NOTÍCIA
A participação dos pais contribui para a qualidade da oferta da educação inclusiva e, com a escola, eles aprendem a ajudar as crianças na conquista da autonomia
Publicado em 07/01/2013
Geisa Pacheco Avelar com seu filho João Matheus, de 6 anos, autista: ela se emociona com as conquistas do menino desde que entrou na escola |
A saga de Luciana Martins Alves para matricular a filha Ana Carolina, a garotinha autista da página 45, não difere muito da trajetória de milhares de pais. Muitas vezes, a descoberta da deficiência ocorre quando a criança está na creche e apresenta um comportamento diferente. “Na primeira escola em que matriculei a Ana Carolina, os professores não sabiam lidar com ela. Certo dia, alegando problemas de comportamento, a diretora me pediu que tirasse minha filha de lá”, relembra Luciana. Ela não desconfiava que Carol tivesse alguma deficiência e atribuía a ausência de linguagem a uma demora dentro do normal. A menina chegou a frequentar outra escola particular, na qual ficava isolada das outras crianças por conta das atitudes agressivas, antes de ser diagnosticada como autista, um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD). Luciana, então, cogitou colocar a filha numa instituição especializada, com atendimento exclusivo a autistas. “Achei aquilo um poço de seres humanos. A psicóloga de lá me disse que minha filha nunca iria ter uma vida normal, que permaneceria naquele estado para sempre, sem saber sequer diferenciar uma cor”, afirma, emocionada. “Fiquei tão desesperada, não via solução alguma.”
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Tentou a matrícula numa escola da rede municipal de Santo André, mas Carol não se adaptou. Com o apoio da psicopedagoga Maria Helena de Castro Faria, professora assessora de educação inclusiva do município, no início de 2012 Ana Carolina foi para a EMEIEF Professor Nicolau Moraes Barros. Nos primeiros dias, a cuidadora Luciana Amado ficava com a menina apenas meia hora em classe, a fim de ajudá-la a criar uma rotina e se acostumar à professora Sheila Reis Santana Guadagnini e aos colegas. Gradativamente, Carol foi conseguindo permanecer mais e mais tempo, e hoje convive bem com seus amigos. “Ela gosta muito da escola: todos os dias arruma a mochila dela sozinha e sente falta quando não tem aula”, diz a mãe.
Para Geisa Pacheco Avelar, mãe de João Matheus, de 6 anos, também autista, a informação e o apoio da Escola Municipal Padre Cipriano Douma, em São Gonçalo (RJ), têm sido fundamentais para que ela também possa contribuir para o desenvolvimento e a autonomia gradativa dele. “Antes, eu não sabia como estimulá-lo. Ele não estabelecia contato com outras pessoas, não aceitava toque, rejeitava brinquedos, ficava num canto, escolhia um objeto e ficava mexendo nele o dia inteiro. Hoje já está reconhecendo números, cores, come sozinho e já consegue escovar os dentes.”
João Matheus está sempre acompanhado do professor de apoio especializado Jeferson Oliveira. No dia em que a reportagem visitou a escola, o garoto participava, com seus colegas do 1° ano do ensino fundamental, de uma atividade proposta pela professora regente Fernanda Oliveira. As crianças pintavam, juntas, os quadradinhos de um painel a fim de distinguir as cores primárias e secundárias. João Matheus, com ajuda de Jeferson, conseguiu segurar o pincel e pintou o quadradinho amarelo. Na sala de recursos multifuncionais, à tarde, a professora Verônica Machado também tem trabalhado a identificação das cores. “Ele já reconhece o amarelo espontaneamente, aponta e diz: ‘malelo'”, conta Geisa, emocionada. Mas a maior conquista foi tê-lo escutado falar: “Mamá, amo”.