NOTÍCIA
Ricardo Azevedo retrabalha ficção que tem o início da vida adulta como um dos temas
Publicado em 03/06/2013
Lúcio vira bicho chega à sua terceira edição com outro nome – O motoqueiro que virou bicho – entrecortado por lendas a mais, com alguns trechos a menos ou em outra disposição. Mas a história de amadurecimento do protagonista é mantida e a surpresa também. O que aparenta ser a simples narrativa realista da passagem do protagonista para a fase adulta é transformado por um acontecimento fantástico, que dá um rumo inesperado para o herói apresentado pelo escritor Ricardo Azevedo.
O jovem Lúcio, que acabou de fazer provas para ingressar na universidade, está exausto de passar os dias em seu quarto de vestibulando. Por isso, ele insiste em viajar de moto pelas cidades da região do Vale do Paraíba, em São Paulo. Quem conta tudo o que aconteceu naquela fase de transição é o próprio personagem, anos mais tarde, em primeira pessoa. Falando diretamente com o leitor, chamando-o a prestar atenção na história ao longo do texto, Lúcio conta seus sentimentos e desventuras durante a viagem: desde a possibilidade de se relacionar com a empregada da casa de seu tio até as peças pregadas por sua curiosidade e ousadia. “Nem quero falar muito sobre minha relação com Conceição. Até hoje, leitor, cada vez que penso em tudo o que aconteceu, não consigo deixar de sentir um vazio (…)”.
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Inspirado por um romance do século 2º – O asno de ouro, de Lucius Apuleio – no qual um homem é transformado em asno, Azevedo trabalha com o humor, com o burlesco, e não fica preso ao politicamente correto. Suas referências vão de anatomia a Machado de Assis, passando por lendas conhecidas no Vale do Paraíba. Uma delas, a do “corpo-seco” é mórbida, mas não deixa de ser caricata e visual, apesar de o livro não ser ilustrado.
Devido a esse distanciamento dos fatos, proporcionado pelo correr do tempo, o narrador parece julgar suas ações do passado ao longo do livro. A relação do personagem com a sua própria história se assemelha à vontade de Azevedo, contada ao final do volume. Ele teve o ímpeto de mexer no texto 15 anos depois de sua primeira edição, julgando que havia muito o que melhorar nele. Um ensinamento e tanto vindo de um autor de dezenas de livros para jovens e crianças.
+ Outras leituras
Jemmy Button: o menino que Darwin levou de volta para casa, de Alix Barzelay, ilustrações de Jennifer Uman e Valerio Vidali (Pequena Zahar, 48 págs., R$ 39,90)
“Quase em casa, mas não exatamente”, pensava o menino levado da Terra do Fogo. O livro é inspirado na história real de Jemmy Button, que a marinha inglesa levou para a Inglaterra para ser “civilizado” e que voltou à terra natal em expedição acompanhada por Charles Darwin.
O mundo num segundo, de Isabel Minhós Martins, ilustrações de Bernardo Carvalho (Peirópolis, 56 págs., R$ 29)
O que pode acontecer a cada virar de página? Muitas coisas, de pequena ou grande importância, e ao mesmo tempo, principalmente nas grandes cidades. O ritmo vertiginoso com que se dão os acontecimentos é retratado pelas situações ilustradas a cada página dupla.
Parem de construir, é hora de dormir, de Sherri Duskey Rinker, ilustrações de Tom Lichtenheld (Caramelo, 32 págs., R$ 44,90)
Ao desejarem uma boa noite a tratores e escavadeiras, os autores americanos trabalham a consciência de que horário de obra é de dia, ao contrário do que acontece em várias partes do mundo.