NOTÍCIA
Professores e gestores com 18 anos de carreira fazem uma avaliação das mudanças educacionais ao longo desse tempo e refletem sobre o quanto suas funções mudaram
Publicado em 12/05/2015
Sandro Yoshio Kuriyama, Professor de matemática, Colégio Marista Arquidiocesano (SP) |
Sandro Yoshio Kuriyama
Professor de matemática, Colégio Marista Arquidiocesano (SP)
Depois de um tempo lecionando você percebe que é hora de continuar os estudos. É preciso estar atualizado em todos os aspectos, desde especializações dos conteúdos até o uso das tecnologias, e é aqui que eu sinto a maior diferença nesses 18 anos. Jamais imaginaria uma sala de aula com tanta tecnologia como temos hoje. Os alunos têm acesso às informações em tempo real, cabe a nós orientá-los não só no sentido da veracidade mas também precisamos orientá-los em relação a como aproveitar essa informação e a incorporá-la em sua vida, em sua bagagem acadêmica. Não podemos ficar na reprodução dos conhecimentos, é preciso ir além, é preciso ter uma produção científica. Eu leciono em escolas particulares, públicas e cursinhos há 18 anos. São realidades bem distintas. Tudo o que disse sobre tecnologia, as escolas particulares vêm tentando acompanhar, mas as escolas públicas (exceto as ETECs) ficaram para trás. Enfim, é preciso amar esta profissão, pois o retorno em sala é maravilhoso, vivemos e aprendemos junto com esses adolescentes. A postura, a ética e as estratégias que adotamos podem fazer toda a diferença na vida deles. “A experiência que eu tive na escola foi interessante. A estrutura era boa, tinha algumas falhas, mas que escola não tem? O teto não era muito bom, às vezes chovia na sala; o banheiro precisava lavar, mas eram coisas normais.”
Leila Oliveira Costa
Professora universitária, Centro Universário Senac e Unip
Eu iniciei na educação infantil e foram 17 anos só lá. As crianças brincavam, tinham uma hora no parque. Hoje teve um esvaziamento de tudo isso. O brincar sumiu. Até 2004 eu ainda conseguia brincar com as crianças. Quando vieram os referenciais curriculares eles focaram muito o conteúdo de ensino e a educação infantil deu um passo para trás. Hoje eu dou aula em faculdade e vejo o resultado dessas crianças que cresceram sem brincar. Eu tenho salas com 120 alunos em que nenhum se fala. Eles não conseguem coabitar no mesmo espaço.”
Rejana Andrade, Ensino médio, Colégio Salgueiro |
Rejana Andrade
Ensino médio, Colégio Salgueiro
Acredito que com o advento da internet e das novas tecnologias todos os campos sofreram transformações e a educação não foi exceção. O “compartilhar” pode ser precioso se usado adequadamente. O professor não é mais o detentor do saber, nossa função hoje é mais de professor mediador, orientando o aluno para que ele consiga filtrar de modo crítico qual informação realmente é relevante e como usar a tecnologia adequadamente. Na relação professor – aluno também houve alterações. Antes, quando um aluno gostava muito do professor, ou queria conversar, ele recorria ao bilhete, ou a um recadinho no final da avaliação ou até mesmo esperava os colegas saírem para poder ter um pouquinho de atenção. As redes sociais mudaram isso também. É comum um aluno abordar o professor com um recado, só que digitalmente. E tirar uma selfie com o professor e postá-la pode ser considerado uma homenagem. E essa relação virtual perpetua o relacionamento que possivelmente acabaria com o fim do curso. Isso é muito positivo.
Claudiane Aparecida de Carvalho
Professora de língua portuguesa e literatura, ensino médio, Colégio Santa Catarina, São Paulo (SP)
“Quando comecei a dar aula, a principal dificuldade foi a falta de domínio do conteúdo da matéria. Isso eu fui adquirindo com o tempo, a faculdade não prepara a gente. Também tive problemas com indisciplina do ensino fundamental, que eu acho que é a fase mais difícil. Depois que comecei a ensinar para o ensino médio, achei melhor; eles são mais disciplinados e eu me identifico mais com a linguagem deles. Para isso estou sempre renovando. Eu nunca repito a mesma aula.”
Edson Eller
Colégio Concórdia
Nesse período minha função como professor passou de responsável por transmitir os conteúdos para ser um facilitador da busca por respostas e sistematização das ideias. No aspecto negativo percebo que não houve nenhum avanço no que se refere à valorização do docente no Brasil e em contrapartida houve uma sobrecarga de atividades e responsabilidades adicionais atribuídas a nós.
Juceme Rodrigues
Professor de filosofia, ensino médio, Colégio Santa Catarina, Juiz de Fora (MG)
Nesses 18 anos eu aprendi a acreditar que vale a pena educar e investir num ser humano e que ele é a razão de ser de toda aprendizagem. Uma das lições que eu tive foi a importância do fazer cooperativo. A segunda foi ter humildade, o que passa pelo reconhecimento do outro. A terceira é a lição da esperança. Eu aprendi a conservar o que de melhor eu tenho e sou: a utopia de não deixar de acreditar num ser melhor. Educar renova a gente. Nós forçamos a renovação através da educação; cada criança e jovem que a gente recebe faz com que renovemos a esperança de que amanhã será melhor, por isso vale a pena educar. Além da tecnologia, é importante não esquecer a relação pessoal, o cuidado, o zelo, o processo de socialização.