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Autor

Camila Ploennes

Publicado em 30/01/2013

Novos nomes, velhos verbos?

Para Marc Prensky, especialista em tecnologia na educação e escritor, não adianta levar equipamentos para dentro da escola se não houver uma mudança de paradigma

“Novos métodos para fazer coisas velhas não são o suficiente para melhorar a educação; fazer isso é como rearranjar as cadeiras no convés do Titanic afundando”, diz o nova-iorquino Marc Prensky, conquistando sorrisos, ainda que contidos, da plateia já cansada no palco principal da Campus Party, em São Paulo. Com uma apresentação de slides cheia de cores, fotos e tópicos, como aquelas vistas com frequência nas aulas expositivas de escolas e universidades, o especialista em tecnologia relacionada à educação propôs durante sua palestra, na noite desta terça-feira (29), uma mudança nas salas de aula de todo o mundo. Não algo que envolva essencialmente a inserção em peso dos mais novos aparatos e recursos tecnológicos nas escolas, mas, sim, uma mudança na postura de formuladores de políticas, gestores e educadores.
 
“Não adianta colocar tablets na sala, vídeos, Khan Academy (…), porque todas essas coisas mudam toda hora, enquanto continuamos dividindo nossa educação básica em várias matérias”, critica Prensky, fazendo referência à falta de interdisciplinaridade e ao pouco incentivo à criatividade dos alunos dentro das escolas, o que, em sua avaliação, não são exclusividades brasileiras, mas características do ensino oferecido em toda parte. “Nós estamos limitados no tempo; essa é a melhor maneira de fazer um currículo? E se combinarmos isso de um modo melhor? Estamos avaliando as crianças pelo que nós precisávamos no passado e não pelo que elas precisarão no futuro”, questiona.
 
Em seu título, a palestra de Prensky propõe responder “como ‘nativos digitais’ e ‘imigrantes digitais’ podem ensinar, aprender e prosperar no futuro”. Para começar, em sua visão é preciso assumir que os “imigrantes” viveram dois contextos e que um deles não existe mais: o pré-digital. Já os “nativos” só conhecem o contexto digital. “Então por que educamos em um contexto que não existe mais?”, questiona Prensky. Ele emenda dizendo que os “nativos” se adaptam mais facilmente do que os “imigrantes” ao contexto atual que chama de VUCA, sigla para Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade – algo que poderia ser diferente, pois “não somos dinossauros; quando o clima muda, todo ser humano sabe o que fazer”.
 
Para Prensky, “os substantivos mudam todo tempo, mas os verbos continuam os mesmos”. Ou seja, segundo sua avaliação, surgiram o Power Point, a linguagem HTML e o Twitter, mas a escola continuou sem saber exatamente quais são os verbos, ou as habilidades, que precisa ensinar aos estudantes. “Eu parei de dizer para as pessoas ‘mudarem’; em vez disso, digo que precisamos nos ‘adaptar’ ao mundo que vivemos agora . A criança precisa ter PowerPoint, e-mail, Wikipédia e deve saber que servem para apresentar, comunicar, aprender”, explica.
 
Autor do recém-lançado livro “Brain Gain: Technology and the Quest for Digital Wisdom”, ainda sem edição em português, Marc Prensky defende que o homem tem sua capacidade aumentada pela tecnologia. Ele argumenta, por exemplo, que o cérebro é bom para resolver problemas, mas não é obrigatoriamente bom em memorização. “Por que não combinar o que o cérebro faz bem com o que a tecnologia faz melhor?”, propõe. Segundo ele, é possível fazer coisas antigas de novas formas ou coisas que nunca foram pensadas antes. “Esta última opção é o uso poderoso da tecnologia: robótica, WolframAlpha [ferramenta de busca que faz cálculos, por exemplo] “, enumera.
 
Prensky faz mais perguntas e suscita reflexões do que dá respostas: “Antes você tinha que decorar números de telefone, mas e agora? O que é o ‘novo básico’? Produzir vídeos? Programar as próprias máquinas? Você pode não saber, mas que tal começar a pensar em construir meios para que as crianças consigam aprender as habilidades do futuro?” No entanto, faz observações que podem ajudar os professores “imigrantes digitais” a não entrar em desespero diante das novidades: “Ainda temos as salas de aula e o melhor jeito de ensinar hoje nelas é em parceria. O estudante faz aquilo que faz bem, como ler, por exemplo, e o professor contextualiza, é um guia. Já que o ato de ensinar está mudando muito rápido, o mais importante é mostrarmos aos alunos os recursos que existem e que eles precisam estar conectados. Isso é mais importante do que qualquer tecnologia que podemos criar”, conclui.


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