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Débora Garofalo

Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo

Publicado em 08/08/2022

Desigualdades de acesso na era digital, os obstáculos ainda presentes

É necessário compreender o cenário de abismo digital que está relacionado a uma desigualdade de acesso à internet e infraestrutura inadequada

young-african-kid-using-digital-tablet Foto: Rawpixel/ Freepick

Muito falamos sobre inserir a tecnologia e a inovação nas práticas pedagógicas. No entanto, não podemos passar a responsabilidade disso apenas para os professores, gestores ou unidades escolares como um todo. É necessário compreender o cenário de abismo digital no Brasil, que está relacionado à desigualdade de acesso à internet, infraestrutura inadequada – comprovada por censos – e a educação deficitária que limitam as opções no âmbito pedagógico.

Estudo realizado pela PWC, em parceria com o Instituto Locomotiva, retratou uma preocupação significativa com o futuro do nosso país: o retrato é que teremos grandes dificuldades de avançar no processo de digitização enquanto a internet permanecer desigual na sociedade e na educação. 

Dentro deste cenário já sabemos que um dos desafios a serem superados na educação passa pelo déficit de leitura e interpretação e conhecimento em matemática, em que o Brasil tem um dos 10 piores desempenhos do mundo, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). A pandemia aprofundou o quadro, já que no ano de 2021, 10 de cada 25 crianças brasileiras não sabiam ler e escrever.


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Disparidade de acesso

No Brasil, 81% da população com 10 anos ou mais usam a internet, mas somente 20% tem acesso a ela com qualidade. Há diferenças extremas também nas classes socioeconômicas e na questão racial entre negros e não negros. Na educação também vemos essa diferença na rede privada e pública. Enquanto a privada possui um acesso de 98%, na pública apenas 78%, lembrando que 81% dos estudantes no nosso país estudam em escolas públicas. 

Isso demostra o quanto precisamos avançar e garantir a democratização do acesso à tecnologia e inovação. O estudo demostra também as razões da desigualdade de acesso, são três: deficiências da infraestrutura de conexão, custo de acesso e dos equipamentos e deficiências na educação. 

No âmbito educacional temos um quadro desolador, 8 milhões de estudantes (que correspondem a 21% de estudantes) matriculados nas redes públicas de ensino do nosso país estudam em escolas sem acesso à banda larga – tecnologia essencial para o desenvolvimento do processo pedagógico. Para 124 mil estudantes, a escola não possui energia elétrica. E no ensino médio, a situação é semelhante: uma em cada quatro escolas não possui internet para a aprendizagem. Cerca de 6 milhões de estudantes da educação básica não têm acesso à internet em casa. 

Revertendo o quadro

A desigualdade de acesso não reflete apenas na disparidade socioeconômica do país, mas reflete no desenvolvimento da sociedade como um todo. Para reverter esse quadro, também já conhecemos a solução, que passa pela:

Parcerias público-privadas: união entre o público e o privado com base na resolução dos problemas e solidificação de um ecossistema interconectado, comprometido com essa agenda e o fortalecimento das competências digitais, com políticas de incentivo e indicadores de desempenho e acesso;

Políticas públicas: impulsionamento de políticas públicas de acesso, principalmente na esfera educacional, com políticas públicas de incentivo à tecnologia e inovação e continuidade, além de investimento nas políticas públicas conhecidas. 

Devemos repensar iniciativas que contemplem a educação digital, democratizando o acesso e permitindo que durante a escolarização os estudantes tenham a oportunidade de vivenciar experiências de acesso, já que sabemos os benefícios da integração do uso da tecnologia e inovação no processo de ensino e aprendizagem. Temos potencial para reverter essa disparidade de acesso, precisamos de compromisso para isso.

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