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Autor

Carmen Guerreiro

Publicado em 18/12/2015

Alunos pedem e projeto leva a escolas aulas de fora do currículo

"Quero na escola!" está levantando recursos via financiamento coletivo para atender 100 escolas em 2016


Oficina de Mágica na E. E. José Cândido de Souza em SP

Não é de hoje a crítica de que os alunos se afastam da escola porque esta não conversa com sua realidade nem atende aos seus interesses. Mas existem novas respostas para a questão. O projeto “Quero na Escola!”, de Cinthia Rodrigues, Luciana Alvarez, Luísa Pécora e Tatiana Klix, por exemplo, entende que os jovens não são alheios aos estudos. Pelo contrário: gostariam de aprender mais, inclusive sobre assuntos que extrapolam o currículo escolar, mas muitas vezes não têm essa oportunidade.

O Quero na Escola! une essa vontade de aprender dos estudantes ao desejo de ensinar os mais diversos temas de profissionais e especialistas voluntários. A escola precisa apenas ceder o espaço – a iniciativa não tem custo para a instituição.

O projeto fez tanto sucesso em São Paulo – 300 alunos participaram dos dois primeiros meses – que as fundadoras decidiram lançar uma campanha de financiamento coletivo para ampliar as ações para todo o país e fazer um mapa de pedidos para os voluntários se inscreverem diretamente. A campanha está na sua reta final (você pode colaborar aqui), e caso atinja a meta deve levar o Quero na Escola! para 100 instituições em 2016. Confira abaixo nossa entrevista com Luísa Pécora, uma das cofundadoras do projeto.


Palestra na escola estadual Joaquim Alvarez Cruz de SP sobre combate ao machismo

 

Como foi a recepção de vocês nas escolas, primeiro no primeiro contato, com a equipe pedagógica, e depois com os alunos?
A ordem da nossa conversa costuma ser primeiro com os alunos, depois com a equipe pedagógica. Em geral os alunos adoram a ideia, já têm um monte de coisas para pedir, ficam animados com a possibilidade de aprender algo que desejam, para além do currículo tradicional. Mas só apresentamos para alunos de quatro escolas; os demais pedidos vieram no “boca a boca”, sobretudo via internet.
Sobre a recepção nas escolas, cada escola é uma história: teve escola em que a direção pediu antes para votar a entrada do projeto no conselho, por receio de abrir a escola; teve diretor que disse “ok, podem vir, só não me deem mais trabalho”. Mas em outras escolas, o diretor ou coordenador pedagógico abraçaram a ideia e acabaram transformando a presença dos voluntários em um grande evento para todos os alunos.

Como vocês escolheram as primeiras escolas?
No começo a gente ainda estava testando o modelo, para ver se funcionaria. As escolas foram escolhidas meio ao acaso, por proximidade de onde moramos, ou por já termos algum contato lá. Mas então os pedidos começaram a aparecer de toda a parte – temos alunos das cinco regiões do Brasil que nos procuraram! Ficou impossível dar conta dessa demanda. Foi por isso que lançamos a campanha de financiamento coletivo: queremos nos estruturar para, no próximo semestre, conseguirmos dar uma resposta a todos.

Para vocês, como o projeto pode contribuir para aproximar a escola da realidade dos alunos?
Hoje, o aluno recebe um currículo fechado, imposto. Ninguém pergunta o que mais ele gostaria de saber. É claro que os interesses serão diversos, mas aprender algo que a gente acha interessante é muito mais fácil. Numa aula de fotografia, ele vai acabar tendo contato com conceitos de física, (luz, foco, velocidade), assim como de artes. Os conteúdos da escola e a vida dele, os interesses dele, estão conectados, mas nem sempre é fácil ver essas relações pela forma como nosso sistema de ensino funciona. Ao dar ao estudante a chance de ter seus interesses atendidos dentro da escola, ele pode começar a perceber que tudo está ligado.

Pelo vídeo, podemos ver que os alunos ficaram bastante animados com a possibilidade de pedir aulas do que quisessem. É possível dar ouvido a todos?
“Todos” me parece uma meta muito ambiciosa. Mas com certeza há gente qualificada disposta a atender à maior parte dos pedidos dos alunos, por mais peculiares que pareçam. Conseguimos voluntários para dar oficina de cerâmica e de truques de mágica, por exemplo.

A teoria e a prática são diferentes, e uma enriquece a outra. O que vocês aprenderam ao tirar o projeto do papel?
Vejo dois grandes aprendizados até agora. O adolescente, que muitas vezes é visto pela sociedade como desinteressado e até culpado pelo seu fracasso escolar, tem sim uma enorme sede de conhecimentos. E há uma enorme quantidade de pessoas que se importam com a educação, querem ajudar, sentem-se prestigiadas de dividirem um pouco do que conhecem. Só o que falta fazer é juntar esses dois lados.

Pessoas de fora podem participar do projeto oferecendo aulas? Como funciona esse processo?
Sim, o projeto é aberto para todos. O processo começa com o aluno: ele se cadastra, diz em que escola estuda e o que deseja aprender. Os voluntários podem entrar no site para ver quais são os pedidos e, quem souber falar do assunto, se inscreve para ensinar. A partir daí a gente faz a ponte entre voluntário e escola.

 

 

 


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