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Lúcia Dellagnelo, do Cieb, defende que o conceito de algoritmo esteja presente em todas as escolas. “O pensamento computacional é olhar um problema e saber quebrá-lo em diferentes componentes, depois criar uma representação que automatize a resposta. Computar é uma competência humana, uma habilidade mental. O computador só faz as contas”, explica. A capacidade de decompor um problema e representá-lo é algo que todo ser humano tem, mas não tem sido muito trabalhado pelas escolas. “Todo mundo é capaz, precisa se sentir um criador. Uma lógica importante para lidar com a vida.”
Márcia Padilha (Crédito: Divulgação)
Ainda que seja uma característica eminentemente humana, a convivência com os dispositivos tecnológicos tende a influenciar a forma de pensar. Portanto, precisam ser usados com intencionalidade e responsabilidade. “A forma como interajo, registro, pesquiso é outra nos meios digitais. É, portanto, uma ferramenta de pensamento, que muda o processo de cognição”, afirma Márcia Padilha, criadora do programa Criamundi de formação docente. “Os especialistas em educação precisam se apropriar das tecnologias e fazer com que elas trabalhem a serviço dos seus objetivos.”
Segundo Márcia, as ferramentas digitais põem o
aprendente e o
ensinante em outros papéis, o que faz o jeito de estudar ser outro. A reorganização de tempos, espaços e funções permite a personalização do ensino. “Personalizar o tempo significa permitir que cada um avance no seu próprio ritmo. Personalizar os recursos é deixar que cada estudante aprenda da maneira que preferir. Alguns vão aprender certos assuntos pesquisando, outros debatendo, entrevistando especialistas, etc. Por fim, até o conteúdo pode ser personalizado, em vez de todos aprenderem as mesmas coisas”, diz Márcia.
Ao se propor a oferecer metodologias personalizadas, o professor muda o papel em sala; ele vai para dentro de sala de aula para interagir com os estudantes, não para expor conteúdos. “Mesmo se você continua em um currículo padronizado, pode dar um espaço de respiro para as crianças”, completa.
Em escolas que já nascem imersas na cultura digital, a tendência é desenvolver nos alunos desde a mais tenra idade a capacidade de “falar” a língua dos computadores. A Concep e a Avenues, que inauguram unidades em São Paulo este ano, são escolas que se denominam “trilíngues” por promoverem a fluência não só em português e inglês, mas também a fluência digital. “É mais do que aprender uma linguagem de programação: é saber escolher ferramentas e desenvolver tecnologias se entender que precisa de algo novo. A criança vai desenvolvendo o raciocínio sequencial, aprende a planejar etapas para chegar a um objetivo, e, depois, quando precisar, pode aplicar essa lógica dentro de uma linguagem de programação”, explica Priscila Torres, diretora da Concept.
A chamada fluência digital também é uma forma de valorizar a ação e a autoria dos alunos, assim como incentivar a pesquisa aprofundada em fontes variadas. “Nossos alunos do 9º ano estão desenvolvendo um projeto sobre manejamento de lixo que será aplicado na nossa sede de São Paulo. Para isso, eles precisam pesquisar, entrevistar especialistas, visitar outras instituições, testar. Usam múltiplas fontes”, conta Lia Muschellack, diretora de tecnologia da Avenues. Em um mundo digital repleto de fake news e roubo de informações, entender a importância das fontes é uma das formas de navegar com mais segurança.
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