NOTÍCIA
Atribuir uma nota ao desempenho dos estudantes é tarefa que vai além do conhecimento demonstrado num teste por Hamilton Werneck Existem duas palavras que precisam ser salientadas: avaliação e processo. Avaliar significa diagnosticar, verificar se o educando aprendeu, em que grau aprendeu e, portanto, não […]
Atribuir uma nota ao desempenho dos estudantes é tarefa que vai além do conhecimento demonstrado num teste
por Hamilton Werneck
Existem duas palavras que precisam ser salientadas: avaliação e processo. Avaliar significa diagnosticar, verificar se o educando aprendeu, em que grau aprendeu e, portanto, não é uma ação pontual que ocorra somente quando se faz um teste. Avaliar é para verificar quais os reforços necessários para que o educando recupere o que não aprendeu naquele período de aprendizado. O processo enfatiza o caminho usado, não um momento final de verificação. Quando temos uma visão de “processo” estamos avaliando continuamente, todos os dias, inclusive através do sistema de observação direta por parte do educador quando os educandos estão realizando alguma tarefa.
Os objetivos de uma avaliação devem estar direcionados para verificar o que um aprendeu e o que o outro não aprendeu. A missão de aprendizagem não acaba enquanto o aluno não aprender, portanto, não cabe separar as coisas: professor é uma coisa e aluno, outra coisa. Essa é a visão cartesiana questionada por Platão muito antes de René Descartes, em O sofista, quando ele condena essa mania de tudo separar. Quem pensa que está avaliando para dar nota, na verdade está examinando, o que é bem diferente de avaliar porque o ato de examinar é pontual, não inclui processo, geralmente tem data e hora marcadas no calendário. No entanto, nós estamos impregnados de examinação, como os povos da Roma antiga estavam impregnados de escravidão porque viviam cercados de escravos por todos os lados. A avaliação é feita para buscar novos caminhos de reposição do conhecimento, visando incluir os educandos entre os que aprenderam.
A avaliação deve ser feita para verificar o que o aluno sabe e o que ele não sabe. Corrigir é uma coisa bem diferente de assinalar erros. A escola tradicional está fixada no negativo. Marca erros e, depois de muitos anos, o educador tem a impressão de que a educação não tem jeito porque ele só vê erro pela frente. O educador que assim age passa a olhar para dentro de si como um incapaz de ensinar. Se ele olhar para o que os seus alunos aprenderam graças à sua competência terá, certamente, uma autoestima mais elevada. Olhando os aspectos que indicam a assimilação por parte dos educandos, podemos nos concentrar, nas aulas seguintes, na reposição daqueles conhecimentos não assimilados. Podemos concentrar exercícios para fixar mais o que representa dificuldade e desenvolvermos a avaliação em processo, através das observações dos trabalhos individuais ou em grupo.
Uma avaliação em processo exigirá do educador a capacidade de estar sempre em observação. Desenvolver com os educandos um trabalho em grupo e ficar sentado fazendo outra coisa, tem um resultado: gasta uma enorme energia de ambos e há perda de tempo. O trabalho, feito ou não, para quase nada serviu. O educador continua sem saber quem sabe, quem reaprendeu e quais as questões que ficam em aberto. O trabalho em grupo como um processo de aprendizado e avaliação necessita da presença do educador em contato contínuo com os grupos para esclarecer, responder, ouvir e acompanhar.
Outra questão importante nas avaliações aplicadas no ensino superior são o mérito e a relevância. Não vejo dificuldade, por parte dos professores, para discernir entre mérito e relevância. Eles sabem quais são as diferenças. Na verdade prendem-se ao mérito, traduzem o mérito em nota ou conceito e, por cima disso, estabelecem a média dos resultados. Assim, um educando que esteja com muita dificuldade no início do curso e obtenha resultados baixos na avaliação, mesmo que ao final do curso saiba de maneira relevante o que se tratou em classe, irá pagar tributo àquele tempo das grandes dificuldades. O professor faz média entre o que não se sabe com aquilo que se aprendeu, como se os médicos fizessem a média entre a saúde e a doença para dar alta a um paciente. Já a relevância fica em segundo plano porque, geralmente, ela se reflete num dado conjunto de saber, em que, inclusive, o educando pode apresentar genialidade.
No entanto, como se observa o mérito em todos os momentos pontuais dos exames e considera-se cada prova como se fosse um concurso, a relevância fica ofuscada porque manifestada num bimestre ou num determinado capítulo do programa de ensino. Não há uma avaliação do potencial do educando quando demonstra capacidade ao aprofundar-se em determinados saberes. Para muitos educadores, a busca da média é mais importante mesmo que a relevância seja ofuscada pela “mediocridade”. Examinar e avaliar são coisas bem diferentes. Para sermos bons educadores precisamos saber três coisas importantes: a) sabermos ensinar; b) sabermos quem é o aluno; c) sabermos em que contexto ele vive. A falta de contextualização é um grande erro, tanto quanto o desconhecimento do educando e do conteúdo que ministramos.