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ENSAIO | Edição 207 Como e por que os professores devem atuar como intermediadores do conhecimento por Júlio Furtado Mesmo que de forma tácita, o perfil desejável do professor das instituições de ensino superior é claramente delineado e conhecido. Podemos descrevê-lo a partir de três […]
ENSAIO | Edição 207
Como e por que os professores devem atuar como intermediadores do conhecimento
por Júlio Furtado
Mesmo que de forma tácita, o perfil desejável do professor das instituições de ensino superior é claramente delineado e conhecido. Podemos descrevê-lo a partir de três dimensões: a político-institucional, a burocrática e a técnica. Político-institucionalmente, as IES desejam um professor comprometido com os valores e atitudes da instituição. Em outras palavras, um professor alinhado com as crenças da universidade e que as reproduza em seu discurso e em suas atitudes. Burocraticamente, espera-se que o docente cumpra prazos, elabore planejamentos objetivos, preencha formulários corretamente, faça relatórios coerentes e mantenha o controle de frequência atualizado. A terceira dimensão, a técnica, infelizmente é a menos levada em conta, de maneira geral. Essa dimensão envolve as habilidades e competências intelectuais, pedagógicas e relacionais do professor para promover aprendizagens significativas, incluindo-se aí a competência de realizar a mediação da aprendizagem.
A palavra mediação foi dicionarizada no ano de 1670 e significa “ato de servir de intermediário entre pessoas, grupos, partidos, a fim de dirimir divergências ou disputas”; “processo pelo qual o pensamento generaliza os dados apreendidos pelos sentidos”. Na religião, mediar significa interceder junto a um santo ou divindade para obter proteção ou graça. No direito, significa procedimento que objetiva promover a aproximação de partes interessadas, na consolidação de um contrato, negócio ou litígio, de forma não autoritária pela interposição de um intermediário entre as partes em conflito.
Mediar a aprendizagem significa colocar-se, intencionalmente, entre o objeto de conhecimento e o aluno, modificando, alterando, organizando, enfatizando e transformando os estímulos que vêm do objeto para que o aluno tire suas próprias conclusões.
Esse processo é composto por duas mediações que se complementam: a mediação didática e a mediação relacional. A didática ocorre quando o professor faz perguntas, dá devoluções aos alunos sobre suas colocações e produções, problematiza o conteúdo com o objetivo de colocar o pensamento do aluno em movimento e, também, quando os estimula a dialogar entre si sobre suas atividades. Ao apresentar situações reais com o conteúdo e propor aos estudantes que analisem, tirem conclusões e complementem a aprendizagem através da leitura de textos sobre o assunto, por exemplo, o professor estará realizando mediação da aprendizagem. Nesse processo, o papel do docente, além de planejar e dinamizar a atividade, é de sanar as dúvidas e complementar as informações de forma que a aprendizagem não tenha lacunas.
Paralelamente ao processo de mediação didática, ocorre a mediação relacional cuja principal finalidade é motivar, ou seja, não deixar o aluno desistir de aprender. Para ser um bom mediador relacional, o professor precisa acreditar na capacidade de aprender do aluno. Precisa ter para com o estudante um olhar de possibilidade e ajudá-lo a enxergar esse potencial. Podemos dizer que enquanto a mediação didática se concretiza na dimensão técnica, a mediação relacional se concretiza na dimensão humana.
Para que seja possível uma mediação da aprendizagem competente por parte do professor, é preciso que ele tenha clara a resposta para algumas perguntas essenciais. A primeira é: qual o papel da minha disciplina na formação profissional do curso? Ao responder essa questão, o professor circunscreve seu campo de ação no planejamento das atividades que serão propostas. Na sequência, deve pensar em responder: quais habilidades e competências profissionais estão direta ou indiretamente ligadas à disciplina que leciono? Ao refletir sobre esse tópico, o professor delimita ainda mais seu contexto no planejamento das atividades problematizadoras, propondo desafios os mais fiéis possíveis à futura atuação profissional. Dando continuidade, deve se perguntar: quais são os conteúdos prioritários para a aprendizagem das competências inerentes à minha disciplina? Nessa etapa, o educador ganha a clareza a respeito de que temas deve focar com mais frequência e intensidade ao longo do período, aumentando as possibilidades de desenvolvimento das competências necessárias à formação profissional.
Outra questão fundamental é: como saberei se eles estão desenvolvendo as competências? Essa pergunta garante a objetividade do processo de avaliação e evita que o professor se perca em questões que visam apenas avaliar se o aluno sabe detalhadamente o conteúdo e foque a avaliação do quanto ele já desenvolveu das competências inerentes a sua disciplina. A quinta e última indagação é: quais as expectativas dos estudantes com relação às aulas e à disciplina como um todo? Embora seja a última pergunta, essa deve ser uma das primeiras a serem respondidas, pois ela informa ao professor que esforços deverão ser feitos para que os alunos compreendam o verdadeiro papel da disciplina.
O processo de mediação da aprendizagem exige que o docente tenha conhecimento sobre os alunos, o contexto social em que vivem e, claro, sobre o conteúdo a ser ensinado. A cultura, os hábitos e a realidade dos estudantes são insumos essenciais à prática de uma mediação da aprendizagem que resulte na formação de profissionais competentes.