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João Jonas Veiga Sobral

É professor de Língua Portuguesa e orientador educacional

Publicado em 31/07/2020

Não agir por mal não quer dizer que tenhamos agido por bem

Dificuldade na elaboração de redação, propõe diálogo ilustrativo no classroom

agir-por-mal Não agir por mal e suas contradições (foto: Shutterstock)

– Professor, tudo bem? Estou muito preocupada e irritada.

– Mesmo? O que houve?

– Você publicou uma atividade de redação hoje e quer que a gente assista ao filme e ainda faça o texto no mesmo dia?

– Como assim, Patrícia? Não entendi.

– Você postou hoje a atividade de redação com tudo isso. Não dá para fazer tudo hoje. Não é justo comigo e com a classe.


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– Patrícia, creio que você não tenha percebido que essa postagem é uma replicação da que fiz na semana passada. Nela, inclusive, sugeri que assistissem ao filme e fizessem as anotações com base no roteiro para que pudessem elaborar o texto uma semana depois. Ou seja, hoje.

– Onde está essa postagem?

– Olhe, no mural da classe há a atividade anterior. Alguns colegas seus enviaram perguntas sobre o roteiro e sobre o filme durante a semana. Você não acompanhou?

– Acabei de ver. Mas e agora? Como vou fazer? Não é justo. Só vi agora.

– Creio que terá dificuldade com a redação porque ele também trata sobre o conceito de justiça. Mas vou dar um prazo maior para você entregar o texto. Tudo bem?

– Posso entregar segunda-feira. Assim uso a tarde de hoje para ver o filme e o fim de semana para fazer a redação.

– Pode sim, você crê que consiga fazer nesse prazo?

– Consigo sim. Obrigada.

– De nada, bom trabalho.

Na segunda-feira à tarde…

– Olá, Patrícia, tudo bem?

– Oi, professor. Tudo bem. E com você?

– Tudo bem, obrigado. Há um problema no seu texto.

– Mesmo? Qual?

– O seu texto deveria ser um texto seu.

– Ah, eu me baseei em um artigo e acabei usando umas partes.

– Veja, Patrícia. Anexei o link. A sua redação é praticamente o artigo todo. Mais de 90% do texto é cópia.

– Eu não fiz por mal, não conseguia fazer e acabei copiando.

–  É um problema de probidade acadêmica, não? E não muito justo consigo, com os colegas, comigo, com o autor e com a família.

– Ah, desculpa. Isso não se repetirá. Não fiz por mal.

– Obrigado, Patrícia, pelo reconhecimento. Você fará nova redação, mas autoral. Caso contrário terá atribuí­da menção E nessa atividade.

– Obrigado demais, professor. Vou fazer um texto meu.

– Pense em duas proposições para sua vida. A primeira é quando achamos que não agimos por mal, não significa que tenhamos agido por bem.  E a segunda é que você reclamou que não havia dado um prazo adequado para assistir ao filme e a redação…não continuarei o raciocínio, deixarei que você o complete.

João Jonas Veiga Sobral é professor de Língua Portuguesa e orientador educacional.

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