade envolvida.
É a sensibilidade humana ligada à vida que seduz ao prazer de pensar. É uma linguagem… Vocês só estarão lendo este texto até aqui se, por algum motivo, eu os cativar. Caso contrário, procurarão algo mais interessante para fazer, não é? Pois o aluno precisa desejar o conhecimento que está sendo oferecido. E para despertar o desejo, precisamos nos atentar a duas regrinhas básicas.
Meu pai [Rubem Alves] dizia que dentro de nós há a Caixa de Ferramentas e a Caixa de Brinquedos, que representam a aquisição de conhecimento pela utilidade (ferramentas) ou pelo prazer (brinquedos).
Pois eu comparo nosso desejo de conhecer com um carrinho de supermercado. Quando fazermos compras, invariavelmente escolhemos o que colocar no carrinho ou por necessidade ou por vontade. Ninguém em sã consciência compra algo que não precisa e que não goste. Da mesma forma, com absoluta honestidade, sabemos que só guardamos algo na memória se nos der prazer ou se melhorar nossa relação com a vida.
Dessa forma, as regrinhas para garantir a fertilidade do solo na educação são: o que está sendo oferecido para as crianças como conteúdo de conhecimento, dá prazer? É útil para melhorar a relação delas com a vida?
Pois bem… Ao olhar o que precisa ser ensinado/aprendido, responda essas perguntinhas. Caso a resposta seja negativa para ambas, o solo ficará pobre em nutrientes e pouca coisa germinará.
Então, caro professor, seja humano e sensível, tendo responsabilidade afetiva com seus alunos. Use sua criatividade para dar sabor ao saber. Desejo que neste ano que se inicia você plante jardins e hortas maravilhosos.