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Edição 254

“Nenhum aluno será deixado para trás”, afirma ministra da Finlândia

Sanni Grahn-Laasonen está à frente do Ministério da Educação e Cultura finlandês e fala do modelo de ensino que levou o país a se tornar um exemplo internacional

Publicado em 29/11/2018

por Eduardo Marini

Sanni Grahn-Laasonen é uma das cidadãs finlandesas mais convidadas para viajar ao exterior. O motivo para tantos chamamentos é nobre: sobram, nos quatro cantos do mundo, educadores e autoridades educacionais dispostos a conhecer o projeto liderado por ela, desde maio de 2015, à frente do Ministério de Educação e Cultura de seu país, um dos mais bem-sucedidos em avaliações internacionais na última década. Apesar da pouca idade – apenas 35 anos -, Sanni, casada e mãe de uma menina, escora-se em um currículo elogiável. Mestre em Ciências Políticas pela Universidade de Helsinque, integrante do Partido da Coalizão, trabalhou como jornalista e, antes de aceitar o desafio atual, ocupou o Ministério do Meio Ambiente. Algumas de suas viagens tiveram como destino o Brasil, onde conheceu educadores e parte do sistema educacional. Na terça-feira 23 de outubro, de Helsinque, ela concedeu a seguinte entrevista à revista Educação:

O que faz a educação básica na Finlândia ser uma das melhores do mundo?
Nosso sistema de ensino básico é igual. O princípio da igualdade implica que todos possam ir para a escola mais próxima de sua casa e ela será tão boa quanto qualquer outra escola. A educação finlandesa é um sistema de ensino descentralizado. Delegamos muitas decisões e responsabilidades aos níveis locais – a municípios, escolas e professores. Depositamos uma grande confiança em nossos professores e municípios como provedores de educação agora e no futuro. Diretores de escola e acadêmicos têm papéis importantes. São vistos como diretores pedagógicos e especialistas autônomos. Temos professores altamente qualificados e motivados e o ensino é uma profissão respeitada e popular. A educação para a construção deve sempre ser baseada em tomadas de decisão governamentais e estratégicas consistentes e de longo prazo, no desenvolvimento e na colaboração constantes, baseados na confiança e na cooperação com todas as partes interessadas.

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Quais são os principais pontos da política educacional?
Pode-se dizer que “igualdade de oportunidades para todos” é o lema da educação finlandesa. O objetivo é proporcionar oportunidades para todos os cidadãos com educação de alta qualidade. Somos um país pequeno. Éramos bastante pobres há algumas décadas. Aprendemos que as pessoas são o ativo mais importante da nação. Crianças e estudantes devem ser capazes de fazer escolhas baseadas em seus próprios pontos fortes. Isso beneficia toda a sociedade. Um dos princípios orientadores da educação finlandesa é a flexibilidade. No mundo de hoje, o aprendizado tem que ser contínuo.

Como é desenvolvida a educação infantil?
O jardim faz parte da educação e dos cuidados com a primeira infância, que chamamos de ECEC. Ele é baseado numa abordagem integrada para atendimento, educação e ensino, o chamado modelo educare. Aprender através de jogos é essencial. Evidências mostram que o brincar beneficia o desenvolvimento cognitivo, social, emocional e físico. Todas as crianças menores de idade escolar têm direito à ECEC se seus pais assim decidirem. Os municípios são responsáveis ​​pela qualidade e supervisão dos serviços. Cerca de 75% das crianças entre três e cinco anos frequentam a educação infantil, a grande maioria em creches municipais. Existem também outras formas de serviço, como creches familiares.

educação na Finlândia

“Pode-se dizer que ‘igualdade de oportunidades para todos’ é o lema da educação finlandesa” (foto: divulgação)

O que ocorre após a conclusão do ensino básico?
Metade do grupo etário continua no ensino secundário geral e a outra metade adota o estudo profissional. A educação profissional é uma escolha bastante popular entre os jovens. O ensino secundário superior geral e profissional dá elegibilidade para estudos adicionais no ensino superior. Nossa reforma na educação profissional, concluída neste ano, está direcionando a educação para o futuro. A formação precisa responder mais rapidamente às mudanças na vida profissional, como a digitalização, e adaptar-se às necessidades de competência.

Como é a rotina na sala de aula?
Regularmente, uma aula dura 45 minutos. A duração dos dias escolares varia entre as séries. Na 1ª série, são 19 horas por semana, e no 9º ano, até 30 horas. Em geral, os alunos não têm muito trabalho de casa. Professores e escolas têm muita autonomia na organização de aulas e isso também se aplica ao dever de casa. Algumas escolas podem exigir, por exemplo, trabalhos de casa semanais em vez de diários. Isso dá maior liberdade para os alunos completarem as obrigações durante os dias da semana.

A carga não é superdimensionada, ao contrário do que se vê em países orientais.
Pois é. Conseguimos bons resultados de aprendizado com dias escolares bastante curtos, pouca quantidade de lição de casa e custos médios. Os estudantes finlandeses passam muito menos tempo na sala de aula do que em outros países. A perspectiva holística sobre o bem-estar das crianças é um elemento-chave na educação finlandesa.

Vocês implantaram um novo currículo para o básico em 2016?
Exato. Estamos em busca do futuro. Além da renovação normal dos resultados de aprendizagem específicos da disciplina, o novo currículo descreve as sete áreas de competências alargadas e transversais. Elas são baseadas nas chamadas habilidades do século 21 e incluem, por exemplo, pensar e aprender a aprender; cuidar de si mesmo, das habilidades da vida cotidiana e da segurança; habilidades de vida de trabalho e empreendedorismo.

Vocês concluíram que os caminhos da educação tradicional estavam todos inadequados?
Não todos. É claro que as habilidades de alfabetização são tão importantes quanto sempre foram. Mas o novo currículo trata os alunos como aprendizes ativos. Eles são colocados no centro de todas as atividades de aprendizado. No mundo em transformação, crianças e jovens enfrentarão novos desafios. Precisarão ser capazes de resolver problemas complicados. O novo currículo enfatiza fortemente a nova era digital e os serviços de mídia.

Quais os principais destaques do projeto didático-pedagógico?
São as experiências emocionais positivas, como alegria, trabalho em equipe e atividade criativa, pontos que nortearam a concepção do currículo central. Colocamos mais ênfase em novos ambientes e métodos de aprendizado. O entendimento tradicional é que o aprendizado acontece na escola, sentado em mesas escolares, mas queremos aproveitar os outros ambientes virtuais ou físicos, internos ou externos. No geral, pretendemos garantir um equilíbrio entre assuntos teóricos, de artes, ofícios e ciências. Damos atenção especial ao desenvolvimento pessoal diversificado e ao bem-estar das crianças.

Como é o apoio individual para que cada aluno se desenvolva de acordo com sua personalidade?
Instrução individualizada significa apoiar estudantes de alto e baixo desempenho ao mesmo tempo. Cada criança e jovem tem o direito de receber ensino de alta qualidade, independentemente de sua aptidão inicial. Fornecemos suporte especial e orientação assim que necessário. Formas comuns de apoio incluem ensino corretivo em pequenos grupos e orientação individual. Os alunos com dificuldades de aprendizagem menores ou médias vão para as mesmas escolas e salas de aula que os outros, mas depois as escolas recebem recursos adicionais. A ideia norteadora é a de que ninguém deve ser deixado para trás.

E a educação brasileira, a senhora conhece?
Tive a chance de visitar o Brasil algumas vezes. A abertura e o calor que os brasileiros demonstram em relação às outras pessoas são impressionantes. Em geral, penso que todos os países podem ganhar trocando ideias e políticas por trás dos vários sistemas e práticas educacionais. Sempre estivemos dispostos a acolher boas ideias de outros povos e transformá-las em algo que se encaixe e complemente nosso sistema.

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Autor

Eduardo Marini


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