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Publicado em 24/10/2013

Educação que vai longe

Considerada uma saída para expandir o acesso, EAD esbarra na burocratização e falta de financiamento Svendla Chaves Embora ainda seja responsável por apenas 15,8% do total de matrículas na graduação, a educação a distância (EAD) está alavancando o crescimento no ensino superior. As matrículas presenciais […]

Considerada uma saída para expandir o acesso, EAD esbarra na burocratização e falta de financiamento
Svendla Chaves
Embora ainda seja responsável por apenas 15,8% do total de matrículas na graduação, a educação a distância (EAD) está alavancando o crescimento no ensino superior. As matrículas presenciais cresceram 3,1% em 2012, segundo o Censo do Inep, enquanto que na modalidade a distância o aumento foi de 12,2%. Nos ingressos, a expansão foi de 15,1% e 25,7%, respectivamente. Mesmo com taxa significativa de evasão, a EAD apresentou crescimento bastante destacado também nos concluintes, de 15,0%, contra 1,3% da presencial.
O Inep avalia que a modalidade deve seguir a tendência de expansão e destaca que a oferta, assim como na educação presencial, “é acompanhada por todos os processos de regulação e supervisão inerentes ao ensino superior no Brasil.” No entanto, o crescimento da EAD esbarra justamente na forte regulação do MEC, o que ocasiona muita concentração nesse mercado, com poucas instituições oferecendo a modalidade.
Os requisitos para desenvolvimento do setor dividem opiniões. Para o consultor Celso Frauches, o MEC não está aparelhado para avaliar a educação a distância no Brasil. “Hoje há muitos cursos que não oferecem qualidade, e também ainda existe preconceito do mercado”. Já a diretora acadêmica da Faculdade Santa Marcelina (Fasm), Suli de Moura, acredita que a EAD seja uma saída para o país melhorar o índice dos jovens que frequentam o ensino universitário, mas também considera importante uma revisão na forma como a modalidade está sendo conduzida.
Um dos empecilhos ao aumento do número de alunos na modalidade está na ausência de financiamento público. A coordenadora de Ensino a Distância da Organização Educacional Barão de Mauá, Márcia Aparecida Figueiredo, que também é representante da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), reafirma a importância da EAD para a inclusão de alunos. “Como podemos ampliar o número de estudantes matriculados se apenas 12,6% das instituições são públicas, e o MEC não concede o benefício do Fies para os alunos na modalidade a distância?”.
No momento em que o governo liberar o financiamento público para esse modelo, espera-se um salto quantitativo enorme em matrículas. De acordo com o diretor executivo da Ideal Invest, Carlos Furlan, no caso do crédito universitário PraValer a educação a distância é encarada da mesma forma que o estudo presencial. Nesse sentido ele aponta uma demanda crescente na modalidade.
Os queridinhos do Brasil
Além do crescimento galopante do ensino a distância, outras atividades vêm ganhando a preferência dos estudantes. É o caso dos cursos de tecnologia, que apresentaram expansão de 8,5% em relação a 2011, chegando a 13,5% das matrículas na educação superior. Nos cursos de bacharelado, o aumento foi de 4,6% e nos de licenciatura, de 0,8%.
Foi a primeira vez que o número de ingressos na graduação tecnológica superou o das licenciaturas, chegando a quase 20% dos alunos que entraram no ensino superior em 2012, contra 17,9% das licenciaturas. O presidente da Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), Gilberto Garcia, assinala que o crescimento dos tecnólogos se dá principalmente na área de serviços – e essa tendência deve ser mantida. Se até recentemente a figura do tecnólogo não estava consolidada e havia preconceito se o profissional não fosse bacharel, hoje as necessidades do mercado mudaram essa situação.
As licenciaturas passam por uma alavancagem na educação a distância, representando 40,4% das matrículas nessa modalidade. Garcia ressalta, no entanto, que não há como aumentar o número de alunos de licenciatura sem que se resolva a situação profissional do professor no Brasil, incluindo a questão salarial. “Embora o governo federal venha fazendo certo esforço para incentivar a formação de professores, isso não compensa o atraso histórico que temos no país, de desprestígio e desvalorização dos professores, especialmente os de ensino básico.”
Administração, direito e pedagogia continuam sendo os cursos preferidos dos brasileiros, representando cerca de 30% das matrículas, dos ingressos e dos concluintes. Em números arredondados, uma em cada sete mulheres que está na faculdade cursa pedagogia. A cada profissional graduado em física no Brasil em 2012, se formaram 49 administradores.
“Há redução na formação de professores nas áreas mais técnicas, como matemática, física e química. Isso afeta o ensino fundamental, que precisa ser priorizado. É necessário pensar no Brasil no médio prazo, pois o resultado leva no mínimo 15 anos para ser alcançado”, declara o reitor do Centro Universitário Belas Artes, Paulo Cardim.
Foi com o objetivo de melhorar essa proporção, despertando as vocações docentes e científicas dos jovens, que o governo federal lançou no final de setembro o programa Quero ser professor, quero ser cientista. A iniciativa vai oferecer bolsas a estudantes da educação básica que queiram desenvolver atividades com ênfase em matemática, física, química e biologia.
Suli lembra que sempre haverá maior procura pelos cursos que estão na moda, que proporcionam um maior salário para o início de carreira, embora nem sempre as instituições estejam preparadas para oferecer essas graduações. “Por outro lado, enquanto o governo não mudar a política de salário dos professores, teremos este cenário: sobram vagas para os cursos de licenciatura e faltam professores nas escolas”, aponta Suli.
Embora o Inep comemore o aumento dos ingressantes nas áreas de engenharia, produção e construção, o número ainda é insuficiente. Carlos Monteiro lembra que, até 2015, o Brasil vai precisar de 300 mil engenheiros, mas o país ainda não está conseguindo formar a quantidade de profissionais necessários para a área. De acordo com a Federação Nacional dos Engenheiros, os estudantes não estão terminando o curso e os que terminam não buscam uma especialização.
“Nossa realidade é cristalina: faltam engenheiros e falta qualificação. Este é o momento para se repensar os currículos, não só das engenharias, para que se tornem uma via de mão dupla entre a academia e o mercado”, aconselha Monteiro. A verdade translúcida é completada pelo pensamento do reitor da Universidade Anhembi Morumbi, Oscar Hipólito. “Se quisermos efetivamente mudar algo em nosso país, precisamos de mais profissionais com nível superior”, conclui.
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